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O Largo da Palma, de Adonias Filho

by Lucas Gomes

1.

(UFBA)
I. A MOÇA DOS PÃEZINHOS DE QUEIJO

Na vizinhança de três quarteirões, se alguns se referem aos pãezinhos de queijo do Largo da Palma, todos
comentam a delicadeza de quem os vende. Moça de dezoito anos, cabelos de carvão que chegam aos ombros,
olhos também negros que combinam com a pele amorenada, Célia sempre usa blusas apertadas que denunciam os
pequenos seios. A parede de fundo, atrás do balcão, é branca porque pintada de cal. Frente a essa parede,
a vender no balcão os pãezinhos de queijo, Célia mais embeleza a sua própria beleza. E para muitos, talvez
por causa do riso alegre, a sua voz é tão macia quanto os pãezinhos de queijo.
Doce e macia, ao lado do riso alegre, a voz da moça é música melhor de ouvir-se, nas manhãs de domingo, que
o próprio órgão da igreja. Todos dizem, no sobrado inteiro, que é como um trinado de pássaro. […] ADONIAS FILHO. A moça dos pãezinhos de queijo. In: O Largo da Palma: novelas. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2005. p. 10.

II. O LARGO DE BRANCO

O pacote com farelos de milho. Voam os pombos quando Eliane, aproximando-se, abre o pacote com as mãos
trêmulas. O sol anuncia dia claro na manhã de junho. Tamanho o nervosismo que rasga o pacote e, lançando
os farelos no pátio da Igreja da Palma, vê que os pombos retornam para apanhá-los. Bom, como seria bom se
fosse um pombo! Não ter que falar, esconder-se como uma ladra, não depender de ninguém. Não ter
principalmente qualquer consciência e muito menos buscar explicação para as coisas da vida. E, sobretudo,
de sua vida de mulher. Comer os farelos de milho no passeio, voar acima das ruas e da multidão, abrigar-se
nas árvores e nos beirais. […] ADONIAS FILHO. O largo de branco. In: O Largo da Palma: novelas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005. p. 31.

Compare os fragmentos I e II, considerando-os no contexto do qual foram extraídos, e comente os perfis de
Célia e Eliane, explicitando, inclusive, o foco narrativo que apresenta as duas personagens.

RESPOSTA: Célia e Eliane são apresentadas por narrador onisciente. Célia é vista como uma jovem bonita,
atraente, de voz melodiosa, e desprovida de preconceito. A sua relação com Gustavo (um rapaz mudo) atesta
isso. Já Eliane é focalizada pelo narrador em dois momentos: o primeiro é o da relação com Odilon, que a
revela como uma jovem pobre que busca no casamento a segurança e não consegue enxergar o interior de seu
marido (vê apenas o desleixo na aparência de Odilon) nem compreende a forma que ele tem de amála; o segundo
é o do reencontro com o marido de quem se separou, atraída pelo porte e pela beleza de Geraldo. Esse
segundo momento mostra Eliane como uma mulher frágil, envelhecida e desejosa de escapar da realidade.

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