Home EstudosSala de AulaPortuguês Dissertação e Narração: 2. Exemplos de microtextos dissertativos

Dissertação e Narração: 2. Exemplos de microtextos dissertativos

by Lucas Gomes

Como já sabemos, a dissertação é o tipo de composição na qual expomos idéias gerais (tese), seguidas da apresentação de argumentos (exposição) que as comprovem e, por fim, a conclusão.

Um único parágrafo pode apresentar uma organização dissertativa, veja os exemplos:

Dissertações baseadas em charge com o mesmo tema

1º) Tem havido muitos debates sobre a eficiência do sistema educacional brasileiro. Argumentam alguns que ele deve ter por objetivo despertar no estudante a capacidade de absorver informações dos mais diferentes tipos e relacioná-las com a realidade circundante. Um sistema de ensino voltado para a compreensão dos problemas socioeconômicos e que despertasse no aluno a curiosidade científica seria por demais desejável.

2º) Embora a economia brasileira demonstre alguns sinais de reativação, fica difícil fazer qualquer prognóstico quanto à inflação, pela falta de uma visão mais clara do programa de ajuste a ser implantado pelo governo. O que se pode afirmar é que o aumento dos atuais índices inflacionários pode significar o início de um total descontrole dessas taxas. Além disso parece claro que a recuperação da economia depende basicamente da capacidade do mercado, o que depende evidentemente de uma significativa recuperação do emprego e do salário.

3º) Apesar da intenção do governo em promover o aquecimento de nossa economia através de seu programa de ajuste, é alarmante a fragilidade de nossa moeda, depois de atravessar o período crítico da fase recessiva. Dificilmente haverá um fortalecimento da moeda e reaquecimento da economia, a não ser que o governo consiga estabilizar as taxas inflacionárias e dar sustentação ao mercado de trabalho, por intermédio de uma política de recuperação do emprego e do salário.

Dissertação a partir de um ou mais textos (linguagem verbal e linguagem não-verbal)

4º) O principal problema das estatais é que são mal-administradas. Desperdiçam dinheiro, não geram lucros e, ao contrário disso, estão endividadas. Nos últimos anos de recessão, as empresas privadas demitiram funcionários em massa, enquanto as estatais não demitiram. No passado, desempenharam papel importante na economia, promovendo o desenvolvimento econômico. Hoje, porém, as circunstâncias mudaram e elas ocupam espaços que poderiam ser ocupados pela livre iniciativa. São um problema econômico, pois o governo não dispõe de recursos para sustentá-las e elas funcionam mal. São também um problema político, pois o governo, de certa forma, perdeu o controle sobre elas.

Ilustração (dissertação) narrativa e descritiva

5º) “Até há cerca de dez anos, ao pesquisar apartamentos de bom nível para comprar, o brasileiro prestava muita atenção no tamanho da sala de visitas, no conforto da suíte do casal e na praticidade da cozinha. Às vezes, esses apartamentos incluíam uma varanda, mas com freqüência era a parte menos notada da planta. No estilo arquitetônico vigente na época, os prédios eram caixotões de concreto e vidro com linhas retas e duras, e as varandas, com raríssimas exceções, não passavam de pequenos recortes na fachada – às vezes menores ainda que os minúsculos quartos de empregada. De uns tempos para cá, um sopro de ar refrescou a moradia urbana. Embora continue a prestar atenção na sala e nos quartos ao comprar um imóvel, o brasileiro descobriu uma paixão arrebatada pelas varandas. Os arquitetos as reinventaram como peças fundamentais dos apartamentos. Hoje, basta um passeio pelas ruas das grandes cidades para constatar que as varandas protagonizam a mais persistente mudança na arquitetura vertical brasileira.”
(Revista Veja, 24/2/93)

6º) “Não é preciso ser filósofo para ter idéias. A diferença é que o filósofo procura construir, através do estudo e da reflexão, um sistema mais ou menos coerente de idéias para, a partir dele, interpretar e criticar a realidade. A maioria das pessoas, no entanto, vai formando seu conjunto de idéias sem muita reflexão. Esse conjunto de idéias recebe o nome de ideologia. Todos nós temos nossa ideologia, mas de maneira geral não temos consciência disso. Julgamos que nossas idéias refletem sempre a realidade. Não nos damos conta de que muitas dessas idéias foram colocadas em nossa cabeça pela educação familiar, pela escola, televisão, moda, cinema, etc.”
(Pilleti, Claudino. Filosofia da educação. 2. ed. São Paulo. Ed. Ática. 1991)

