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O Brasil sob os olhos da América

by Lucas Gomes

Com metade do PIB do continente e uma extensão territorial que lhe garante fronteira com dez dos seus 12 vizinhos, o Brasil é visto na América do Sul como um potencial líder da região. Mas essa liderança brasileira, intencional ou não, é considerada apenas uma promessa.

Eu acho que o Brasil tem o papel de grande integrador“, diz o ministro do Exterior do Peru, José António Garcia Belaunde, que acrescenta: o país “poderia fazer mais (…) com mais iniciativa e, obviamente, mais investimento“.

As palavras do ministro peruano sintetizam um sentimento generalizado. Há quem considere difícil o Brasil aumentar sua influência regional, mas é comum a opinião de que a maior potência sul-americana deveria fazer mais pelo continente, idéia defendida pelo ex-ministro da Defesa colombiano Rafael Pardo.

Francamente (as aspirações de liderança brasileira), deveriam ser mais ativas. A idéia da união sul-americana ficou débil, o Brasil parece ter perdido o entusiasmo em relação a essa idéia, e acho que é necessário entusiasmo para a América do Sul ter um processo de integração mais dinâmico do que o tem tido até agora“, avalia.

A posição de liderança e a própria necessidade de um líder regional são ainda tabus para o governo brasileiro. Em 2003, no início do seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em um discurso diante de novos diretores da hidrelétrica de Itaipu, que o continente pedia por uma liderança vinda de Brasília. “É impressionante como todos esses países estão quase a exigir que o Brasil lidere a América do Sul.

Mas a frase causou um certo mal-estar, já que, desde que começou a trabalhar por um projeto de integração sul-americana, no início dos anos 90, a diplomacia brasileira tem negado uma intenção explícita de liderar a região – uma idéia que poderia desagradar a vizinhos e atrapalhar o processo. Hoje o próprio Lula evita qualquer menção a uma liderança brasileira e sempre que pode repete que a América do Sul “não precisa de um líder“.

Porém o fato é que a maior parte das nações sul-americanas continua a ver o Brasil como o país com o maior potencial para promover a integração regional, apesar de considerar que tal potencial ainda não esteja sendo totalmente aproveitado.

Pilares

A integração sul-americana passa atualmente passa pela construção de dois grandes pilares: o econômico e o político. Do ponto de vista econômico, uma das questões que mais geram críticas ao Brasil é a relação comercial.

O mercado de consumo brasileiro é cobiçado por todos os vizinhos e apontado como um dos fatores que mais poderiam favorecer a união regional. No entanto, o Brasil ainda é um dos países mais fechados da região e mantém superávits comerciais com praticamente todo os outros países sul-americanos.

Em 1991, pensávamos que o nosso acesso a um mercado ampliado permitiria que várias empresas de outras partes do mundo se instalassem no Uruguai“, diz José Manuel Quijano, diretor da Comissão Setorial para Mercosul do Uruguai. “Mas isso não se concretizou.

Para Quijano, uma das explicações para a frustração uruguaia está na incerteza em relação ao acesso ao mercado brasileiro. Apesar de ter sustentado déficits com o Uruguai por vários anos desde o início da década de 90, o Brasil tem apresentado superávit com sua antiga Província Cisplatina desde 2004. Em 2006, o Brasil vendeu ao Uruguai quase o dobro do que importou: US$ 1 bilhão contra US$ 640 milhões.

Esse é um processo que se repete na relação com a maioria dos outros países. Hoje o Brasil vende quase dez vezes mais do que compra da Venezuela e quase cinco vezes mais do que importa da Colômbia. Desde problemas de regulamentação alfandegária até a barreira com a língua e a infra-estrutura são apontados como empecilho para se vender mais ao gigante vizinho.

Da ótica de vários especialistas, políticos e diplomatas de outros países da região, a balança comercial é apenas uma das faces do problema. Alguns acreditam que o Brasil não pode se dedicar mais à solução de problemas regionais por causa dos seus próprios desafios.

O dilema político do Brasil é que (o país) tem todas as condições para ser um líder regional e, em muitos casos, exerce essa liderança no nível político“, diz Dante Sica, presidente da consultoria argentina Abeceb, especializada nas relações entre os dois maiores países da região. “Porém o país não tem todos os atributos de um líder, porque tem muitos problemas internos.

Na opinião de Sica, tais problemas afetam a capacidade brasileira de investir na região. Para ele, é difícil para o Brasil tomar a decisão política de colocar a mão no bolso para acabar com assimetrias com alguns vizinhos menores. “Como Lula pode ajudar o Paraguai (…) e não dar dinheiro para o Nordeste?”, pergunta.

Como resultado, muitos vêem o Brasil como uma espécie de tigre sem dentes: uma nação que deveria colocar mais dinheiro nas estradas do Peru, pagar mais pela energia comprada dos vizinhos, ajudar em projetos de desenvolvimento sustentável no Equador, mas que não consegue, ou não quer, fazer isso.

Espaços vazios

Nessa espécie de vácuo deixado pelo Brasil, pela primeira vez desde o fortalecimento da idéia de integração um país passou a ocupar espaços na busca por liderança. Com os cofres cheios de petrodólares, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tem feito em relação a alguns países da região aquilo que o gigante do continente não consegue.

