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O vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf

by Lucas Gomes

O livro O Vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf, aborda a temática dos 500
anos do Brasil, desde Cabral, de uma forma humorada, tendo dois vampiros como personagens
centrais. Jaf polemiza ao sugerir que políticos como Getúlio Vargas, João Pessoa e Marco
Maciel pudessem ser vampiros.

O enredo vai do Descobrimento do Brasil aos dias atuais, passando por fatos e personagens
mais conhecidos – como Tiradentes, Dom Pedro I e Getúlio Vargas.

O autor usa uma linguagem simples e concisa para levar o leitor diretamente para o centro
dos acontecimentos. Ao narrar suas experiências ele passa-nos uma visão particular da história
do Brasil. Para isso, precisava ser um imortal, um vampiro.

Na obra podemos ver tabém as semelhanças e diferenças entre a língua portuguesa
de Portugal e do Brasil, bem como os regionalismos.

Foco narrativo

Foco narrativo em terceira pessoa com narrador onisciente, onipresente
e intruso com inserções provocativas à criticidade do leitor-cidadão (ver
trechos em itálico nas páginas do livro).

Resumo

É a história de Antônio Brás, um comerciante, proprietário de uma taberna que
funcionava no porto da praça principal de Restelo, a pouco mais de uma légua
de Lisboa, Portugal.

Antonio Brás, estava pensando na vida, quando um homem que ficara por muito
tempo no estabelecimento e que não parecia querer ir embora, ao ser informado
de que a taberna iria fechar se transtorna, seus olhos se tornam bolas vermelhas
brilhantes e surgem em sua boca caninos grandes e ataca Antonio.

Após o incidente, Antônio sentia-se bem, disposto, e cheio de energia até,
mas estranhava o fato de não conseguir comer e nem beber nada. A partir do terceiro
dia o sol empolava estranhamente sua pele, o corpo doía e começou a enfraquecer.

Ao devorar uma ratazana, Brás retoma sua força e com ela a consciência do que
acabara de fazer e em meio ao pavor da situação se depara com Domingos, o qual
lhe dá a notícia de que, assim como ele, Antônio agora era um vampiro. Domingos
explica que Antônio fora atacado pelo mais poderoso dos vampiros, o único capaz de
apossar-se de um corpo humano. A alma daquele velho vampiro estava no corpo do
comandante pois tinha a intensão de fazer parte da caravela rumo a conquista
portuguesa do monopólio do comércio com as Índias.

Havia uma maneira de reverter a situação de Antônio, era preciso espetar uma
estaca de carvalho no coração do vampiro que lhe atacou e aspirar as cinzas em
que o corpo se transformaria. Seria difícil encontrar o velho no meio daquela
multidão, ainda mais sem saber em que corpo se enfiara, mas sabia que estaria
no corpo de alguém importante, nos momentos históricos decisivos. Todas as
atenções da Europa estavam voltadas ao evento de despedida da armada de
Cabral rumo as Índias. E era ali, naquela embarcação que estaria o vampiro.
Antônio dá início à caçada ao velho e embarca junto à armada de Cabral.

Em 22 de abril de 1500 chegaram a uma terra estranha, com pessoas de pele
marron, limpos e felizes, cobertos por penas coloridas, pintados, andando nus e
conversando com as aves. A armada de Cabral levantou âncora e agora Antônio
estava preso ali, mas com certeza o velho também estava. Passou a viver isolado
numa caverna, aprendendo a ser vampiro. Durante os próximos 500 anos aprenderia
a viver entre a sociedade, sobre os disfarces do velho vampiro e de como
reconhecê-lo dentro de outros corpos. Antônio vivia em busca do encontro com o
vampiro responsável por sua indesejada imortalidade e seu único objetivo era
reverter a sua situação. Queria voltar a sua vida normal, beber seu vinho tinto
rascante e deliciar-se com lascas de bacalhau frito no azeite.

