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Para Gostar de Ler – Vol. 7, de Vários autores

by Lucas Gomes

Lirismo, reflexão e bom humor são elementos constantes deste
volume da coleção Para gostar de ler, que traz o melhor
da nossa crônica contemporânea. O volume reúne crônicas
de Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo, Carlos
Eduardo Novaes e José Carlos Oliveira, agrupadas em torno dos seguintes
eixos temáticos: transportes, vida moderna, comunicação
humana, futebol, lições.

Resumo de algumas crônicas contidas nesta obra:

Parte 1

VIDA MODERNA – Contos: Já não se fazem pais
como antigamente
(Lourenço Diaféria), Confuso (Luís
Fernando Veríssimo), O sonho do feijão (Carlos E. Novaes)
e “Cãomício” no calçadão (José
Carlos Oliveira).

Já não se fazem pais como antigamente
Uma mãe compra um robô para que esse ocupe o lugar de
pai do seu filho. Esse artefato eletrônico, além da prática
comum aos donos de casa, também divide as tarefas doméstica. O
que é seu principal atrativo. No entanto, aquilo que o menino desejava
mesmo o robô não fazia, contar histórias, parte do universo
infantil e imaginário em que o “pai-robô” não
podia fazer parte.

Confuso Um consumidor
acorda confuso: seus eletro-eletrônicos trocaram as funções
originais — […] saíam torradas do seu rádio-despertador…
A confusão ocorre em todos os aparelhos da casa e com todos que nela
moram. A casa enlouquecera e os objetos passaram a ter autonomia, funcionarem
de forma diferente e querer agredir os donos. Tentem fugir de casa, mas ao ligarem
o motor do carro, um Boeing caiu em cima da casa.

O sonho do feijão
O texto possui uma temática baseada na alta inflação do
anos 70, século XX, no Brasil, quando muitos produtos faltavam nos supermercados,
provocando alvoroço numa corrida desesperada para a aquisição
e estoque de mercadorias. A narrativa expõe a preocupação
de donas de casa, como dona Abigail para qual um sonho pode revelar o produto
que estará em falta. Daí, começam filas sem tamanho de
senhoras casadas ou viúvas à porta dos supermercados e afins,
para comprar o gênero que faltará: feijão, papel higiênico,
arroz e até óleo de soja, alusão à expansão
prevista dessa leguminosa pelo país como vemos hoje.

“Cãomício” no calçadão
– A narrativa dessa crônica pode ser analisada por vários
ângulos: em um deles, temos o discurso burguês, que propõe
medidas supérfluas para sua classe, metaforizadas pelas exigências
dos cachorros de raça (pipi–dog, Cooper no Calçadão
de Copapacabana, não querer ir à praia); opondo-se àquelas
proletárias, classe reivindicatória de igualdade, de direito à
alimentação digna; de respeitabilidade, simbolizadas pelas propostas
do vira- lata, o qual foi logo visto como cãomunista. Referências
ao início de abertura política, no final dos anos 70, quando os
comícios do operariado tomava conta de grandes centros, e ainda eram
visto com preconceitos, receios e repressão.

Parte 2

COMUNICAÇÃO HUMANA – Contos: Para uma garota
de quinze anos
(Lourenço Diaféria), Comunicação
(Luís Fernando Veríssimo), Kni e Giv (Carlos E. Novaes)
e Avô e neta (José Carlos Oliveira).

Avô e netaNarração
dinâmica e curta, percebe-se um diálogo iniciado com a curiosidad
de uma menina de três anos que questiona, o que é bandeira. O avô
procura responder não só a esse questionamento, mas a todas que
se seguem.

Para uma garota de quinze anos
Um texto lírico e, de uma certa forma , intimista, pois o autor faz para
a filha, quando essa acaba de completar quinze anos. Apresentando-nos uma trajetória
gradativa crescente, do nascimento à idade que ela se encontra, o cronista
vai montando com muito carinho um perfil moreno, meigo, compreensivo e tímido,
mas decidido. É justamente essa característica última que
o surpreende, pois no momento em que se prepara para dar-lhe uma festa de aniversário
particular ou de debutantes, ela recusa docilmente com um beijo em sua testa,
e ele questiona onde falhou, para sua filha ser diferente das outras. Percebe,
então, que o erro está em si, por ter criado uma expectativa em
relação ao outro, o qual não tem que satisfazer alguém,
sem ter prazer em suas escolhas e vontades.

