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Venezuela – Populismo: 2. Chávez enfrentou a contra-revolução

by Lucas Gomes

Dezembro/2001 – Chávez enfrentou a contra-revolução – a população da
Venezuela reagiu ao coronel que então queria governar por decretos


A manifestação montada a favor de Chávez e seu encontro com Fidel Castro:
empresários, sindicalistas e estudantes preferiram a greve geral

A Venezuela, a quarta maior economia da América Latina, parou. Ruas e avenidas ficaram vazias, shoppings,
bancos, supermercados e escolas fecharam. Uma greve de doze horas organizada por um grupo que incluiu de
empresários a sindicalistas e de estudantes a latifundiários demonstrou quanto aumentou a reação ao cada
vez mais autoritário governo do presidente Hugo Chávez. A oposição exigiu que Chávez revisse várias leis
de um pacotão de 49 medidas recém-decretadas, entre elas algumas que restringiam a propriedade de terras e
dificultavam novos investimentos no setor petrolífero. Apesar do sucesso da paralisação, o governo não se
moveu um milímetro.

Diante do histórico de agressões e ameaças do presidente ao que ele chamou de “elite de canalhas corruptos”,
acreditou-se que o regime iria isolar-se ainda mais. O ponto mais polêmico do pacote era o que iniciava uma
reforma agrária às pressas. A partir de 18 de dezembro daquele ano, todos os proprietários rurais do país tinham
de demonstrar a titularidade de suas terras e provar que eram produtivas. Em tese, as áreas improdutivas
deveriam ser expropriadas. Os fazendeiros temiam que, na prática, o confisco se transformasse em represálias
políticas ou extorsão pura e simples. Outra medida que impulsionou fortemente a reação foi a que alterou as regras
da exploração, do refino e da distribuição de petróleo. Antes, não havia restrição à constituição de novas
empresas e os royalties pagos pelas companhias estrangeiras instaladas na Venezuela eram de 16%. Agora, novas empresas
teriam de ser sócias – minoritárias – do governo, e os royalties subiram para 30%.

“As medidas são estatistas, intervencionistas e carregadas de elementos ideológicos”, reclamou Pedro Carmona,
diretor da associação empresarial Fedecámaras. “Queremos que o governo aprenda a ouvir a sociedade.” O coronel
Chávez agiu como se a manifestação tivesse fracassado. “Tremam, oligarcas!”, gritou o presidente em uma
manifestação, no mesmo dia do protesto. Só o ouviram 2.500 pessoas, a maior parte delas levada ao local em
ônibus do governo. A popularidade de Chávez, que era de 80% dois anos atrás, agora mal chegava a 40%. Também
pegaram muito mal entre os venezuelanos os ataques do coronel aos Estados Unidos. Entre derramados elogios a
ditadores como Saddam Hussein e Fidel Castro, ele afirmou na TV que “os Estados Unidos estão combatendo terror
com mais terror”. O governo americano já havia afirmado que deixaria a Venezuela de fora de pactos comerciais
com os países andinos. Apesar do discurso exaltado de Chávez, o país vendeu quase 60% de sua produção aos
americanos.

A radicalização era clara. Os opositores preparavam novas paralisações e já havia expectativa de que o presidente
viesse a ser derrubado. Chávez, por sua vez, poderia levar o país à recessão e virar ditador de fato. “O sucesso
da greve significa uma de duas possibilidades: é o início do fim de Chávez ou é a deixa para o começo de uma
ditadura”, disse o venezuelano Moisés Naím, editor da revista americana Foreign Policy e ex-diretor executivo
do Banco Mundial. Depois de quarenta anos de governos democráticos, mas ineficientes e corruptos, a sociedade
venezuelana elegeu com gosto o coronel que tinha tentado um golpe de Estado em 1992. Do alto de sua popularidade,
ele convocou cinco plebiscitos – e venceu todos. O sistema judiciário e eleitoral, as eleições sindicais e o
Congresso ficaram em suas mãos. Agora, com a popularidade em queda, Chávez preferia governar por decreto a
tentar a sorte no Congresso ou em novas consultas populares.

Apesar dos altos preços do petróleo durante a primeira fase de seu mandato, que
permitiram um crescimento de mais de 3% no produto interno bruto no ano de 2000,
Chávez não conseguiu transformar esse dinheiro novo em mais prosperidade para
o país nem em diversificação da economia. Eram considerados pobres 80% dos venezuelanos.
O desemprego atingiu quase 15% da população e o petróleo representou 80% das exportações.
O clima de instabilidade impediu que chegassem novos investimentos estrangeiros
ao país. Apesar do regime militarizado – havia gente fardada em vários ministérios
e na direção de escolas e estatais –, a violência em Caracas só aumentou. À época
ela era a capital mais violenta das Américas. O coronel manteve a pose de valentão,
mas a oposição mostrou que já não se assustava com isso.

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