Acredito que Lula compreendeu apenas recentemente que não pode deixar o cenário latino-americano (e a América Sul) coberto somente pela vigorosa figura de Hugo Chávez”, afirma o ex-ministro do Planejamento venezuelano Teodoro Petkoff, opositor a Chávez.

Para ele, a capacidade do presidente da Venezuela de ameaçar a posição brasileira na integração regional é superdimensionada, especialmente pelos Estados Unidos. Mas ele acredita que o Brasil precisa se dedicar mais para servir de contraponto à posição de Chávez.

A dúvida de muitos é se Venezuela e Brasil disputam uma posição de liderança ou podem trabalhar juntos para o bem da região. Com a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, havia quem esperasse ou temesse uma maior aproximação entre os dois países.

Mas a mais recente crise política envolvendo Equador e Colômbia mostrou diferenças claras de ação entre Brasil e Venezuela: o governo brasileiro acionou sua diplomacia, enquanto Caracas mobilizou tropas.

O alívio da crise, obtido no âmbito de negociações na Organização dos Estados Americanos (OEA), também mostrou que o Brasil não é uma superpotência que pode impôr soluções sozinha, posição que o próprio governo brasileiro diz nunca ter buscado.

Além disso, na reunião do Grupo do Rio, que selou definitivamente o fim da crise, Lula não estava presente, tendo enviado o ministro Celso Amorim para representá-lo. Coube à argentina Cristina Kirchner e a Hugo Chávez o papel de mediadores na reunião de chefes de governo.

Confrontado com as demandas, o governo brasileiro cita o que considera sucessos e avanços na integração e na atuação brasileira na América do Sul. Dessa lista fazem parte a evolução, mesmo que lenta, da infra-estrutura física, a conclusão de acordos de livre comércio, a criação da Comunidade Sul-Americana das Nações, hoje Unasul, e a criação do Banco do Sul – uma proposta de Chávez abraçada com relutância pelo Brasil.

Aos críticos, a resposta brasileira é que uma integração continental não acontece rapidamente nem sem percalços. Mas inúmeras vozes na América do Sul dizem que, após quase duas décadas de esforços para integrar a região, a liderança brasileira, assim como a formação de um bloco sul-americano, continua no campo das promessas.

ARGENTINA

As relações entre Argentina e Brasil passaram por altos e baixos no último século e na opinião de muitos analistas os dois países estão mais próximos de seu ponto de equilíbrio e formam hoje uma parceria necessária para ambos.

Se no início do século passado a Argentina era considerada o país mais importante da América do Sul, atualmente é o Brasil que se destaca.

Um dos sinais da força da economia brasileira é a instalação de dezenas de empresas brasileiras na Argentina nos últimos 12 anos por meio de fusões, aquisições ou instalações próprias. Muitas entraram em setores importantes e simbólicos da economia argentina, como o energético e o de construção civil.

“Como diz (uma letra de) um tango, a Argentina tem de superar a lembrança de ter sido e a dor de já não ser”, afirma o presidente da consultora Abeceb, Dante Sica, que diz que está na hora de a classe politica e a sociedade argentina aceitarem que existe um novo líder na região, que é o Brasil.

Porém, nem todos vêem o Brasil como líder, entre eles o ex-ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna.

“É o país com maior peso do ponto-de-vista econômico e populacional, mas não vejo uma liderança natural. Acho que o Brasil entendeu há muitos anos que ele precisa da Argentina em sua relação com a América Latina”, disse o ex-ministro.

O olhar do povo

Apesar de se falar muito da rivalidade entre os dois povos, quando se conversa com os argentinos nas ruas de Buenos Aires a rivalidade realmente só aparece quando o assunto é futebol.

Todos os argentinos entrevistados nas ruas da capital portenha elogiaram o país vizinho e seu povo, apesar de expressarem uma visão bastante limitada do Brasil, baseada no estereótipo de festa, praias e mulheres bonitas.

Porém, quando se fala em futebol, o carinho pelo Brasil desaparece.

Há rivalidade, mas é saudável. Eles (os brasileiros) não querem que ganhemos e nós não queremos que eles ganhem. Mas faz parte do folclore do futebol“, afirma o vendedor Ignácio Contreras.

Assim como a maioria dos entrevistados, o saxofonista Xavier Tebelle não titubeou ao responder quem são os melhores: “A Argentina! Depois o Brasil!

As relações econômicas

• População: 39 milhões
• PIB: US$ 608 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 14 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 10 bilhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ – 4 bilhões

Em 1910, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo e seu Produto Interno Bruto (PIB) era o dobro do Brasil. Hoje, o PIB do Brasil é pelo menos três vezes maior do que o da Argentina.

A mudança de importância das duas maiores economias da América do Sul é verificada também na balança comercial entre os dois países: em 2007, o Brasil registrou o quinto ano consecutivo de superávit, com um saldo positivo de cerca de US$ 4 bilhões.

A presença brasileira na Argentina não se restringe às exportações. Dezenas de empresas do Brasil se instalaram no país vizinho por meio de fusões, aquisições ou instalações próprias.

Se no passado a enxurrada de produtos brasileiros gerou tensões entre os dois países, hoje ela não gera mais muitos problemas. A entrada na Argentina de alguns bens, como automóveis, respeita regras específicas para não prejudicar o mercado argentino e a aceitação de produtos brasileiros pela a população é maior.

