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Relação Pais e Filhos e a Escolha Profissional

by Lucas Gomes

Certo dia recebemos um telefonema de um pai perguntando como funcionava nosso programa de orientação vocacional. Expusemos nossos objetivos e metodologia, tempo e custos e ao perguntarmos a idade do filho, ele nos respondeu que o menino tinha poucos meses de vida. O pai se dizia preocupado com o futuro da criança e gostaria de incentivar o desenvolvimento de suas aptidões. Para isto precisaria conhecê-las o mais precocemente possível o que indicaria um trabalho de orientação vocacional.

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Num primeiro momento ficamos espantados com a solicitação e nos questionamos o porque do pai ter tal tipo de preocupação com uma criança tão nova. Depois percebemos que a coisa não era tão absurda assim. Na verdade o pai apenas estava expressando o que está presente no cotidiano da relação pais e filhos: as expectativas de futuro que todos tem sobre o desenrolar da vida dos filhos. Os pais querem ver seus filhos felizes e esta palavrinha é recheada de significados bastante distintos. Na adolescência, muitas vezes isto fica claro: o que o pais consideram o que é bom para os filhos, eles, muitas vezes, não consideram tanto assim.

Quando os pais escolhem o nome de seus filhos, já trazem para o pequeno ser que acabou de nascer expectativas de como eles gostariam que ele fosse como um adulto. Os nomes escolhidos evocam as expectativas dos pais e seguramente não é só a sonoridade do nome que pesa nesta escolha. Um personagem de livro, um parente, um amigo, uma personagem de novela consubstanciam o que os pais querem e esperam de seus filhos.

Na escolha da escola o mesmo acontece. Qual a melhor escola para o meu filho? Logicamente a resposta não é igual para todos os pais que procurarão instituições que estejam de acordo com seus valores que podem variar de família para família. Para alguns o que é uma escola boa pode não ser considerado por outras famílias da mesma forma. Mas em todo o caso a escola escolhida deve responder as expectativas que a família tem sobre como deve formar seu filho, sempre pensando nos futuro deles.

Colocar os filhos no judô, natação, ballet, inglês, computação e toda a sorte de outras atividades também expressam expectativas.

Assim, na vivência das relações, primeiramente entre pais e filhos e depois de forma mais ampla na sociedade, rolam expectativas que são incorporadas pelos filhos, que se apropriam delas e que mais tarde, no momento da escolha profissional serão retomadas e ressignificadas através da reflexão e, concordando ou não com elas, servirão para a elaboração do seu projeto profissional.

Portanto a pergunta que muitos pais fazem se devem ou não interferir na escolha profissional dos filhos está mal colocada. Os pais já interferiram, ao transmitirem normas, valores, crenças que serão referenciais da escolha. Por isso, sempre orientamos aos pais, quando seus filhos vivem a questão da escolha profissional, que podem e até devem explicitar suas visões. Mas não se espere que os filhos obedeçam cegamente. Seguramente os filhos refletirão sobre aquelas posições e terão ainda mais condições de realizar uma escolha bem pensada, mesmo quando elas não estejam de acordo com as expectativas.

O que envolve uma escolha profissional?

Escolher profissão significa fazer projeto de futuro. A escolha profissional faz parte do projeto de vida de uma pessoa. Mais do que descobrir vocação, é a hora de olhar o passado pessoal, conhecer as profissões e a realidade social, política e econômica que envolve essa decisão. É hora de decidir quem se pretende ser, o que se pretende fazer e que mundo gostaria de construir.

O autoconhecimento é parte integrante do processo de escolha. Este”conhecimento de si” se dá através da reflexão do vivido. Parar para pensar como as relações estabelecidas nos vários grupos do qual participa, família, grupo de amizade, de lazer, de esporte, religioso e outros, ajuda a entender como se tem sido; quais são nossos valores, habilidades e características pessoais. Isso também leva a pensar em quem se pretende ser, e a modificar aspectos dos quais não se gosta ou a desenvolver outras características que gostaria de ter.

Conhecer as profissões é outro aspecto fundamental no processo de decisão. Quanto mais bem informada a pessoa estiver, melhor será. Essa aquisição de conhecimento pode ser feita de várias formas, mas o mais adequado é que se façam todas, como por exemplo a leitura de manuais e guias específicos de informação profissional, os manuais de inscrição de vestibulares que apresentam seus cursos, entre outros. Conversar com profissionais também é interessante, ler jornais e revistas que trazem reportagens tratando direta ou indiretamente das profissões… É possível também pesquisar na Internet, apesar da dificuldade da percepção da fidedignidade da fonte de informação.

O que observamos hoje em dia é que os jovens têm se dedicado mais ao vestibular do que à escolha profissional. A idéia por trás disso é que a escolha se resolverá um dia e que o conhecimento exigido pelo vestibular é grande e cumulativo, e por isso não se deve perder tempo. Infelizmente essa concepção explica em parte o grande índice de evasão nos cursos superiores. O vestibular deveria se entendido como conseqüência da escolha. Afinal, para que serve prestar vestibular se não se sabe o que se quer fazer, ou pelo menos que curso escolher?

Então, todos devem fazer teste vocacional?

Somos bastante críticos ao teste vocacional, principalmente porque se passa a impressão que alguém pode indicar para outro o rumo que deve seguir. O principal interessado fica numa posição passiva de apenas aceitar ou não a indicação dada. O nace – orientação vocacional, não trabalha com testes.

Defendemos a idéia que todos deveriam ter o direito de participar de programas de orientação profissional, no sentido de que, como afirmamos em nosso livro Orientação Profissional: A abordagem Sócio-histórica, “um programa de Orientação Profissional … deve se constituir, como um conjunto de intervenções que visam à apropriação dos chamados determinantes da escolha. Estes determinantes é que levam à compreensão das decisões a serem tomadas e possibilitam a elaboração de projetos.

“A melhor escolha profissional é aquela que consegue dar conta (reflexão) do maior número de determinações para, a partir delas, construir esboços de projetos de vida profissional e pessoal. Utiliza-se o termo projeto para firmar a possibilidade da transformação/mudança da pessoa e, porque não, também de toda a sociedade na qual ela está inserida.”

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* Silvio Duarte Bock é Pedagogo, doutorando em educação pela Unicamp, diretor do Instituto nace – orientação vocacional.

“A Relação Pais e Filhos e a Escolha profissional” (http://www.nace.com.br/doc/paisefilhos.pdf, acessado em 19/07/2011)

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