Segundo a FAO, 7 países na Ásia e na África
concentram
2/3 dos subnutridosO número de pessoas subnutridas no mundo teve a primeira queda em 15
anos no último ano, de 1,023 bilhão para 925 milhões, segundo
um relatório divulgado nesta terça-feira pela Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO).Segundo a organização, a queda nos números absolutos de
subnutridos em 2010 é consequência, em grande parte, da expectativa
de retomada do crescimento da economia, particularmente em países em
desenvolvimento, e da queda no preço de alimentos desde meados de 2008.Mas embora tenha havido uma redução de 98 milhões de pessoas,
ou 9,6%, no total de subnutridos, o número continua “inaceitavelmente
alto”, segundo a organização. “Ainda que tenha ocorrido
um esperado declínio, o primeiro em 15 anos, quase 1 bilhão de
subnutridos no mundo continua sendo um número alto demais e acima do
objetivo estabelecido pelas metas do milênio, que era de reduzir pela
metade o número de vítimas da fome no mundo até 2015”,
diz o relatório, apresentado na sede da FAO, em Roma.As metas do milênio, estabelecidas pela ONU ao final do século
passado, previam que a proporção de pessoas subnutridas caísse
dos 20% do período 1990-1992 para 10% em 2015, não superando 400
milhões de pessoas.Brasil
As últimas estatísticas disponíveis indicam que têm
sido feitos alguns progressos no sentido de alcançar as metas do milênio.
De um percentual de 20% de desnutridos no período de 1990/1992, passou-se
para 16% em 2010, conforme o organismo.Com base nos últimos dados completos disponíveis, a partir de
2005-07 vários países alcançaram ou estão prestes
a alcançar o objetivo de reduzir a fome pela metade, entre eles o Brasil.Segundo a FAO, a queda do número de subnutridos deve-se a uma tendência
positiva da economia em 2010, sobretudo nos países em desenvolvimento,
e à queda dos preços dos alimentos em comparação
com o pico registrado em 2008.De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional, citados no documento
da FAO, a renda está crescendo mais rápido nas economias emergentes
do que nos países desenvolvidos. Paralelamente, houve uma queda no preço
dos cereais e dois anos consecutivos de recordes de safras.O FMI prevê um crescimento da economia mundial de 4,2% neste ano, após
uma contração de 0,6% no ano passado.Concentração
Conforme as estimativas da FAO, 98% das pessoas subnutridas vivem em países
em desenvolvimento, representando cerca 16% da população. Dois
terços vivem em apenas sete países: Bangladesh, China, República
Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia
e Paquistão. Mais de 40% vivem na China e na Índia.As regiões com a maioria das pessoas desnutridas são a Ásia
e o Pacífico, com 578 milhões. Estas regiões também
registraram o maior declínio da desnutrição em 2010: 80
milhões.Na América Latina e no Caribe, a FAO estima o número de subnutridos
em 53 milhões. A África subsaariana foi a região com a
maior prevalência de desnutrição, registrando 30% e um declínio
em 2010 de 12 milhões.Riscos
As estimativas para 2010 indicam que o número de pessoas subnutridas
irá diminuir em todos os países e regiões do mundo, embora
com um ritmo diferente.E a instituição alerta para os riscos de ainda existir um número
elevado de desnutridos. “O fato de quase 1 bilhão de pessoas continuarem
a passar fome indica um aprofundamento estrutural do problema que ameaça
gravemente a capacidade de atingir as metas concordadas internacionalmente para
a redução do problema”, diz o relatório.Segundo a FAO, para combater as causas da fome os governos devem investir mais
na agricultura, expandir redes de segurança e programas de assistência
social, reforçar atividades que geram renda para as áreas rurais
e urbanas mais pobres e criar mecanismos adequados para lidar com situações
de crise e proteger as populações mais vulneráveis.
Para a ActionAid, Brasil deveria investir mais na
agricultura em pequena escalaPelo 2º ano, Brasil lidera ranking de combate à fome
O Brasil lidera, pelo segundo ano consecutivo, um ranking da ONG ActionAid
que mede o progresso de países em desenvolvimento na luta contra a pobreza.O novo ranking foi divulgado nesta terça-feira no relatório Who’s
Really Fighting Hunger? (Quem realmente está combatendo a pobreza?),
em que a ONG analisa os esforços em 28 países para combater o
problema.A ONG considerou o desempenho dos países em categorias como presença
de fome, apoio à agricultura em pequenas propriedades e proteção
social. O Brasil é seguido por China e Vietnã. Em último
na lista está a República Democrática do Congo.Pequenas propriedades
Como em 2009, a ActionAid elogia as políticas sociais adotadas pelo
governo federal para reduzir a fome no país, destacando os efeitos benéficos
de programas como o Bolsa Família e o Fome Zero.Entretanto, o relatório destaca o pequeno avanço do Brasil, em
relação aos demais países emergentes estudados, na adoção
de políticas de incentivo à agricultura em pequenas propriedades.Nesse quesito, o documento coloca o Brasil na 26ª posição
entre os 28 analisados, à frente apenas da República Democrática
do Congo (27º colocado) e de Guatemala (28º).“O governo (brasileiro) começou a investir muito mais na agricultura
em pequenas propriedades. Entretanto, ainda há um longo caminho para
acabar com a fome e reagir às imensas desigualdades históricas
que existem entre os pequenos e grandes produtores”, diz o relatório.“O Brasil tem tido a tendência de concentrar seu investimento em
agrobusiness, o que contribuiu para a concentração de terras nas
mãos de um pequeno número de pessoas.”“O governo brasileiro (…) precisa evitar a promoção de
biocombustíveis às custas da segurança alimentar, pois
a expansão dos biocombustíveis está elevando o preço
da terra e transformando plantações em combustível”,
diz o texto.Prejuízo
O relatório da ActionAid também destaca que a fome causa um prejuízo
anual de US$ 450 bilhões para os países mais pobres.Segundo a ONG, dos 28 países emergentes analisados no relatório,
apenas oito estão a caminho de conseguir cumprir, no prazo previsto,
as metas de desenvolvimento do Milênio da ONU para a redução
da fome. As metas preveem que, em relação aos níveis de
1990, os países diminuam pela metade o número de pessoas subnutridas
e de crianças que estão abaixo do peso ideal até 2015.“Lutar contra a fome agora vai custar dez vezes menos do que ignorar
o problema. (Por causa da forme), todos os anos, a redução da
produtividade dos trabalhadores, os problemas de saúde e a oportunidade
perdida de buscar educação resultam num custo de bilhões
para os países pobres”, disse a presidente da ActionAid, Joanna
Kerr.Créditos: BBC Brasil