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Preparem os agogôs, de Gizelda Santana Morais

by Lucas Gomes

A obra Preparem os agogôs, de Gizelda Santana Morais, retrata,
de maneira objetiva, uma história sergipana caracterizada por fatos históricos
que determinam as relações humanas num contexto familiar e institucional,
com temática baseada no tráfico de escravos africanos e da miscigenação
predominante em Sergipe. Em A autora refere-se à história de Sergipe,
sobretudo no que diz respeito à sua miscigenação, construída
nos laços nem sempre afetivos entre a casagrande e a senzala, no bojo
da saga empreendida pelo narrador personagem, Tomás Gonzaga, no afã
de descobrir suas origens étnico-sociais.

Ambientado nos séculos XIX e XX, a narrativa dá ênfase
aos aspectos políticos, econômicos, religiosos e trágicos
que marcaram, de forma rudimentar, as vidas dos personagens, que se entrelaçam
no decorrer da história, para construírem uma epopéia mesclada
entre realidade e ficção.

O foco narrativo é na primeira pessoa passando a diferentes vozes que
ganham destaque através de cartas e escritos produzidas por diferentes
personagens, que também fazem parte da narrativa. O narrador-protagonista,
Tomás, deixa-se levar pela história atemporal para descobrir suas
raízes e inquietações. A síntese é, portanto,
a busca incansável de um homem que procura por sua verdadeira identidade
através de relatos e personagens, que aparecem no decorrer da busca,
tecendo como uma colcha de retalhos, toda a sua genealogia.

Destacam-se aqui personagens de grande valor para compreensão da história,
tais como: Adélia, Elvira, Lazita, Theodora, Agogô e Marcela, entre
outros, que contribuem direta ou indiretamente para o desfecho inesperado do
romance. Outro fato de interesse e importância na obra é em relação
aos diferentes lugares citados na narrativa. A começar pelos países
como Brasil, Nigéria e Bolívia, depois as cidades, Aracaju, Capela,
Estância, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

A estrutura do romance destaca-se pelos títulos atribuídos a
cada capítulo. Ao todo, são quinze capítulos, distribuídos
da seguinte forma: os capítulos que possuem nomes de instrumentos musicais
são na verdade, atribuídos a vozes fúnebres que se misturam
aos instrumentos e todos eles são referentes à atualidade, ao
instante já. São as viagens do narrador-protagonista, assim como
sua vida particular num tempo presente. Observe: Cap. 1 – Guizos, Cap.
3 – Cuícas, Cap. 5 – Atabaques, Cap. 6 – Tambores,
Cap. 8 – Pífaros, Cap. 9 – Sinos, Cap. 11 – Guitarras,
Cap. 12 – Bateria, Cap. 13 – Pandeiro e Cap. 14 – Trio elétrico.
Os outros capítulos estão relacionados à memória
e a relatos através de cartas e anotações. São eles:
Cap. 2 – denominado as falas de Elvira, Cap. 4 – Primeiro caderno
de Elvira, Cap. 7 – Segundo caderno de Elvira. O capítulo 10 é
denominado Caixa de Pandora e o 15 denominado Cheguei, são referentes
a fatos atuais e a finalização do romance.

A narrativa inicia-se quando o protagonista, Tomás, toma consciência
de suas raízes ao lembrar-se de sua tia avó paterna Adélia.
A partir daí, sai em busca de parentes distantes e de documentos para
tentar reconstruir parte de sua ancestralidade. Seu primeiro contato é
com sua tia Elvira, irmã de Adélia, através de uma carta.
Elvira expõe para ele os seus cadernos, que são relatos históricos
relacionados à família e a sua origem. Após sua morte,
Tomás mantém contato com Lazita, filha de Elvira. Outra personagem
de grande importância é Agogô. Escrava africana que vem para
Sergipe ainda menina, onde passa a viver, é violentada, tem dois filhos,
Roque e Jorge, e passa a vida à espera de ser alforriada, sendo humilhada
devido a sua condição. O fator tempo é determinante para
Agogô, já que não possui mais nenhuma expectativa em relação
a sua liberdade.

Frei Lázaro, personagem fundamental para o desfecho, é primo
de Tomás. É ele quem o entrega os manuscritos denominados de Caixa
de Pandora. Estes manuscritos são divididos em três partes: A primeira
parte, denominada de Sons de Roque, relata a história do filho de Agogô.
A segunda, denominada de Lamentos de Solano e Nazinha, é a versão
escrita de Elvira sobre a tragédia de amor e morte da qual resultou Lázaro.
E a terceira é denominada de Cartas roubadas, são cartas escritas
por Marcela e outras por nomes estranhos, como P.F. Estas cartas estão
subdivididas em: a) cartas de Marcela para o irmão, b) cartas de P.F
para o Barão e c) vozes de Lazita, que são blocos de anotações.
A tragicidade acompanha a vida dos personagens durante toda a trajetória
da narrativa. Perdas de ente queridos, desilusão com a vida, a morte,
injustiças e sofrimentos, marcam suas vidas como cicatrizes, que o tempo
não apaga, contextualizado num Brasil escravocrata e explorador dos direitos
humanos.

No último capitulo, intitulado de Cheguei, também é a
última tentativa de busca de Tomás. Esse episódio ocorre
em uma capela, cujas chaves passaram pelas mãos de Luzia, Theodora e
Adélia, agora estão nas de Tomás, onde recebe a revelação
sobre a existência de duas mulheres com o mesmo nome: Maria Pia, uma mãe,
outra filha, sendo uma delas a mãe de Lázaro, em um retrato em
cima de uma pedra funerária. O desfecho então é consolidado
com o retorno de Tomás ao Rio de Janeiro, marcado por sua dor intima
pela perda de sua esposa Marli e a do seu filho Alvino. Perdas que jamais serão
esquecidas.

Créditos: Prof. Ginaldo

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