Home EstudosSala de AulaBiologia Vertebrados: 1. Instinto animal pode salvar vidas humanas

Vertebrados: 1. Instinto animal pode salvar vidas humanas

by Lucas Gomes

Vistos apenas como ferozes predadores, a ciência descobre agora que os
tubarões prevêem desastres naturais e podem salvar vidas humanas.

Na costa da Flórida, 14 tubarões fugiram para águas profundas
12 horas antes de o furacão Charley atacar a região.

Eles são considerados os reis dos mares, sobretudo porque sobrevivem
como ferozes predadores – mas nem tudo neles é destruição.
Podem ajudar, por exemplo, a salvar vidas humanas diante da iminência
de catástrofes naturais. Os tubarões freqüentam atualmente
o universo de pesquisa de biólogos de todo o mundo que buscam compreender
as suas inúmeras habilidades. A pesquisadora britânica Lauren Smith
realizou uma série de experimentos no Centro Hiperbárico Nacional
em Aberdeen, na Escócia, e na semana passada veio à tona uma nova
e surpreendente revelação: os tubarões acusam em seus corpos
mínimas mudanças na pressão atmosférica, mudanças
que são, por sua vez, os sinais da natureza sobre eventuais furacões
e terremotos.

De tão minucioso, preciso e sincronizado, o organismo de um tubarão
parece ter sido construído num laboratório de alta tecnologia.
A sua visão é de longo alcance, podendo observar uma presa nitidamente
a três metros de distância ou, com menor grau de definição,
a 15 metros. Isso ocorre graças a uma camada refletiva em seus olhos
que permite um aproveitamento superior da luminosidade em locais com pouca luz,
como águas turvas ou profundas. O olfato é extremamente apurado,
identificando substâncias muito diluídas na água, como o
corpo de um animal em decomposição a meio quilômetro de
distância. Quanto à pele, o tubarão possui escamas que lhe
dão um deslizamento na água de aproximadamente 40 quilômetros
por hora (é a velocidade média de um jet ski). Está em
sua audição, no entanto, a chave para operações
de prevenção e salvamento de milhares de pessoas diante de catástrofes
naturais. “É incrível a percepção de perigo
desses animais. Em um dos furacões que destruíram a costa da Flórida,
eles migraram cerca de 12 horas antes para águas profundas”, diz
Lauren.


A bióloga Lauren Smith monitorou
os tubarões de perto

O caso mais famoso que comprova essas pesquisas no campo da biologia envolveu
o monitoramento de 14 tubarões da espécie galha-preta, eletronicamente
marcados. Eles migraram de seu habitat, em Sarasota, nove horas antes de o furacão
Charley atacar a região. Mantiveramse afastados das áreas de risco
por mais de duas semanas e só então retornaram. O fato intrigou
a bióloga Lauren, que passou a comandar incansáveis monitoramentos
para entender como os tubarões funcionam como sismógrafos. “A
resposta está na audição, que é sensível à
pressão atmosférica”, diz ela. “Ainda no núcleo
do planeta, o tremor de terra gera um tipo de pressão que eles entendem
como alerta de perigo.

Parte das pesquisas foi realizada em uma câmara de altitude. Em seu interior,
as mudanças de pressão imitaram as alterações verificadas
dentro e fora do oceano diante de frentes e massas de ar quente. Outra parte
do estudo monitorou o movimento de tubarões selvagens com receptores
acústicos e aparelhos GPS (sistema de posicionamento global via satélite)
na Estação de Campo Biológica de Bimini, nas Bahamas. “Ficou
claro que o ouvido dos tubarões é semelhante ao dos humanos, tanto
que sente mudanças de pressão
“, diz Lauren. “Nos
animais, no entanto, há um nervo especial que comunica ouvido e cérebro,
levando as informações sobre pressão atmosférica.
O tubarão usa então esse mecanismo como sistema de alerta sobre
mudanças no tempo
.”

Diversos cientistas concluíram que a complexidade de seu formidável
organismo se deve ao fato de sua morfologia não ter sofrido alterações
nos últimos 60 milhões de anos – fenômeno raro no reino
animal. Qual o motivo de essa espécie estar há tanto tempo imune
a mutações? A resposta a essa questão recai principalmente
em seus sensores naturais na região frontal do corpo e na impressionante
e acurada audição: são superpoderes que protegem os tubarões
das ameaças do meio ambiente, ainda que tal proteção seja
exercida intuitivamente com extrema agressividade. Eles são capazes de
sentir o cheiro de uma única gotícula de sangue, por exemplo,
em meio a uma piscina olímpica, e percebem à distância o
batimento cardíaco de uma presa.

Os maiores predadores do mar serão também testados em outras
pesquisas. Os governos de países que constantemente são castigados
com desastres naturais estão interessados no monitoramento de tubarões
na tentativa de impedir milhões de mortes, como aconteceu em dezembro
de 2004 quando um tsunami varreu parte da Indonésia. Os únicos
seres que saíram ilesos dessa tragédia, segundo os biólogos
que trabalharam no local, foram os animais.

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