Assim que desembarcou em terra Antônio teve seu primeiro encontro com o velho,
que estava no corpo de um frei também vindo na esquadra de Cabral. Não obteve
sucesso, mas existiriam outros encontros e não desanimava facilmente. Os anos
passavam e ao mesmo tempo aconteciam fatos históricos importantes, nos quais o
velho vampiro deveria estar presente. Depois de Cabral, Brás acompanha toda a
história do Brasil. Mas não entendia e nem importava-se com tudo o que ocorria
em sua volta e foi durante a invasão Holandesa ao país que teve seu segundo
encontro com o vampiro, novamente em vão, o qual estava no corpo de um Calabar,
que traiu o Brasil para ficar ao lado dos holandeses.

Antônio circula por várias regiões brasileiras, vai de Salvador a Recife, passa
por Vila Rica, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Durante sua incessante caçada,
nas quais encontra vestigios do velho e por algumas vezes quase consegue pegá-lo,
o país passa por um longo processo político e econômico e Brás presencia os
acontecimentos que marcaram a história das relações políticas e externas do Brasil.
Desde a exploração do pau-brasil, o início da colonização e escravidão, exploração
de minérios, abolição da escravatura, o golpe militar de 1964 e todo o processo em
que passa o país com o progresso e decadência da ditadura militar com a abertura da
política, inclusive o movimento das Diretas Já.

Durante 500 anos o imortal Antônio Brás, cada vez mais habituado a condição de
vampiro, vive em meio as questões econômicas na relação do homem e seu meio ambiente
que ocorrem ao longo do processo histórico brasileiro. Em janeiro de 1999, Antônio
planeja uma armadilha e marca um encontro com o vice-presidente do país, o qual
fora reeleito e tomara posse há poucas semanas. Depois de cinco séculos de perseguição
chegava a hora de acabar com o vampiro que havia lhe mordido e recuperar sua
mortalidade. Finalmente o ritual foi concluído e, depois de aspirar as cinzas do
velho, Antônio Brás poderia voltar a comer lascas de bacalhau frito no azeite e
beber vinho tinto rascante.

Somente um imortal para acompanhar toda a história do Brasil, desde seu
descobrimento até os tempos atuais. Durante 500 anos Antônio teve oportunidade de
conhecer várias culturas e comportamentos que iam mudando com as diferentes etapas
da história do país. Presenciou a evolução, o crescimento e todo o processo político
e econômico da nação, bem como as diferenças sociais existentes até hoje. Mas a
busca incessante pelo velho vampiro fez com que passasse, de certa forma,
despercebida a história do Brasil.

No final da narrativa, encontramos a afirmação de que Antônio voltou a sentir dores
como um simples mortal, que faz com que o leitor utilize a sua imaginação.

Notas:

1. A lenda da mula-sem-cabeça é justificada de maneira criativa no romance. Uma
mula teria se tornado vampira após servir de fonte de alimento para Antonio, uma
vez que ele não queria se alimentar de sangue humano. O animal começou a atacar
cavalos e foi surpreendido por soldados que, aprisionando-o, cortaram sua cabeça.
Surgindo assim a famosa mula-sem-cabeça.

2. Antonio vai se cansar de ser pobre e viver vagando por aí e vai começar a ganhar
dinheiro usando o seu sentido sobrenatural de vampiro (a princípio jogos e depois
investimentos financeiros). Enriquecendo, ele acredita que será mais fácil de
encontrar com o Velho, haja vista que, este gosta de andar junto ao poder.

3. Reeleição de Fernando Henrique
Cardoso, cujo nome não é citado, mas apenas indicado cronologicamente em: “Antônio
chegou a Brasília num final de tarde seco, em janeiro de 1999. O Presidente reeleito
tomara posse há poucas semanas”. Desfecho com a morte do vampiro que havia mordido
o protagonista. Antonio marca um encontro com o vice-presidente, o qual se dirige
ao escritório de Antonio e lá eles conversam sobre o que acontecera ao antigo
taberneiro. Numa astuciosa armadilha preparada na poltrona em que estava o vice-presidente
o vampiro malfeitor é morto.

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