Em Na venda do meu pai, Luiz de Paula apresenta-nos relatos, histórias, “causos”, primorosamente
construídos, em que adivinhamos a simpatia do narrador pelas coisas e fatos simples e triviais, pelo
homem interiorano comum e naturalmente cheio de sabedoria.
A obra é uma receita de bem viver, doce lembrança, sonhos de amor-menino, dose quase
divina de fruída saudade de quem sempre soube e sabe viver. Este livro traz em todas as suas páginas –
mesmo nas ditas de ficção – um conteúdo de humanismo dos melhores que a literatura já teve.
A obra nos familiariza com tipos humanos diversos em cenas revividas pela prodigiosa memória do adulto
de hoje que retorna a seu tempo de menino na venda do pai.
Era lá, naquele universo, que ele via, ouvia e percebia os fatos, os seres, as sutilezas que transporia
para essa obra tão rica de conteúdo humano.
O texto de Luiz de Paula é agil, vigoroso; a linguagem extremamente rica e pitoresca; a trama permeada
de leveza, bom humor, de constatação sincera e cativante de fatos pessoais e da vida simples das gentes
de Várzea da Palma e de Montes Claros da primeira metade do século XX.
A obra Na venda de meu Pai apresenta o tom regionalista pitoresco e leve, pincelado de humor e
reminiscências de uma época antiga, amorosamente guardada e escrita. É, em síntese, um registro de uma época, um retrato de pessoas e paisagens de nossa região
primorosamente apresentado pelo autor – narrador e personagem que, com indevida modéstia diz que se
serve das horas noturnas em que lhe falta o sono “para rabiscar lembranças”.
Não são rabiscos e tampouco “minguado produto” o que se encontra em Na venda do meu pai; pelo
contrário, encontra-se o produto de alguém com argúcia e sensibilidade para perceber o fascínio da vida
por trás dos pequenos fatos do dia-a-dia.
A leitura da obra é uma oportunidade ímpar de conhecer esse tempo de outrora que
se materializa aos olhos do leitor jovem ou que se reconstrói aos olhos do leitor
mais vivido.