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Melhores poemas, de Mário Quintana

by Lucas Gomes

Mário Quintana recusava a ser enquadrado em qualquer escola literária.
Cronologicamente, poder-se-ia classificá-lo como pertencente ao terceiro
tempo modernista. Mas, sua poesia crescia sob o clima da década de 30 (segundo
tempo modernista) no plano da literatura gaúcha. Herdou o sincretismo da
belle époque. Momento que confluíram a vertente simbolista
(pelo conteúdo) e a vertente parnasiana (pelo estilo).
Nas brumas do Simbolismo, Mário Quintana buscou sublime inspiração.
Onde encontra o gosto e a técnica pelos poemas em prosa. Trilhando os
passos poéticos de seus mestres: Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud,
Verlaine, Verhaeren, Rollinart e Antônio Nobre. Deste útimo recebeu
maior e notória influência. Revisitando o monte Parnaso, Quintana
ressuscitou o formalismo assassinado pelos modernistas de 22, resgatando o culto
ao soneto e a outras formas fixas.

Mário Quintana é conhecido como poeta da ternura. Os temas simples
e singelos eram refinados ainda mais sob a pena lírica poeta. Os mais
frequentes são: valorização da imaginação,
o sonho, a fantasia, o devaneio, o encanto, o misticismo, a humanidade, a existência,
o carinho, o aconchego, a pureza, a canção e o mundo infantil
(escapismo da realidade).

Outra musa inspiradora do autor foi a própria poesia. E a metalinguagem
recitou versos sob a voz do grande poeta Mário Quintana. Sua poesia é
a humanidade posta em verso. Daí seu humor não apresentar o traço
racional, intelectualizado, mas aproximar-se de uma visão chapliniana
do mundo, não distanciada da que teria o homem comum.

Temática dos poemas:

• tristeza das coisas

• morte

• infância (Alegrete)

• progresso

• Porto Alegre

• Ironia do cotidiano

Características do autor:

• individualismo

• pureza

• profundo humanismo

• finíssimo senso de humor

• poesia epigramática

• musicalidade

• intimismo

• pureza

• nostalgia da infância

• simplicidade

• liberdade poética

• cromatismo.

Em Recordo Ainda… Para Dyonélio Machado, vemos os temas INFÂNCIA
e MORTE:

Recordo ainda…E nada mais me importa…
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, na lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta…

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança…

Estrada afora após segui…Mas ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino…acreditai…
Que envelheceu, um dia, de repente!…

Não é à toa que Mario Quintana é considerado por
muitos como um poeta de romantismo tardio. Seus versos por vezes recuperam as
paisagens da infância perdida, unindo, vias lembrança, o velho
ao menino, aquilo que o tempo distanciou. Tema nostálgico, ao gosto romântico.

Recordo ainda…, quanto à métrica é versos decassílabos,
rimas interpoladas e alternadas, com recursos do soneto clássico, com
referências simbolistas e românticas (= Meus oitos anos,
de Casimiro de Abreu) e o assunto central: a idealização da infância
como a época mais bela da vida do poeta.

Em O Mapa vemos a temática PORTO ALEGRE, o amor à cidade
que o acolheu, com descrição minuciosa de um olhar de poeta, acentuado
regionalismo, tempo – cotidiano.

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo…

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei…

Há tanta esquina esquisita.
Tanta nuança de paredes.
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
que nem em sonhos sonhei…)

quando eu for, um dia desses,
poeira ou folha levada
no vento da madrugada.
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar.
Suave mistério amoroso.
Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…

Em Ritmo, o tempo é o cotidiano, a linguagem é simples
e os versos são livres:

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate a roupa
bate a roupa
bate a roupa

até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Em Poema de Circunstância, a temática é o progresso
causando a desumanização, acabando com a natureza exuberante do
lugar. O eu-lírico luta contra a era moderna: a massificação,
cidades grandes, a vida agitada, com o olhar de um condenado (pessimismo). Os
versos são irregulares e não há rimas:

Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O arranha-céu comeu!
E ainda falam nos mastodontes, nos brotossauros, nos tiranossauros,
Que mais sei eu…
Os verdadeiros monstros, os papões, são eles,os arranha-céus!

Daqui
Do fundo
Das suas goelas,
Só vemos o céu, estreitamente, através de suas
Empinadas gargantas ressecas.
Para que lhes serviu beberem tanta luz?
De fronte
À janela aonde trabalho…
Há uma grande árvore…
Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore muito verde…Ah,
Todos os meus olhares são de adeus
Como o último olhar de um condenado!

Créditos: Equipe Feranet21

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