7º) “A História mostra que o convívio social foi (e continua a ser) decisivo para o desenvolvimento da humanidade. As descobertas de um membro do grupo, comunicadas aos outros, tornam-se estímulo de ponto de partida para novos aperfeiçoamentos e novas descobertas. Transmitidas de geração em geração, não se perdem com a morte de seus descobridores. Recomeçando de onde outros pararam, as novas gerações podem avançar sempre mais. Graças à sociabilidade, que colocou em comum os esforços de muitas inteligências, a humanidade das cavernas já avança rapidamente na conquista do universo extraterreno.”
(Gleuso Damasceno Duarte)

8º) É fundamental pensar os aspectos morais da sexualidade, refletindo sobre as instituições perpetuadoras dos padrões de comportamento que, na maioria das vezes, cercam de preconceitos o despertar sexual, como a Igreja, a família e a escola. Os aspectos sociais do problema dizem respeito à responsabilidade decorrente de relações imaturas que podem provocar desequilíbrios emocionais, doenças venéreas ou ainda levar a uma gravidez não-planejada.

9º) “O papel do negro escravo foi decisivo para os começos da história econômica de um país fundado, como era o caso do Brasil, sob o signo do parasitismo imperialista. Sem o escravo, a estrutura econômica do país jamais teria existido. O africano escravizado construiu as fundações da nova sociedade com a flexão e a quebra de sua espinha dorsal, quando ao mesmo tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela colônia. Ele plantou, alimentou e colheu a riqueza material do país para o desfrute exclusivo da aristocracia branca; tanto nas plantações de cana-de-açúcar e café e na mineração, quanto nas cidades, o africano incorporava as mãos e os pés das classes dirigentes que não se autodegradavam em ocupações vis como aquelas do trabalho braçal. A nobilitante ocupação das classes dirigentes – os latifundiários, os comerciantes, os sacerdotes católicos – consistia no exercício da intolerância, no cultivo da ignorância, do preconceito, e na prática das mais licenciosa luxúria.”
(Abdias do Nascimento)

10º) “Não se pode imaginar contraste mais o violento do que o existente entre duas regiões. De um lado, a terra escura, pegajosa, úmida, cavada de sulcos ou embebida de água, com árvores frutíferas, mangueiras, laranjeiras, canaviais, rios limosos. De outro lado, um caos de pedras cinzentas cavadas em desordem no chão de argila seca, rachado pelo sol, e vastas extensões de areia ardente. No litoral, a riqueza da vegetação exuberante, de um verde quase negro, com raízes mergulhadas nos pântanos e o cimo muitas vezes coroado de brumas matinais – plantas que arrebentam de seiva, de mel, de perfumes. No sertão, a caatinga, como lhe chamavam os índios, com uma vegetação de cactos, de moitas espinhosas, de ervas raquíticas, amarelas, calcinadas, de árvores esqueléticas com folhas raivosamente eriçadas, transformadas em espinhos ou arestas, de árvores ventrudas que são como odres para reter sob a casca rugosa a maior quantidade possível da mesquinha água da chuva. À paisagem voluptosa da cana-de-açúcar, em que tudo é tentação de vadiar, de dormir, de sonhar, de amar, opões-se esta paisagem dura, angulosa, trágica.”
(Roger Bastide)

Texto dissertativo enumerativo

11º) O universo mais próximo

        A primeira dificuldade do telescópio, cujos olhos eletrônicos deverão sondar distâncias de até 14 bilhões de anos-luz, próximo ao momento do nascimento do Universo, envolve uma antena de transmissão de dados que ficou presa a um cabo. Sem a antena, o Hubble, que pode transmitir dados de uma enciclopédia de 30 volumes num período de 42 minutos, seria pouco mais que uma das milhares de peças, de parafusos a restos de foguetes e satélites, que formam crescente nuvem de lixo em órbita da Terra.de transmissão.
(Ulisses Capozoli)

12º) As funções dos meios de comunicação

        Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atribuídas aos meios de comunicação de massa: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos, comentários etc. sobre a realidade, acompanhada, ou não, de interpretações ou explicações. A segunda função atende à procura de distração, de evasão, de divertimento, por parte do público, Uma terceira função é persuadir o indivíduo – convencê-lo a adquirir certo produto, a votar em certo candidato, a se comportar de acordo com os desejos de um anunciante. A quarta função é – ensinar – é realizada de modo indireto ou direto, intencional ou não, por meio de material para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos, planos, destrezas etc.
(Samuel Piremm Netto)

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