URUGUAI

O Uruguai, país-sede do Mercosul e um dos quatro fundadores do bloco em 1991, amarga uma balança comercial extremamente desfavorável com o Brasil e com a Argentina e muitos uruguaios questionam os benefícios de o país permanecer no grupo.

Apesar de o governo uruguaio oficialmente já ter dito repetidas vezes que o país vai continuar no Mercosul, alguns integrantes da coalizão governista dizem que acordos bilaterais de comércio com países fora do bloco, como os Estados Unidos, seriam muito mais vantajosos para o Uruguai.

Os defensores do Mercosul, no entanto, argumentam que Brasil e Argentina já reconheceram as assimetrias do bloco com a criação do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), para o qual as duas economias grandes doam a maior parte do dinheiro, que é aplicada nas duas menores, Uruguai e Paraguai.

“Sigo acreditando que a melhor forma de negociar bons acordos com o resto do mundo é junto com os nossos vizinhos. E creio que é como teremos mais benefícios a longo prazo”, afirma José Manoel Quijano, diretor da Comissão Setorial para o Mercosul.

Esta discussão está bem longe da realidade vivida pela população na fronteira do Uruguai com o Brasil, onde a integração entre os dois países é bem mais abrangente do que as relações comerciais.

A cidade uruguaia de Rivera e a brasileira Santana do Livramento parecem dois bairros do mesmo município e a população atravessa livremente de um lado para o outro da fronteira.

O olhar do povo

Espremido entre a Argentina e o Brasil, o Uruguai tem um terço da população do Rio Grande do Sul e uma área menor do que a do estado brasileiro vizinho.

É assim que os uruguaios se sentem: pequenos ao lado do vizinho gigante, do qual eles se separaram há 180 anos com a ajuda da Argentina.

Hoje em dia, no entanto, poucos expressam ressentimentos em relação ao Brasil e há quem diga que o relacionamento com os brasileiros é muito melhor do que com os argentinos.

Pessoalmente, creio que a relação entre Uruguai e Brasil sempre foi boa, melhor do que a que os uruguaios têm com os argentinos, apesar de haver mais pontos em comum entre eles, começando pelo idioma“, diz o jornalista Bebe Marcini.

A língua, aliás, não parece ser uma barreira, já que muitos uruguaios entendem um pouco de português por terem viajado diversas vezes ao Brasil, ou mesmo terem parentes morando no país vizinho.

As relações econômicas

• População: 3 milhões
• PIB: US$ 37 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 1,2 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 786 milhões
• Saldo comercial com o Brasil: US$ -502 milhões

Desiludido com o Mercosul, que não trouxe os benefícios econômicos esperados pelo Uruguai, o país vinha dando alguns sinais de que pensava em sair do bloco.

O mais polêmico deles foi o Acordo Marco de Comércio e Investimentos (Tifa, na sigla em inglês) assinado com os Estados Unidos, que em muitos casos costuma ser um primeiro passo para a firmação de um tratado de livre comércio entre dois países.

O Brasil é o principal parceiro econômico do Uruguai, mas a balança comercial entre os dois países é extremamente desfavorável para o Uruguai: no ano passado ele registrou um déficit de cerca de US$ 500 milhões.

Nos últimos dois anos o Brasil também chegou ao Uruguai por meio de compra de empresas de importantes setores exportadores, como a indústria de carnes e de arroz.

PARAGUAI

O Brasil é visto com doses iguais de admiração e desconfiança pelo Paraguai. Os dois países estão ligados não apenas pela fronteira, mas pelo comércio e pela extensa comunidade brasileira que vive em território paraguaio, os chamados ‘brasiguaios’.

Uma convivência que, apesar de pacífica, exibe alguns pontos de tensão, considerados normais entre dois vizinhos tão próximos. Atividades ilícitas na região da fronteira, como contrabando, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, além do comércio de reexportação, são algumas das questões polêmicas nas relações bilaterais.

Os produtores brasileiros, que chegaram ao Paraguai na década de 70 e revolucionaram a agricultura local, introduzindo o cultivo da soja e técnicas modernas, também provocam tanto o reconhecimento por sua contribuição à economia quanto críticas por parte dos mais nacionalistas.

Entre os temas controversos, porém, nenhum tem mais destaque atualmente que a Usina Hidrelétrica de Itaipu, construída em parceria entre os dois países. O Paraguai usa apenas 5% da parte que lhe cabe da energia gerada pela usina. O restante, é vendido ao Brasil, a preço de custo.

O aumento do valor que o Paraguai recebe pela energia que vende ao Brasil está no centro da campanha para as eleições presidenciais no país, que ocorrem em abril. Todos os candidatos incluíram a revisão dos termos do Tratado de Itaipu, que deu origem à usina, entre suas propostas.

O olhar do povo

Em sua maioria, os paraguaios têm grande carinho pelos brasileiros, que consideram ‘gente alegre e trabalhadora’. A convivência entre os dois vizinhos é intensa, tanto na presença de turistas, estudantes e imigrantes brasileiros no Paraguai, quanto no fluxo de veranistas paraguaios rumo a praias como a catarinense Camboriú – um dos destinos de férias favoritos em um país sem litoral.

