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O Aprendiz de Feiticeiro, de Mário Quintana

by Lucas Gomes

Considerado pelo público e pela crítica, a obra-prima de Mário Quintana, O Aprendiz de Feiticeiro, publicado em 1950, mostra a maturidade poética do autor. Uma simples plaquete, mas de grande repercussão, onde afloram poesias impregnadas de antíteses e paradoxos.

“A lição da poesia ultrapassa o projeto do simples desvelar e esclarecer o mistério do mundo e dos homens. Guarda sempre intacto um ângulo indecifrável que oculta e com o qual recomeça a lúdica aprendizagem simbólica da face escondida com que, feiticeiro, o poeta nos atrai e onde nos deixamos prazeirosamente enclausurar”, escreveu Maria Luiza Berwanger da Silva sobre a obra.

Em O aprendiz de feiticeiro, Mário Quintana mantém a visão surreal em poemas de versos livres; neles a imagética do autor adquire uma feição hermética, exibindo estranhas visões oníricas, e mais uma vez configura-se o princípio segundo o qual a sua poesia, não obstante pareça nascer de algum lugar remoto, longínquo, origina-se daqui mesmo, sobretudo quando procura fazer do estranho o familiar, do distante o próximo.

Textos escolhidos

I. O POEMA

Um poema como um gole d’água bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna.
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido de mortal beleza.

II. OBSESSÃO DO MAR OCEANO

Vou andando feliz pelas ruas sem nome…
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano…
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas… e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral…
Búzios calçando portas… caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos…
Nisto, Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su’alma perdida e vaga na neblina…
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos…
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas…
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

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