Parte 3

TRANSPORTES – Contos: As aventuras de um ciclista urbano
(Lourenço Diaféria), Emergência (Luís Fernando
Veríssimo), Aeroporto de Congonhas, uma, duas, várias vergonhas
(Carlos E. Novaes) e No ônibus (José Carlos Oliveira).

As aventuras de um ciclista urbano
A crise do petróleo é abordada nessa crônica
de forma bem-humorada através de um brasileiro patriota, sensível
ao apelo do governo para economizar combustível e coerente com seu bolso,
devido à carestia do produto, resolvei r trabalhar de bicicleta, mesmo
sem o preparo exigido para tal.

Emergência – Passageiros de primeira viagem
não são temas incomuns na literatura. Nessa crônica, Veríssimo
aponta um passageiro nervoso, que revida o cumprimento da aeromoça, não
sabe atar o cinto de segurança e tudo piora quando ele ouve as instruções
de segurança comuns nas aeronaves. Queria descer, quase mata o passageiro
ao lado…e por aí vai até gritar ao comandante: —“Olha
para a frente, Araújo! Olha para a frente.”

Aeroporto de Congonhas, uma, duas, várias vergonhas…
Escrita em 1976, o autor expõe que, desde a sua fundação
em 1934, considerado um modelo de “obra aeroviária”, o aeroporto,
foi condenado. Primeiro, a cidade cresceu em volta dele, com a permissividade
dos políticos e do capitalismo, e além disso, era motivo de orgulho
morar no bairro, cuja maior atração era o aeroporto — símbolo
da modernidade, da evolução, do progresso. Em 1958, porém,
o aeroporto foi condenado pelo congresso brasileiro aeronáutico, devido
à pista curta e não oferecer os padrões de segurança
necessários às operações com jatos. A partir daí,
o cronista começa a exagerar nas informações, ficcionando
e ironizando fatos: aviões pousando e abrindo pára-quedas para
não varar a pista; um turboélice que atravessou a pista, causando
congestionamento e sofrendo multa do Detran por ter avançado sinal vermelho;
horários da vizinhança marcados de acordo com determinados pousos
ou decolagens de Boeings; janelas com vidraças ou espelhos quebrados
nas casas das redondezas; um lockheed que aterrissou com 11 antenas de televisão
no bojo ou um jumbo que arrastou as roupas de um varal.

No ônibus
algumas semelhanças entre essa crônica e um dos contos de Carlos
Drummond de Andrade, em “Contos
de Aprendiz
: Extraordinária conversa com uma Senhora de
minhas relações
. O cronista apresenta-se no texto, através
de suas iniciais: J.C.O ., e conta que encontrou, em um ônibus lotado,
uma mulher que o cumprimentou. Ela viajando em pé, ele sentado. Não
a reconhecendo, o que o fez ficar questionando de onde a conhecia ou se não
era um pretexto dela para que ele cedesse o lugar. Mais adiante, a comunicação
se estabelece entre os dois através de bilhetes e ele lembrou-se dela:
era a namorada, aliás, noiva do Flávio, por quem esse chorou,
quando ela rompeu o noivado e casou-se com um belga. Perguntando por Flávio,
ela respondeu que não mais o vira. Ao perguntar pelo belga, ela diz que
também não deu certo. Logo o narrador a convidou para sair, mas
ela recusou, tinha outro programa. O ônibus pára e ele salta.

Parte 4

PAÍS DO FUTEBOL – Contos: Antena ligada (Lourenço
Diaféria), Futebol de rua (Luís Fernando Veríssimo),
No país do futebol (Carlos E. Novaes) e O torcedor
(José Carlos Oliveira).