No entanto, o tamanho do território, da população e da economia do Brasil fazem às vezes com que os paraguaios sintam-se pequenos diante do vizinho gigante. Muitos acreditam que seu país é deixado de lado em grandes decisões, como no âmbito do Mercosul, e que o Brasil usa seu poder como forma de pressão.

Nos últimos meses, porém o Brasil tem sido um assunto cada vez mais comum no Paraguai devido a um tema específico: a discussão em torno da revisão do Tratado de Itaipu, que deu origem à usina hidrelétrica binacional e é um dos principais temas da campanha para a eleição presidencial de 20 de abril.

As relações econômicas

• População: 6 milhões
• PIB: US$ 31 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 1,6 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 434 milhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -1,2 bilhões

Um modelo econômico excessivamente dependente do Brasil faz com que muitos paraguaios tenham ressentimentos em relação ao vizinho e parceiro. O principal produto agrícola do Paraguai, por exemplo, a soja, foi introduzido por produtores brasileiros que atravessaram a fronteira na década de 70.

Hoje, segundo analistas econômicos, a exportação de soja é um dos fatores principais do crescimento do PIB paraguaio, mas a importância dessa atividade não se traduz em benefícios diretos para o país, como aumento de empregos.

Há ainda o excedente da energia gerada pela Hidrelétrica de Itaipu, que é vendido ao Brasil a preço de custo, conforme os termos do tratado assinado pelos dois países, o que vem provocando um amplo debate no Paraguai.

Os paraguaios querem que o tratado seja revisto e que o Brasil pague preço de mercado pela energia, um tema que ganhou inclusive os discursos na campanha para as eleições presidenciais.

BOLÍVIA

Bolívia e Brasil têm uma relação marcada pela interdependência na área energética. O Brasil é o maior parceiro da Bolívia e o maior comprador do gás boliviano, indispensável para o abastecimento de lares e indústrias. A Bolívia, por sua vez, tem nos brasileiros não apenas grandes consumidores mas, principalmente, investidores.

Logo após a nacionalização dos hidrocarbonetos promovida pelo presidente Evo Morales em 2006, essa relação bilateral sofreu um golpe. A Petrobras foi severamente atingida por essas medidas, adotadas com grande respaldo da população.

Muitas medidas do governo de Morales, eleito com a promessa de dar mais voz às parcelas excluídas da população boliviana, como os indígenas, não apenas provocaram tensões com parceiros externos, mas também exacerbaram divisões já existentes dentro da Bolívia. Os departamentos orientais do país, reduto da oposição, passaram a exigir mais autonomia e uma parcela maior da receita gerada pela venda do gás.

Um projeto de reforma da Constituição, aprovado em meio a muita polêmica e sem a presença da oposição, aumentou ainda mais a crise política interna.

No final do ano passado, porém, uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Bolívia deixou claro o apoio do Brasil ao governo boliviano – considerado de grande importância nesse momento de divisão interna. O gesto também demonstrou a intenção do Brasil de deixar as diferenças para trás e voltar a investir na Bolívia e apostar em uma parceria que é essencial para ambos.

O olhar do povo

Quando se pergunta a um boliviano que imagem ele tem do Brasil, as características mais citadas são as ‘lindas praias’, a ‘boa música’ e, principalmente, a ‘amabilidade do povo brasileiro’. Muitos citam o progresso e o desenvolvimento do vizinho como um exemplo a ser seguido.

A presença da Petrobras no país, que passou a ocupar a atenção dos bolivianos depois da nacionalização dos recursos naturais, promovida pelo governo em 2006 com enorme apoio da população, é vista com simpatia pela maioria.

Atualmente, no entanto, há um tema de tensão que nada tem a ver com as relações econômicas, e sim com uma paixão compartihada pelos dois povos: o futebol. Os bolivianos acham que o Brasil deveria apoiar a Bolívia contra a decisão da Fifa de proibir partidas internacionais em altitudes elevadas.

As relações econômicas

• População: 9 milhões
• PIB: US$ 27 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 850 milhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 1,6 bilhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ 750 milhões

Nos últimos dez anos, o gás provocou uma reviravolta nas relações econômicas entre a Bolívia e o Brasil e garantiu aos bolivianos um saldo positivo na balança comercial entre os dois países.

Segundo analistas econômicos, quase metade do crescimento da Bolívia nos últimos cinco anos se deve à exportação de gás natural para o Brasil, que também garantiu um superávit nas finanças públicas do país andino.

No entanto, essa extrema dependência de um único produto causa certo desconforto entre os bolivianos. Eles gostariam de diversificar essa relação que, acreditam, ainda tem muito espaço para se desenvolver e estreitar os laços econômicos entre os dois países.

PERU

O Brasil e o Peru dividem uma grande fronteira na selva amazônica, mas muitos analistas afirmam que a floresta tem separado os dois países.

Para eles, a falta de vias de conexão, rompendo a ‘barreira’ da Amazônia, tem dificultado as relações comerciais.

”Eu acredito que as relações têm sido sempre mais para o futuro do que para o presente, porque o potencial sempre foi muito grande, mas as relações comerciais não foram tão grandes por causa das dificuldades de integração fisica. Nós temos um grande oceano verde que nos separa”, diz o diretor do Instituto Peruano de Economia, Fritz Du Bois Freund.

