Gilberto Mendonça Teles publicou seu primeiro livro de poesia, Alvorada, em 1955. Tem influência da poesia de Apollinaire, Camões, Carlos Drummond de Andrade, Cruz e Sousa, García Lorca, João Cabral de Melo Neto, Jorge Guillen, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Raul de Leoni e Raymond. Pertence à Terceira Geração do Modernismo (1945/1962).
O crítico Mário da Silva Brito afirmou, sobre sua obra: a poesia tem sido para ele [Gilberto Mendonça Teles], predominantemente, um jogo de armar. (…) Para tanto, não hesita em casar vocábulos, ou fraturá-los, ou remontá-los, ou cruzá-los, ou decompô-los e recompô-los. É um oleiro a lidar o idioma como um barro que se pode amoldar em variadas formas.”
Com mais de 40 anos de percurso, as poesias de Gilberto Mendonça Teles alcança um grande amadurecimento formal e técnico sem, no entanto, ter de abandonar as conquistas vanguardistas e experimentais. Sua escrita procura aliar o amplo cabedal que lhe confere a participação ativa na vida literária do país, tanto como poeta quanto como ensaísta e professor, a uma disposição de estar continuamente fazendo o novo. Em virtude de sua grande habilidade técnica, a poética de Gilberto Mendonça Teles vai com bastante naturalidade do regionalismo de sabor originário à uma postura mais experimentalista, de cunho universal, como, por exemplo, o trabalho com a visualidade do poema, onde valoriza o signo e a materialidade da palavra. Isso significa que, além do cuidado com o sentido, seus poemas podem ocupar a página numa configuração gráfica inusitada. O poeta também se excede na construção de sonetos e de poemas de maior rigor métrico. Além da vertente poética propriamente dita, destacam-se importantes ensaios sobre a poesia brasileira e seus poetas mais importantes.
Fala do autor sobre o fazer poético:
A poesia mostra ao homem outros sentidos da existência, integra-o na plenitude da sua cultura, dá ênfase ao visível e escancara as janelas do invisível, amplia portanto o seu universo e lhe restitui a ilusão de sua divindade, uma vez que lhe dá o poder da criação através da linguagem. Ela tem a força natural dos álibis – que apontam para um e, ao mesmo tempo, para outro lugar, quase sempre utópico; e tem, como a Sibila o poder encantatório de nos fazer jogar com o sobrenatural. É por isso que os tiranos de todos os tempos e lugares temem os poetas e a poesia. E não é à toa que para Hölderlin ela é ao mesmo tempo a mais inocente das ocupações e o mais perigoso de todos os bens. Gilberto Mendonça Teles, senhor de vastos recursos, nem os retém como o proprietário avaro ou inepto, nem os dissipa como o pródigo: conhece a boa medida, e por ela vem talhando uma obra que o situa entre os melhores poetas de sua geração.
É uma poesia altamente intelectual, a de Mendonça Teles. Mas também sabe ele que a inteligência não vale a pena, se a alma é pequena… Seus melhores poemas traduzem o ideal equilíbrio entre essas duas forças.
Poema escolhido:
Meus Outros Anos
Eu me lembro, eu me lembro, Casimiro,
no meu São João, no meu Goiás, na aurora
da minha vida, eu li o teu suspiro,
li teus versos de amor que leio agora.
E que meu filho lê, e todo mundo
sabe de cor, de coração, de ouvido,
desde que sinta o apelo mais profundo
de tudo que tem força e tem sentido.
Contigo comecei a ver e vi
as coisas mais comuns – o natural:
o rio, a bananeira, a juriti
e a tarde que cismava no quintal.
Contigo descobri a travessia
do tempo na manhã, no amor, no medo,
nos olhares da prima que sabia
a dimensão maior do meu brinquedo.
E até este confuso sentimento,
esta idéia de pátria, que persiste,
veio de teus poemas, no momento
em que tudo era belo e apenas triste
era pensar no exílio e ver no termo
um motivo de doença e de pecado;
triste era imaginar o poeta enfermo,
tossindo os seus silêncios no passado.
Eu me lembro, eu me lembro! e quis de perto
ver o teu rio, teu São João, teu lar;
ler a poesia desse céu aberto
que continuas a escrever no mar.