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Nelson Rodrigues

by Lucas Gomes

Nelson Falcão Rodrigues nasceu da cidade do Recife – PE, em 23 de agosto de 1912 – quinto filho dos catorze que o casal Maria Esther Falcão e o jornalista Mário Rodrigues puseram no mundo – e foi o mais importante autor do teatro brasileiro contemporâneo.

Seu pai, deputado e jornalista do Jornal do Recife, por problemas políticos resolve se mudar para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar como redator parlamentar do jornal Correio da Manhã. Haviam vendido tudo no Recife para cobrir as despesas de viagem, e tiveram que ficar hospedados na casa de Olegário Mariano por algum tempo.

Aos sete anos começou a desenvolver sua veia literária na Escola Prudente de Moraes, na Tijuca, Zona Norte do Rio, quando a professora da turma criou um prêmio para a melhor redação. Dois alunos dividiram o primeiro lugar. Um deles redigiu uma história inspirado nas mil e uma noites, baseada na aventura de um rajá e seu elefante. O outro pequeno, um magrinho vindo de Recife, descreveu a desgraça de um marido traído que esfaqueou a mulher ao flagrá-la com o amante em sua própria cama. Como o autor relata, foi a partir deste momento que “nasceu” Nelson Rodrigues.

Em agosto de 1916 alugaram uma casa na Aldeia Campista, bairro da Zona Norte da cidade, na rua Alegria, 135, onde a família Rodrigues teve seu primeiro teto na cidade.

Foi em 1919 que o autor descobriu o Fluminense. Foi o primeiro ano do tricampeonato do tricolor, muito embora nem ele nem seu irmão Mário Filho, posteriormente famoso como jornalista esportivo e que teve seu nome escolhido para ser o nome oficial do estádio do Maracanã, tivessem dinheiro para sair da rua Alegria e se deslocarem até Laranjeiras para ver o seu time jogar.

A tosse seca e uma febre baixa, porém persistente, ao pôr do sol, foram os avisos dados a Nélson, além de sua magreza. Sua irmã Stella, já médica, arranjou uma consulta. O médico pediu que ele dissesse “33” e verificou sintomas de tuberculose pulmonar, o grande fantasma do ano de 1934.

O problema da tuberculose, a morte do pai, uma irmã morta aos oito meses, o irmão Paulo que morreu num desabamento, as amantes, a miséria, um filho preso e torturado pelo regime militar – cujas diretrizes ele defendia – fizeram com que o dramaturgo adotasse um processo de criação cujas linhas enfatizam um ambiente mórbido, pessimista e descrente da vida.

Nelson considerava-se um conservador, mas foi um dos mais censurados teatrólogos brasileiros. Revolucionário com sua obra, deixou a marca de seu talento, hoje referência para muitos escritores e escola para dramaturgos. Um homem com personalidade forte, torcedor eufórico do Fluminense Futebol Club, uma de suas paixões.

Gênio, louco, tarado, revolucionário. Estas são apenas alguns adjetivos lançados sobre o dramaturgo Nelson Rodrigues, homem polêmico que inovou o teatro brasileiro e mexeu com toda a estrutura da dramaturgia da época. Suas peças eram, e ainda são, modernas demais para as comédias que o brasileiro estava acostumado a assistir. Tratando de paixões exacerbadas e gestos exagerados, obsessões, taras, incestos e conflitos, Nelson Rodrigues pode ser considerado o primeiro dramaturgo brasileiro a levar o inconsciente das personagens para o palco.

Desde que se lançou como dramaturgo, com A Mulher sem Pecado, causou polêmica e dividiu opiniões. Mudou de estilo, tentou fazer graça com suas tragédias, apostou todas as fichas em dramas míticos, mas não adiantou. Nelson continuou chocando boa parte da crítica e dos brasileiros. Ainda assim seu teatro repleto de significados é atualmente um dos únicos que fazem com que os estrangeiros se lembrem que o Brasil também tem palco.

Nelson Rodrigues modernizou o palco brasileiro com a autoria da peça Vestido de Noiva, estreada em 1943. A montagem do diretor polonês Ziembinski e a cenografia do pintor Santa Rosa foram fundamentais, também, para o processo de modernização.

Os três planos do texto – realidade, memória e alucinação – privilegiaram o subconsciente da heroína, novidade num teatro que ainda se movimentava na psicologia tradicional. A Mulher Sem Pecado (1941), que lançou o autor, já estava prestes a romper a censura do consciente. Se Vestido de Noiva é a projeção exterior da mente da protagonista, o monólogo Valsa nº 6 (1951) incorpora o mundo exterior ao desempenho da heroína, que encarna em cena as personagens de seu convívio. São ainda exemplos de peças psicológicas Viúva, Porém Honesta (1957) e Anti-Nelson Rodrigues (1973), mais aparentadas objetivamente à biografia do dramaturgo.

Às duas primeiras obras psicológicas sucedeu a fase que se poderia denominar mítica, porque privilegia o inconsciente coletivo, os arquétipos, os mitos ancestrais. Figuram nela Álbum de Família (1945), explosão do incesto num núcleo primitivo; Anjo Negro (1946), abertura da ferida racial; Senhora dos Afogados (1947), transposição da Oréstia, de Ésquilo e de O Luto Assenta a Electra, de O’Neill; e Dorotéia (1949), tragédia do pecado contra o amor, transmitida por várias gerações femininas.

Esgotada a incursão no inconsciente e estimulado pelo êxito popular dos contos-crônicas de A Vida Como Ela É..., publicados diariamente na imprensa, Nelson Rodrigues procedeu a uma síntese das peças psicológicas e das míticas, ainda que as fronteiras das várias fases nunca se mostrassem muito nítidas e funcionem sobretudo para fins didáticos. Surgiram, assim, as tragédias cariocas, bloco mais numeroso e compacto da dramaturgia rodriguiana, formado por A Falecida (1953), Perdoa-me por me Traíres (1957), Os Sete Gatinhos (1958), Boca de Ouro (1959), O Beijo no Asfalto (1961), Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas Ordinária (1962), Toda Nudez Será Castigada (1965) e A Serpente (1978).

Nas tragédias cariocas fundem-se, em geral, a realidade, freqüentemente vinculada à Zona Norte do Rio, e o mundo interior das personagens, com suas fantasias nutridas de mitos. O prosaísmo das vidas truncadas, maltratadas por um cotidiano infeliz, se resgata pela presença sempre vigorosa da transcendência, dando ao destino humano um sentido superior.

Nelson Rodrigues faleceu aos 68 anos de idade, na manhã do dia 21 de dezembro de 1980, um domingo, vítima de insuficiência vascular cerebral, após ter sofrido sete paradas cardíacas.

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