Antena Ligada Texto narrado
por um pai louco por futebol e pelo São Paulo, cujo filho é corinthiano.
O conflito comEça quando o professor pede um trabalho sobre Sócrates
e o pai, furioso recorre à revistas e reportagens jornalísticas
de futebol e não a livros de Filosofia. Nota zero para o filho-aluno.
O segundo trabalho foi sobre O Guarani, mas o pai participativo
procura, agora, informações sobre o time de Campinas. Nota zero.
O pai não sabia que era O Guarani, romance. Temática
possível: participação da família na vida escolar
/ o papel do aluno.

Futebol de rua Com humor
peculiar, Veríssimo elabora um manual de intrução sobre
futebol de rua, diferenciando das chamadas peladas – um futebol de campinho.
O autor enumera as regras para a bola (que pode ser qualquer coisa remontadamente
redonda); as traves (que pode ser até o irmão mais novo); duração
do jogo que pode ser quando a mãe chamar, por exemplo. Da formação
do time, chegando até 70 de cada lado. Juiz: não há; das
interrupções (várias, dentre elas, quando passar um mulherão);
das substituições (no caso de atropelamento ou quando a mãe
leva pela orelha); do intervalo: não há (e para quê? São
crianças); da justiça esportiva: resolvida no tapa.Tema: liberdade
das crianças; brincadeiras de crianças.

No país do futebol
Futebol assistido pela TV em cores, nos anos 70 era luxo! Apresenta o cotidiano
de trabalhadores e transeuntes que perante uma TV, em dias de jogo do Brasil,
não resistem e usam da TV alheia para torcerem ali mesmo.

O Torcedor Um narrador
torcedor ,no presente, tem seu coração dividido entre o Flamengo
e o Botafogo, e explica. Nasceu Flamengo, mas aos 18 anos decidiu destruir as
convicções que lhe foram passadas ou impostas e começar
do zero. Certa vez, resolveu ir ao cinema e encontrou a cidade vazia, pois Botafogo
e Fluminense jogavam partida de final de campeonato. Na saída, depara-se
com uma família – um senhor de aproximadamente 40 anos, com umfilho no
braço, uma mulher grávida com outros dois meninos em suas mãos.
Mais adiante, eles encontram um cidadão, o qual ouvia um radinho de pilha.
Paralisados diante disso, o senhor perguntou-lhe quanto foi o jogo, ao ouvir
a resposta favorável ao Botafogo, ele exultou. Despediu-se da família
e correu para a sede do clube comemorar. Pasmo diante de tudo isso, o narrador
aproxima-se da mulher agora sozinha com os três filhos mais aquele da
barriga e questionou o que houvera. À resposta foi acrescentada esta
informação: ele foi ao cinema, porque poderia enfartar assistindo
ao jogo, tamanho o seu fascínio pelo time. A partir dele, o personagem-narrador
seria Botafogo.

Parte 5

LIÇÕES – Contos: Lição de
ser
(Lourenço Diaféria), Matemática (Luís
Fernando Veríssimo), Volta às aulas (Carlos E. Novaes)
e Teleco-Teco (José Carlos Oliveira).

Lição de Ser
O cronista traz uma lembrança da sua infância: o velho Béa,
personagem quase mítico, lembrado mais pela sua sabedoria do que pela
sua presença física, a qual se fazia acompanhar de um cigarro
de palha. Sabia das coisas sem precisar conhecê-las diretamente, como
por exemplo, o mar. Mas desse lugar amplo, o qual nunca tinha visto, veio um
dos maiores ensinamentos desse homem. Falava da diferença entre valentia
e coragem, e começou explicando que a distância entre as duas equivale
à da Terra à Lua. Alegorizando a coragem, mostrou, como em uma
parábola, a baleia, animal grandioso, sábio, que só entra
na briga quando sabe o valor do adversário, mede o seu tamanho e força,
vendo-o como possibilidade dele sair vencedor. Uma luta entre iguais. Já
a valentia, não. O tubarão foi o exemplo. Ele impõe medo
com suas mandíbulas, respeito do adversário fraco que o teme e
dele não tem como se salvar. Nesse caso, há uma certa covardia,
pois esse animal conhece o adversário e sabe que vai vencê-lo.
Ponto para a baleia. Por isso, não há espaço par, ela na
cidade, ou ela não se adaptaria, ou se corromperia e tornar-se-ia um
ser valente.Bela lição do Béa. Um ser que morava em uma
casa, onde, quando chovia, o arco-íris parecia terminar lá. Béa
transformou-se em grão de mostarda.