Um dos projetos que têm marcado uma tentativa de romper a falta de conexão é a construção da Interoceânica Sul, ligando o Estado do Acre a várias regiões do sul do Peru. Em fase de construção, a estrada gera grande expectativa de crescimento nas regiões do sul do Peru, muito pobres, e de novos negócios com o vizinho gigante.

É cada vez mais notável a presença de empresas brasileiras no Peru. As construtoras Norberto Odebrecht e Camargo Correa, por exemplo, participam da construção da Interoceânica Sul.

A Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobrás também começam a investir no país. Mas para o ministro das Relações Exteriores peruano, José Antonio García Belaunde, o Brasil poderia investir mais. ”Não é possível que o Chile tenha mais investimento no Peru do que o Brasil”, afirma.

O olhar do povo

A maioria dos peruanos demonstra muito carinho em relação aos brasileiros, muitas vezes fazendo referência à irmandade que existe entre os povos.

Muitos dos moradores das cidades de Ilo, Cusco e Lima, conhecem apenas o futebol e o carnaval brasileiros. Mas alguns falaram sobre a impressão que tiveram ao visitar o vizinho. Eles afirmaram acreditar que peruanos e brasileiros são parecidos, devido, em parte, à mestiçagem dos povos.

Em algumas partes do país também há a expectativa de que os dois países se aproximem com a construção da estrada Interoceânica, que vai ligar o Brasil ao Pacífico passando pelo Peru.

As relações econômicas

• População: 28 milhões
• PIB: US$ 186 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 1,6 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 955 milhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -652 milhões

O intercâmbio comercial entre o Brasil e o Peru vem crescendo. Em 2006, as exportações brasileiras para o Peru aumentaram 60,82% e, em 2007, 9,22%. Já as importações de produtos peruanos aumentaram 71,67% em 2006 e 16,36% em 2007.

Apesar desse crescimento, a falta de vias de integração física entre os dois países é apontada como um dos empecilhos para um intercâmbio mais vigoroso.

Os Estados Unidos continuam a ser o principal parceiro comercial do Peru. O país está em vias de finalizar um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, que pode entrar em vigor a partir do ano que vem.

O Peru exporta para o Brasil principalmente produtos primários, sem valor agregado, como minérios. E importa, na grande maioria, produtos com grande valor agregado, como produtos petrolíferos, metais mecânicos e químicos.

CHILE

Sem fronteiras com o Brasil, o Chile é muitas vezes visto como um vizinho distante. Mas a presença brasileira no país está crescendo, principalmente no que diz respeito ao número de turistas brasileiros.

Por outro lado, na opinião de analistas, a falta de limites comuns tem feito com as relações entre os dois países seja marcada pela falta de atritos.

Para o diretor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile, José Morande, o Brasil – é um referente permanente para a história política e para a história diplomática do Chile, principalmente em momento de conflito com outros vizinhos.

Economicamente, o Chile é o segundo principal parceiro do Brasil na América do Sul em volume de negócios, ficando atrás apenas da Argentina. Mas o país andino tem adotado um modelo de desenvolvimento diferente do brasileiro e se caracteriza por ter uma das economias mais abertas do continente.

Economistas acham que as relações podem avançar à medida em que investimentos brasileiros no país cresçam, o que vem de fato ocorrendo, principalmente no setor de mineração, e à medida em que o Chile tente se firmar como um país que servirá de plataforma de exportação para os mercados asiáticos, oferecendo serviços aos vizinhos.

Os governos brasileiro e chileno, juntamente com o boliviano, se dizem comprometidos com a integração física entre os países, e esperam concluir, até o ano que vem, um corredor interoceânico que ligará os portos do norte do Chile ao porto de Santos, em São Paulo.

O olhar do povo

Os chilenos demonstraram simpatia em relação ao Brasil e ressaltaram a imagem do vizinho como país alegre e de gente amável. O número de turistas do Brasil no Chile vem crescendo, mas muitos chilenos dizem também conhecer brasileiros que vivem no país.

Os moradores na capital Santiago e na cidade portuária de Iquique, apesar de terem em mente o estereótipo do país do futebol e das mulheres bonitas, alguns destacaram os problemas sociais brasileiros.

A falta de fronteiras provoca reações distintas entre os moradores. Alguns já visitaram o vizinho e não acham que a falta de fronteiras seja um fator importante, mas outros pensam que o Brasil ainda é um país distante.

As relações econômicas

• População: 16 milhões
• PIB: US$ 202 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 4,2 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 3,4 bilhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -781 milhões

Em 2007, o Chile foi o oitavo mercado fornecedor de produtos para o Brasil e as importações do país vizinho aumentaram 21,5% em relação a 2006, mais do que as exportações, que aumentaram 9%. Em volume de negócios, o Chile é o segundo principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul, atrás da Argentina.

Ao contrário do Brasil, o Chile tem uma das economias mais abertas da América do Sul, com poucas barreiras à entrada de produtos de outros países.

Apesar de intercâmbio comercial entre os dois países vir crescendo, a participação do Brasil no intercâmbio comercial global do Chile vem caindo. Por outro lado, a China se consolida como um parceiro cada vez mais importante para o país andino.

O Brasil exporta principalmente produtos petrolíferos para o Chile. O principal produto importado é o cobre. Os investimentos brasileiros no país vêm aumentando, principalmente no setor de mineração.

