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O Bobo, de Alexandre Herculano

by Lucas Gomes

O Bobo

é um romance histórico de Alexandre Herculano, publicado
inicialmente em “Panorama” em 1843 e editado postumamente em volume, apenas em
1878. O autor situa a narração no ano de 1128, dias antes da batalha de S. Mamede
que opôs o exército de D. Afonso Henriques ao da sua mãe D. Teresa. Assim podemos
assistir às tramas medievais e à estratégia usadas por ambos os exércitos, assim
como sabemos o porquê do ódio que D. Afonso Henriques nutre pelo conde Peres de
Trava, amante da mãe.

Nisto tudo, um homem tem um papel fundamental, alguém que todos menosprezam, alguém que aparentemente nada
valia: D. Bibas, o Bobo da corte.

Em O Bobo as personagens históricas são relegadas para segundo plano e
a enfâse é colocada em D. Bibas. É ele quem põe em relevo a importância
de valores como a lealdade e a liberdade individual (D. Bibas recusa ser “escravo”
de Fernando Peres de Trava, o qual, ao longo do romance, é objeto principal das
suas graças). É, aliás, sintomático que Herculano sinta a necessidade de sublinhar
que “A história não conheceu D. Bibas” (Herculano 1992b:178). É através das ações
deste último, principalmente quando facilita a fuga dos aliados de Afonso Henriques
pela passagem subterrânea que só ele conhece (Herculano 1992b:137-38), que o leitor
é convidado a refletir sobre o papel que pode vir a desempenhar na História do
seu país. A importância dada a D. Bibas não impede, no entanto, que Herculano
pinte em detalhe a época em que os acontecimentos narrados tiveram lugar, mas
antes facilita ao leitor o contato com a História.

Alexandre Herculano, chefe da Torre do Tombo e com um acesso privilegiado aos fatos históricos, escreve um
romance espantoso, cheio de luz e ironia.

A história toda se passa no castelo de Guimarães ou nos seus arredores. O período é o da independência de
Portugal e gira em torno dos antecedentes e dos acontecimentos da batalha de Aljubarrota.

Apesar de não serem enfatizados, como já visto, a trama se sustenta
sobre os personagens históricos: D. Tereza está recebendo em seu castelo a Fernando
Peres, conde de Trava, com quem deve contrair matrimônio, porém, o filho, D. Afonso
Henriques é contra a presença de Fernando Peres por considerá-lo usurpador e tirano.

Dulce, uma das sobrinhas de D. Tereza tem uma paixão secreta por Egas Moniz, cavaleiro
pobre que luta ao lado de Afonso Henriques.

No castelo existe um temor de que se desenrole uma batalha envolvendo o conde de Trava, que tem a seu
dispor maiores e melhores tropas e Afonso Henriques, que tem o apoio de uns poucos nobres portugueses.

O Conde de Trava incentiva um jovem cavaleiro, Garcia Bermudez, a tentar desposar Dulce. Conta-se no
castelo que a paixão do jovem cavaleiro pela moça é notória, porém, a moça não dá esperanças aos apelos do
cavaleiro.

Dom Bibas é um bobo da corte que vive no castelo de Guimarães. Dom Bibas é repreendido
por ouvir conversas entre o Conde de Trava e o cavaleiro Garcia Bermudez, Dom
Bibas, inclusive, caçoa com seus versos o nobre. O bobo é mandado ser açoitado
e jura vingança. Após esse fato, ficamos sabendo que D. Bibas conhece uma passagem
secreta que dá para fora do castelo de Guimarães, por meio dela, manda avisar
a Afonso Henriques do que se desenrola no castelo. O Lidador, Gonçalo Mendes de
Maia, está do lado de Afonso Henriques e planeja uma forma de ajudar o desafiante
ao poder do Conde de Trava. Egaz Moniz, que estava com a tropa de Afonso Henriques
vindo em direção do castelo de Guimarães trazendo uma mensagem de paz. Porém,
o Conde de Trava ignora o pedido de paz e prende o emissário. Dulce ao saber da
prisão do amado, consegue falar-lhe, porém, conta que para que o cavaleiro amado
ficasse vivo fora obrigada a se casar com Garcia Bermudez. Egas Moniz não aceita
a explicação e se considera traído no amor. Dom Bibas faz ver a Egaz Moniz – este
desejoso de vingança – que seria melhor fugir pela passagem secreta e depois da
batalha poderia vingar-se de Garcia Bermudez.

Não existe propriamente a narração da batalha no romance. A narrativa retoma já depois de ocorrida a
batalha entre Afonso Henriques e Fernando Peres. Explica-nos o narrador que a vitória fora de Afonso
Henriques e que nessa batalha Egaz Moniz matara Garcia Bermudez. Dulce, porém, não aprova a violência
daquela morte, por entender que Egaz Moniz se tornara um homem violento e desejoso de vingança e então a
jovem se mata. Egaz Moniz, depois, retira-se levando vestindo-se com as roupas de um frade. Dias depois,
Egas Moniz aparece morto, vestido de frade sobre o túmulo de Dulce.

Dom Bibas viverá no castelo de Guimarães na corte de Afonso Henriques dias de tranqüilidade, uma vez que
um dos grandes trunfos na batalha, fora a entrada secreta pela qual vários soldados de Afonso Henriques
puderam passar.

As personagens do drama amoroso (Egas Moniz, Dulce e Garcia Bermudez) bem como o próprio Dom Bibas são
personagens ficcionais. Um outro personagem que aparece na história é o jovem cavaleiro Tructesindo, que
embora tenha um papel secundário, será relembrado por Eça de Queirós em A Ilustre Casa de Ramires.
Outro personagem secundário é o Frei Hilarião, que morre de tanto comer.

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