Narrado em terceira pessoa, neste conto é retomado o mesmo tema de A
margem da Alegria: a descoberta do mundo, de sua magia, dos ritos da tristeza
e da alegria, dos ritos da travessia e de superação do medo a e da dor. O protagonista
é o mesmo Menino, da primeira estória, agora em sua segunda viagem.
Dividido em quatro partes, a saber, I – O Inverso Afastamento; II – Aparecimento
do Pássaro; III – O Trabalho do Pássaro e IV – O Desmedido Momento, principia
em sentido inverso da As Margens da Alegria: por causa da doença de sua
mãe, o Menino é enviado à fazenda do tio (o mesmo do primeiro conto).
O último conto apresenta forte semelhança com o primeiro. O ambiente é o mesmo, assim
como praticamente as personagens. Além disso, o ponto final de As Margens da Alegria
é o início de Os Cimos: a morte. Porém, o menino faz, aqui, sua viagem não mais
no feliz, mas na agonia, pois sua Mãe corre um sério risco de morrer.
Para se viver melhor, deve-se evitar o apego à vida e aceitar a morte. É o que fez Tio ManAntônio em
Nada e a Nossa Condição ou Giovânio em O Cavalo que Bebia Cerveja. Essa necessidade
de desapego é vista neste conto no chapeuzinho de um macaquinho de brinquedo que o Menino acaba
perdendo durante essa viagem. Ainda assim, talvez por não entender essa mensagem, guarda o boneco,
que várias vezes parece querer sair do bolso.
Ainda assim, o menino parece inconscientemente sentir que se ligar fortemente às coisas é ruim,
tanto que sua agonia é crescente. Parece não querer mais querer. Querer é apegar-se. Apegar-se
é sofrer.
Eis que, durante o nascer do sol, o menino intui a necessidade de estar na frente da casa do
Tio. É quando presencia o início de um ritual que vai durar 1 mês: o vôo de um tucano, que pousa
num galho diante da criança, sempre às 6h20, alimenta-se e alça novamente vôo às 6h30, em
direção do sol, da luz, agora mais forte que a do vaga-lume em As Margens da Alegria.
Essa precisão faz com o que aprenda a esperar, a ter esperança, a deixar partir. Tanto que
propõem caçar a ave, mas ele rejeita. Aprendeu a desapegar-se. Aprendeu a viver.
Resultado: contrariando expectativas, sua mãe melhora e escapa da morte. O Menino retorna para
seu lar. No avião, durante a volta, o piloto devolve-lhe o chapéu do boneco. Mas o macaquinho
já estava perdido. Ou deixado partir.