Matemática O narrador
confessa que, quando suas filhas pedem-lhe ajuda sobre as operações
matemáticas aprendidas na escola, ele se recusa a ensinar, por não
saber, mas diz que é para que elas se virem sozinhas, pois assim aprenderão
melhor. Ponto de partida, então, para a divagação da matemática
moderna e a antiga, que exigia dele conhecimento de divisões, as quais
se referiam a questões como: uma mãe com três filhos e uma
laranja para repartir entre eles; uma herança de um terreno dividido
em mesma proporção entre os herdeiros; um trem indo a tal velocidade
e outro com % da velocidade do primeiro… tentativas comuns de transformar
essa ciência em utilidade cotidiana. Mas também, despertava a imaginação:
por que uma só laranja para os três filhos? Uma viúva pobre?
E as crianças com fome, já que uma laranja só não
sacia, não seriam futuros marginais? Os trens não se chocariam
em algum momento? E os herdeiros, como a maioria deles, não brigariam
entre si? É por tudo isso que ele afirma ser a matemática moderna
mais complexa e melhor, já que a vida real não traz em si esses
exemplos nos quais pensava antigamente. O mundo está errado, e essa Ciência
agora nova está à prova de caos.

Volta às aulas Com o subtítulo
“Um retorno cada vez mais caro”, essa crônica tem por temática
o alto custo da educação no país. Juvenal Ouriço
(personagem recorrente desse autor) matricula-se no jardim-de-infância
e, após algumas formalidades, foi posto no jardim três. Ao receber
a lista de material escolar, Juvenal questiona se é material até
o ano do vestibular. O humor da crônica reside em como se dá o
dia de aula para Juvenal Ouriço. Ao terminar a aula, se viu obrigado
a chamar a empregada para buscá-lo, pois só assim, era liberado
para ir para casa. Foi aí que confessou à professora Lúcia
o porquê de estar ali: como tem cinco filhos pequenos, ficaria muito caro
matricular todos eles. Então, ele achou por bem vir no lugar deles e,
ao chegar em casa, repassar para eles o que aprendera – saía mais barato.

Teleco-Teco Um texto alegre
e crítico sobre a “ignorância” da juventude nos anos
70 (reflexivo: e a nossa juventude contemporânea?). O narrador resolve
investigar a inteligência de seu sobrinho Teco, um surfista de 17 anos,
motoqueiro e estudante do 3º ano do 2º grau (hoje, 3ª série
do Ensino Médio). Da entrevista com o garoto, surgem preciosidades como:
Ford inventou o carro de quatro rodas e foi eleito presidente nos Estados Unidos
e foi substituído por Jimmy Carter, na crise da gasolina; os judeus se
uniram aos americanos para acabarem com Hitler; a Rainha da Inglaterra chama-se
Carolina e mora em Mônaco; Cabral não tinha mais saco para procurar
o caminho paras as Índias, viu a praia brasileira e resolveu ficar. Cavou
para encontrar petróleo, como não tinha, aproveitou o buraco para
fazer o metrô. Dumont inventou o avião e percebendo o erro, porque
não havia aeroporto, resolveu fazer do Rio um aeroporto: Aeroporto Santos
Dumont, ganhando muito dinheiro, tanto, que tem dinheiro com a cara dele. Ao
término da entrevista, ele diz não ser feliz, porque tem uma cocota
que quer casar com ele, mas ele só quer ficar na dele, sozinho.

Fonte: Prof. Marco Aurélio – CALL – Centro de Aperfeiçoamento
de Língua e Linguagem. Natal – RN

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