Home EstudosSala de AulaBiologia Protozooses: 3. Doença de Chagas

Protozooses: 3. Doença de Chagas

by Lucas Gomes



Microscopia ópica do protozoário
parasita Trypanosoma cruzi

A Doença de Chagas é assim denominada em homenagem ao seu descobridor,
o médico brasileiro Dr. Carlos Justiniano Ribeiro das Chagas. Foi descoberta
em 1909, quando Carlos Chagas realizava uma campanha contra a malária
que atingia operários que trabalhavam na construção de
um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil, na região norte do Estado
de Minas Gerais. Carlos Chagas, descreveu o agente etiológico, o transmissor
e o modo de transmissão da doença. É uma doença
transmissível, causado por um parasito do gênero Trypanosoma
e transmitida principalmente através do “barbeiro”, conhecido
também por: chupança, chupão, fincão, bicudo, procotó.

A ocorrência da Doença de Chagas em certa região depende
de três elementos: agente etiológico, vetor ou vetores adequados
e indivíduos susceptíveis.

Primitivamente considerada uma enzootia, isto é, uma doença exclusivamente
de animais silvestres, tornou-se uma zoonose típica, em conseqüência
da grande suscetibilidade do homem e certos animais domésticos, como
o cão e o gato. O parasitismo humano se instalou devido à proliferação
de certas espécies de triatomíneos nos ecótopos artificiais,
passando o ciclo domiciliar e peridomiciliar da infecção a assumir
extraordinária importância. Animais vertebrados silvestres como
marsupiais e roedores, devido às mudanças do meio ambiente, também
se aproximaram das moradias e se adaptaram aos ecótopos artificiais.
Dessa maneira, os triatomíneos e os reservatórios coabitam estes
locais e passam o agente etiológico para o homem. As drogas hoje disponíveis,
são eficazes, apenas na fase inicial da enfermidade, daí a importância
da descoberta precoce da doença. Ainda, não se dispõe de
vacina para uso imediato.

Agente Etiológico

É um protozoário da ordem Kinetoplastida da família Trypanosomatidae
e gênero Trypanosoma, denominado Trypanosoma cruzi.
No homem e nos animais, vive no sangue periférico e nas fibras musculares,
especialmente as cardíacas e digestivas: no inseto transmissor, vive
no tubo digestivo.

Modo de transmissão

O “barbeiro”, em qualquer estágio do seu ciclo de vida, ao
picar uma pessoa ou animal com tripanossomo, suga juntamente com o sangue formas
de T.cruzi, tornando-se um “barbeiro” infectado. Os tripanossomos
se multiplicam no intestino do “barbeiro”, sendo eliminados através
das fezes. A transmissão se dá pelas fezes que o “barbeiro”deposita
sobre a pele da pessoa, enquanto suga o sangue. Geralmente, a picada provoca
coceira e o ato de coçar facilita a penetração do tripanossomo
pelo local da picada. O T.cruzi contido nas fezes do “barbeiro”
pode penetrar no organismo humano, também pela mucosa dos olhos, nariz
e boca ou através de feridas ou cortes recentes existentes na pele. Podemos
ter ainda, outros mecanismos de transmissão através de: transfusão
de sangue, caso o doador seja portador da doença; transmissão
congênita da mãe chagásica, para o filho via placenta; manipulação
de caça (ingestão de carne contaminada) e acidentalmente em laboratórios.

Período de incubação

Oscila entre 4 e 10 dias, quando a transmissão é pelos triatomíneos,
sendo geralmente assintomáticos. Nos casos de transmissão transfusional,
pode alongar-se entre 20 ou mais dias.

Vetores

O “barbeiro”, é um inseto artrópode da classe Insecta,
ordem Hemiptera, família Reduviidae e subfamília
Triatominae que se alimenta exclusivamente de vertebrados homeotérmicos,
sendo chamados hematófagos. A principal espécie propagadora da
Doença de Chagas no Estado de São Paulo, foi o Triatoma infestans,
hoje eliminado do nosso meio. Persistem ainda as espécies de menor importância
como Panstrongylus megistus e o Triatoma sordida amplamente distribuídos.
Geralmente, abrigam-se em local muito próximo à fonte de alimento
e podem ser encontrados na mata, escondidos em ninhos de pássaros, toca
de animais, casca de tronco de árvore, montes de lenha e embaixo de pedras.
Vivem em média entre um a dois anos, com evolução de ovo,
ninfa e adulto. Apresentam grande capacidade de reprodução e,
dependendo da espécie, intensa resistência ao jejum.

