O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
, é
o poema XX de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro.
Percebe-se neste texto a importância dada às coisas concretas
porque elas não fazem pensarem nada, como o próprio poeta afirma
nos dois últimos versos.
O estilo simples de Alberto Caeiro revela-se por meio da repetição
e do paradoxo, presentes nos dois primeiros versos. Como entendê-los se
um parece negar o outro? Nesses versos, há uma contradição
aparente, efeito do paradoxo. Aparente porque se pode dizer que o primeiro verso
expressa uma afirmação de caráter geral não endossada
pelo poeta.
No segundo verso, temos uma afirmação particular do poeta, para
quem o rio de sua aldeia é mais belo por estar próximo dele, o
que lhe possibilita uma experiência concreta e direta. O Tejo, por sua
vez, é uma realidade distante dele.
Poema na íntegra:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Créditos: Prof. Valdir Ferreira, Colégio Lúmen