Home EstudosLivros Os cismos (Conto da obra Primeiras Estórias), de Guimarães Rosa

Os cismos (Conto da obra Primeiras Estórias), de Guimarães Rosa

by Lucas Gomes

Narrado em terceira pessoa, neste conto é retomado o mesmo tema de A
margem da Alegria
: a descoberta do mundo, de sua magia, dos ritos da tristeza
e da alegria, dos ritos da travessia e de superação do medo a e da dor. O protagonista
é o mesmo Menino, da primeira estória, agora em sua segunda viagem.

Dividido em quatro partes, a saber, I – O Inverso Afastamento; II – Aparecimento
do Pássaro; III – O Trabalho do Pássaro e IV – O Desmedido Momento, principia
em sentido inverso da As Margens da Alegria: por causa da doença de sua
mãe, o Menino é enviado à fazenda do tio (o mesmo do primeiro conto).

O último conto apresenta forte semelhança com o primeiro. O ambiente é o mesmo, assim
como praticamente as personagens. Além disso, o ponto final de As Margens da Alegria
é o início de Os Cimos: a morte. Porém, o menino faz, aqui, sua viagem não mais
no feliz, mas na agonia, pois sua Mãe corre um sério risco de morrer.

Para se viver melhor, deve-se evitar o apego à vida e aceitar a morte. É o que fez Tio Man’Antônio em
Nada e a Nossa Condição ou Giovânio em O Cavalo que Bebia Cerveja. Essa necessidade
de desapego é vista neste conto no chapeuzinho de um macaquinho de brinquedo que o Menino acaba
perdendo durante essa viagem. Ainda assim, talvez por não entender essa mensagem, guarda o boneco,
que várias vezes parece querer sair do bolso.

Ainda assim, o menino parece inconscientemente sentir que se ligar fortemente às coisas é ruim,
tanto que sua agonia é crescente. Parece não querer mais querer. Querer é apegar-se. Apegar-se
é sofrer.

Eis que, durante o nascer do sol, o menino intui a necessidade de estar na frente da casa do
Tio. É quando presencia o início de um ritual que vai durar 1 mês: o vôo de um tucano, que pousa
num galho diante da criança, sempre às 6h20, alimenta-se e alça novamente vôo às 6h30, em
direção do sol, da luz, agora mais forte que a do vaga-lume em As Margens da Alegria.

Essa precisão faz com o que aprenda a esperar, a ter esperança, a deixar partir. Tanto que
propõem caçar a ave, mas ele rejeita. Aprendeu a desapegar-se. Aprendeu a viver.

Resultado: contrariando expectativas, sua mãe melhora e escapa da morte. O Menino retorna para
seu lar. No avião, durante a volta, o piloto devolve-lhe o chapéu do boneco. Mas o macaquinho
já estava perdido. Ou deixado partir.

Posts Relacionados