EQUADOR

Único país, além do Chile, que não faz fronteira com o Brasil, o Equador mantém com o parceiro maior uma relação ao mesmo tempo amistosa e distante.

Os dois países deixaram de ser vizinhos depois que o Peru tomou militarmente parte do rio Amazonas.

Mas o Brasil foi um dos principais mediadores na crise que garantiu ao Equador o direito de navegar no rio, iniciada nos anos 1940 e solucionada de vez nos anos 1990.

Hoje, construir relações para substituir a fronteira perdida é o desafio dos governos esquerdistas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Rafael Correa.

Uma das iniciativas em análise é melhorar a infra-estrutura que liga os portos de Manaus, no Estado do Amazonas, com Manta na costa do Oceano Pacífico. Além disso, a Petrobras aguarda uma definição legal sobre a possibilidade de extrair petróleo de uma área na Amazônia do país vizinho.

Seja pelo corredor bioceânico, a antiga ligação fluvial ou campos do petróleo, os dois países estão umbilicalmente ligados pela selva amazônica. Em Quito, uma estátua homenageia Francisco de Orellana, que dali partiu para descobrir o maior rio do continente.

Mas outros aspectos curiosos lembram o Brasil, como o ‘Pão de Açúcar equatoriano’ ? o morro do ‘Panecillo’, de cujo topo uma estátua da Virgem Maria ‘abençoa’ a capital equatoriana.

O olhar do povo

A brasileira Sônia e o equatoriano Ivan ilustram um fenômeno curioso na relação entre cidadãos equatorianos e brasileiros. “A comunidade brasileira aqui (em Quito) é bastante feminina, de brasileiras que se casaram com equatorianos que foram estudar ou fazer intercâmbio no Brasil”, diz Sônia.

O casal se conheceu em meados dos anos 80, quando Ivan estudou em Ouro Preto. Há quase 20 anos eles se mudaram para Quito, onde vivem apenas mil brasileiros, segundo os números oficiais.

Ivan conta que, quando estudou no Brasil, o vizinho maior era considerado por equatorianos um lugar “distante”. “De uns anos para cá é que a política do Brasil foi de abertura e o Brasil começou a se integrar com o resto dos países da América do Sul.”

Para ele, o “fascínio” que o Brasil exerce nos visitantes favorece a integração. “Qualquer pessoa que vai para o Brasil gosta e quer voltar. Mesmo que tenham dificuldade na comunicação, as pessoas acabam se entendendo.”

As relações econômicas

• População: 13 milhões
• PIB: US$ 61 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 661 milhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 30 milhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -631 milhões

As relações comerciais entre Brasil e Equador estão entre as mais desiguais do continente. Apesar disso, os governos dos dois países dizem ter excelentes relações no plano econômico, assim como no plano político.

Em 2004, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Rafael Correa manifestaram desejo de avançar na integração dos portos brasileiros de Manaus e equatoriano de Manta, criando uma ligação bioceânica que colocaria as mercadorias brasileiras a um passo da Ásia e abasteceria o Norte do Brasil com alimentos produzidos no Equador.

Mas o projeto concorre com outras iniciativas de ligar os dois oceanos através do Peru e do Chile.

No campo do investimento, uma aproximação desigual com o Brasil pode ser prejudicial se subjugar o país de 13 milhões de habitantes e PIB de US$ 60 bilhões.

Após décadas vivendo à sombra dos Estados Unidos, o governo Correa promete retomar a soberania do país, e deixar para trás uma “longa noite neoliberal”.

Porta-vozes do governo e do movimento indígena – talvez o ator social de maior influência em um país de maioria indígena – dizem temer que o Brasil acabe “exportando” um modelo extracionista de desenvolvimento.

COLÔMBIA

Brasil e Colômbia compartilham uma fronteira que, ao longo de 1,6 mil quilômetros, é uma das mais inóspitas do continente. Não apenas pelos milhares de quilômetros de selva amazônica que separam as principais cidades dos dois países, mas porque a maneira mais comum de cruzar de um lado a outro é navegando por rios controlados por guerrilheiros, narcotraficantes e paramilitares.

Efeitos do conflito colombiano são sentidos nos países vizinhos. Estima-se que 250 mil colombianos já fugiram da Colômbia para a Venezuela e o Equador, e que outras 20 mil pessoas vivam só na região da Amazônia legal, em situação de vulnerabilidade.

Visto como um país que colabora no campo da segurança e da solidariedade aos refugiados, o Brasil mantém entretanto uma cautelosa distância em relação à Colômbia.

Sobre quase toda a política externa colombiana paira a imagem dos Estados Unidos, a potência militar aliada do governo colombiano no plano de combate às drogas. Este pode ser um problema no relacionamento da Colômbia com países como a Venezuela, governada por um feroz crítico das políticas de Washington, o presidente Hugo Chávez.

Não é o caso do Brasil, que não é percebido como uma nação capaz ou mesmo desejosa de desafiar os Estados Unidos. A crítica de analistas e acadêmicos colombianos é que, por outro lado, Brasília se mantém demasiadamente afastada de Bogotá – um fato mais fácil de perceber que de corrigir.

Se os dois países devem estreitar as relações para melhorar o combate ao narcotráfico – no qual o Brasil tem um papel mais que secundário -, há pouco consenso sobre que papel caberia a Brasília em questões como a libertação de reféns da guerrilha ou a mediação de conflitos entre a Colômbia e seus vizinhos.