Ciclo evolutivo

Ovo: A fêmea copula uma só vez e transcorridos
cerca de 20 a 30 dias começa a postura. Cada fêmea ovipõe
cerca de 200 ovos. A eclosão dos ovos, varia conforme a temperatura ambiente
e a espécie, ocorrendo em média um período de 25 dias.
Logo após a postura, os ovos são brancos, porém em contato
com o ar vão amarelando e depois de 6 a 7 dias tornam-se róseos
na medida em que se aproxima o momento da eclosão.
Ninfas: Dos ovos eclodidos, nascem às ninfas. Procuram
alimento de 2 ou 3 dias depois de nascidos e após sua primeira refeição
a ninfa sofrerá mudanças em seu corpo, com a perda de sua pele.
O “barbeiro” passa ao todo por 5 mudas até atingir o estádio
adulto.
Adultos: Um adulto vive alguns meses, podendo alcançar
um ano ou mais. As fêmeas efetuam a primeira postura com cerca de 2 meses.
Após a postura, tendem a migrar e formar novas colônias. O ciclo
de vida dura em média de 1 a 2 anos.

Diagnóstico

O diagnóstico, compreende o exame clínico e laboratorial (pesquisa
do parasito no sangue), na fase aguda e exame clínico, sorológico,
eletrocardiograma e raio X, na fase crônica. Nos dois casos, deve-se levar
em consideração a investigação epidemiológica.

Sintomas

Os sinais iniciais da doença se produzem no próprio local, onde
se deu a contaminação pelas fezes do inseto. Estes sinais, surgem
mais ou menos de 4 a 6 dias, após o contato do “barbeiro “com
a sua vítima. Os sintomas variam de acordo com a fase da doença,
que pode ser classificada em aguda e crônica.

Fase aguda: Febre, mal estar, falta de apetite, edemas localizados
na pálpebra (sinal de Romanã) ou em outras partes do corpo (chagoma
de inoculação), enfartamento de gânglios, aumento do baço
e do fígado e distúrbios cardíacos. Em crianças,
o quadro pode se agravar e levar à morte. Frequentemente, nesta fase,
não há qualquer manifestação clínica da doença,
podendo passar desapercebida.

Fase crônica: Nesta fase, muitos pacientes podem passar
um longo período, ou mesmo toda a sua vida, sem apresentar nenhuma manifestação
da doença, embora sejam portadores do T.cruzi . Em outros casos, a doença
prossegue ativamente, passada a fase inicial, podendo comprometer muitos setores
do organismo, salientando-se o coração e o aparelho digestivo.

Profilaxia

Baseiam-se principalmente em medidas de controle ao “barbeiro”, impedindo
a sua proliferação nas moradias e em seus arredores. Além
de medidas específicas (inquéritos sorológicos , entomológicos
e desinsetização), as atividades de educação em
saúde, devem estar inseridas em todas as ações de controle,
bem como, as medidas a serem tomadas pela população local, tais
como:

– melhorar habitação, através de reboco e tamponamento
de rachaduras e frestas;
– usar telas em portas e janelas;
– impedir a permanência de animais , como cão, o gato, macaco e
outros no interior da casa;
– evitar montes de lenhas, telhas ou outros entulhos no interior e arredores
da casa;
– construir galinheiro, paiol, tulha, chiqueiro , depósito afastado das
casas e mantê-los limpos;
– retirar ninhos de pássaros dos beirais das casas;
– manter limpeza periódica nas casas e em seus arredores;
– difundir junto aos amigos, parentes , vizinhos, os conhecimentos básicos
sobre a doença, vetor e sobre as medidas preventivas;
– encaminhar os insetos suspeitos de serem “barbeiros”, para o serviço
de saúde mais próximo.

CICLO

Posts Relacionados