Esta cantiga de Paio Soares de Taveirós é considerada o mais antigo texto escrito
em galego-português: 1189 ou 1198, portanto fins do século XII. Uns a tomam
por cantiga de amor; outros por de escárnio. Estaria completa? Segundo consta,
foi dedicado a D. Maria Paes Ribeiro – apelidada “A Ribeirinha”, amante
do rei D. Sancho I – e pertence a uma coleção de textos arcaicos denominada
Cancioneiro da Ajuda.
“No mundo nom me
sei parelha,
mentre me
for’ como me vai,
ca ja moiro por
vos – e ai
mia senhor branca
e vermelha,
queredes que vos
retraia
quando vos eu vi
em saia!
Mao dia que me
levantei, que vos enton nom vi fea! “
No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a minha vida
continuar como vai / porque morro por ti e ai / minha senhora de pele alva e
faces rosadas, / quereis que eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem
manto (saia : roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não vos vi feia (ou
seja, viu a mais bela).
“E, mia senhor,
des aquel di’ , ai!
me foi a mim muin
mal,
e vós, filha de
don Paai
Moniz, e ben vos
semelha
d’aver eu por vós
guarvaia,
pois eu, mia
senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve
nem ei
valia d’ua correa”.
E, minha senhora, desde aquele dia, ai / tudo me foi muito
mal / e vós, filha de don Pai / Moniz, e bem vos parece / de ter eu por vós
guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) / pois eu, minha senhora, como mimo (ou
prova de amor) de vós nunca recebi / algo, mesmo que sem valor.