O olhar do povo

Cansados do conflito político que já levou 3 milhões de pessoas a deixaram suas casas, colombianos vêem o Brasil como um lugar pacífico, onde gostariam de retomar sua vida, mas ainda de difícil acesso.

A ONU estima que até 20 mil colombianos já tenham sido “expulsos” para o Brasil por causa da violência e das extorsões praticadas pelas guerrilhas marxistas e por grupos paramilitares. Mas a barreira do idioma e a inóspita selva amazônica, que dificulta a travessia a pé, têm contido o fluxo de colombianos.

Talvez pelo desconhecimento gerado pela distância, o Brasil aparece como uma espécie de esperança ou sonho distante no imaginário dos vizinhos imersos em crise.

Para os mais pobres, o crescimento econômico e a imagem de país amigável fazem do Brasil um lugar que oferece promessas de emprego e de uma vida melhor.

As relações econômicas

• População: 45 milhões
• PIB: US$ 374 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 2,3 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 426 milhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -1,9 bilhões

A balança comercial do Brasil com a Colômbia é um exemplo da disparidade que caracteriza a relação econômica entre o maior país do continente e seus vizinhos.

Exportador de produtos manufaturados – sobretudo aviões – para a Colômbia, o Brasil importa principalmente itens básicos, como óleo bruto de petróleo, resíduos de alumínio, ferroníquel e outras matérias-primas.

O governo brasileiro ressalta que a desvantagem comercial é compensada pelos investimentos de empresas brasileiras no país vizinho, que já são históricos. A Petrobras iniciou na Colômbia sua atuação internacional ? hoje, mais de 50 postos de gasolina com a bandeira verde-amarela estão espalhados pelo país. Há também projetos na área de exploração.

No ano passado, o grupo Votorantim comprou a maior siderúrgica colombiana, a Acería Paz de Rio, e junto com o grupo Gerdau se tornou detentor de 60% do setor siderúrgico colombiano.

Agora, o presidente Álvaro Uribe quer convencer a Companhia Vale do Rio Doce a investir cerca de US$ 6 de bilhões em uma unidade de alumina ? a matéria-prima do alumínio ?, uma geradora de energia e um porto no mercado vizinho.

Observadores econômicos em Bogotá dizem que o aumento dos investimentos brasileiros se deve a bons resultados da política de segurança do presidente Álvaro Uribe, que reduziu o temor de companhias estrangeiras de se fixar no país em conflito.

Entretanto, críticos de Uribe dizem que a Colômbia, como vários outros países da América Latina, apenas embarcou na bonança que impulsiona os exportadores de produtos básicos.

VENEZUELA

Desde a chegada ao poder de Hugo Chávez, a Venezuela tem sido um dos países que mais se destaca no noticiário internacional. Um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, o expandiu sua influência na América do Sul com o aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais.

Para alguns, a Venezuela agora ameaça a liderança brasileira na América do Sul.

A visão pode ser exagerada, como alega o governo brasileiro, mas a verdade é que há diversos pontos de discórdia. O Brasil relutou para entrar no Banco do Sul, proposto por Hugo Chávez, e não manifestou apoio ao Gasoduto do Sul e à criação da Petroamerica, uma união de estatais de petróleo. Igualmente Chávez é um crítico da produção de biocombustíveis, um das bandeiras do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Considerando que a América do Sul dispõe de potencial e recursos que poderiam possibilitar a autosuficiência de toda a região, vê-se claramente o quanto essas divergências dificultam a integração energética do continente.

Os planos de desenvolvimento de projetos conjuntos entre Venezuela e Brasil ainda não se concretizaram e cada vez mais o presidente Chávez usa a abundância de petróleo de seu país para desenvolver na região a chamada diplomacia do petróleo, através da qual, são levados a efeito projetos que não atendem necessariamente os interesses de toda a região.

Para alguns analistas, a fragmentação da relação de Brasil e Venezuela não permite um melhor aproveitamento desse potencial.

Mas o fato é que Brasil e Venezuela dialogam bastante na América do Sul. O governo brasileiro é um dos principais defensores do ingresso da Venezuela no Mercosul.

O olhar do povo

Rivalidade ou amizade? Para a maioria dos venezuelanos entrevistados nas ruas de Caracas, Brasil e Venezuela são países irmãos e amigos. Muitos falam que o Brasil é um país mais desenvolvido do que a Venezuela.

A maioria afirma que o Brasil é o líder da América do Sul e descarta que a Venezuela possa ser, de alguma forma, uma ameaça a essa posição de liderança.

Os venezuelanos vêem o Brasil com simpatia e respeito. Muitos disseram que o Brasil é um importante parceiro econômico da Venezuela e que gostariam de ver relações econômicas mais intensas entre os dois países.

As relações econômicas

• População: 27 milhões
• PIB: 186 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 4,7 bilhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 345 milhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -4,3 bilhões

Na América do Sul, a Venezuela é o país para o qual o Brasil mais aumentou suas exportações nos últimos dez anos. Entre 1997 e 2007, as exportações brasileiras para a Venezuela cresceram mais de seis vezes.

Em 2007, a Venezuela também foi o país com quem o Brasil teve maior superávit comercial na região: US$ 4,3 bilhões. Carros e carnes são os principais produtos exportados para lá. Em troca, o Brasil compra insumos do setor energético, como carvão e derivados de petróleo.

Para a Venezuela, o Brasil é o terceiro maior parceiro comercial, atrás dos Estados Unidos e da Colômbia. Os empresários venezuelanos reclamam que a balança comercial é muito favorável para o Brasil e trabalham para tentar aumentar as exportações venezuelanas, sobretudo para o Norte e Nordeste do país.

GUIANA

A Guiana é um país relativamente isolado dentro da América do Sul. O interior do país é pouco habitado e coberto com uma grande extensão da floresta amazônica.

A maior parte da população mora na costa, o que explica as ligações fortes da Guiana com o Caribe e o pouco contato com os sul-americanos.

Existe uma comunidade de cerca de 20 mil brasileiros morando na Guiana. A grande maioria vai para trabalhar nos garimpos, em busca de ouro. Brasil e Guiana estão construindo uma ponte entre as cidades fronteiriças de Bonfim (Roraima) e Lethem (no lado guianense), sobre o rio Itacatu.

A ponte conecta a única estrada que liga os dois países, possibilitando a viagem de Boa Vista à capital da Guiana, Georgetown.

Há diferenças entre os países em relação à Amazônia. Alegando falta de recursos, o governo atual da Guiana propõe que grande parte da sua floresta seja administrada por britânicos. O governo brasileiro não se manifestou oficialmente sobre a oferta, mas o Brasil notoriamente defende a soberania sul-americana da floresta.

O olhar do povo

Nas ruas, o povo da Guiana expressou um pouco de ressentimento com o fato de existirem relações tão pequenas com o Brasil.

Quando se fala em Brasil, o principal assunto citado pelos guianenses é a construção de uma ponte sobre o rio Itacatu, na fronteira dos dois países, que possibilitaria viagens de carro entre as principais cidades dos dois países.

Outro assunto lembrado pelos guianenses é a presença dos garimpeiros brasileiros. Eles são bem-vistos no país e retratados como trabalhadores dedicados e honestos.

As relações econômicas

• População: 750 mil
• PIB: US$ 3,7 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 18 milhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 1,9 milhão
• Saldo comercial com Brasil: US$ -16 milhões

A Guiana é o menor dos parceiros comerciais do Brasil na América do Sul. O Brasil exporta apenas US$ 18 milhões para o país, o que representa menos de 1% das exportações brasileiras para a América do Sul.

O tamanho e a posição geográfica explicam isso. A Guiana é sede da Comunidade Caribenha de Nações, onde está a maior parte dos seus principais parceiros econômicos. O país tem um dos menores PIBs da América do Sul. Tanto em riqueza quanto em população, a Guiana se assemelha aos pequenos países caribenhos. A base da economia é a exportação de minérios.

Existe apenas uma estrada ligando Brasil e Guiana e são poucos os vôos semanais. O porto de Georgetown possui fluxo comercial mais intenso com Estados Unidos, Europa e Caribe do que com a América do Sul.

SURINAME

O Suriname é o vizinho do Brasil que não está ligado ao nosso país por estrada. Atualmente, existem apenas dois vôos entre a capital do Suriname, Paramaribo, e cidades brasileiras.

No nível governamental, existem alguns acordos de cooperação nas áreas de educação e agricultura, as relações bilaterais são pequenas.

O Suriname tem sido um destino atraente para brasileiros do Norte e do Nordeste, devido à riqueza dos garimpos de ouro. Cerca de 50 mil brasileiros vivem no país.

Muitos vivem isolados dentro dos bairros brasileiros nas principais cidades, já que poucos aprendem o holandês, a língua oficial do país.

O olhar do povo

No Suriname, as pessoas nas ruas têm muito pouco a falar sobre o Brasil. Existe uma grande admiração pelo futebol brasileiro. Durante a Copa do Mundo, o Brasil é o primeiro time da grande maioria dos surinamenses, mesmo com alguns ídolos locais jogando pela Holanda.

O futebol é um dos poucos assuntos em comum. Em geral, os surinamenses sabem pouco sobre os brasileiros. A comunidade de brasileiros que vive no país – cerca de 50 mil, segundo estimativas oficiais – não transcende a barreira da língua oficial, o holandês.

Com pouco destaque para assuntos brasileiros no país, os surinamenses têm bastante curiosidade para saber o que acontece no Brasil e como vivem os brasileiros.

As relações econômicas

• População: 450 mil
• PIB: US$ 3,1 bilhões
• Quanto o Brasil exporta para o país: US$ 36 milhões
• Quanto o Brasil importa do país: US$ 19 milhões
• Saldo comercial com Brasil: US$ -17 milhões

Como a Guiana, o Suriname também está muito isolado do Brasil e da América do Sul economicamente. O país faz parte da Comunidade Caribenha de Nações, onde estão os seus principais parceiros econômicos.

Tanto em exportações e importações, o Suriname representa menos de 1% da balança comercial brasileira na América do Sul. Além do Caribe, o país possui fortes laços econômicos com a ex-metrópole Holanda, com os Estados Unidos e com a Europa.

O Suriname tem a menor população da América do Sul, mas as pessoas são mais ricas do que na Guiana. A base da economia do Suriname é a exportação de minérios.

Fonte: BBC Brasil

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