Home EstudosLivros Tarantão, meu patrão (Conto de Primeiras Estórias), de Guimarães Rosa

Tarantão, meu patrão (Conto de Primeiras Estórias), de Guimarães Rosa

by Lucas Gomes

Outro conto com anticlímax. É a estória de um “louco-iluminado” da galeria roseana,
o Iô Jão-de-Barros-Dinis-Robertes, narrada em primeira pessoa por Vagalume, ajudante-de-ordens
do protagonista e encarregado de cuidar dele, que, envelhecido, era dado a doideiras e desatinos.

O apelido “Tarantão” deriva exatamente de “atarantado”, que
significa “doido”, “atrapalhado”. Lembra D. Quixote, visionário,
inadaptado ao real.

O tema é recorrende em Guimarães Rosa: turbulência e a harmonia restabelecida.

Enredo

É a história de um velho que já fora mandão e que tinha sido afastado da família, por causa de
sua caduquice – que já pode ser vislumbrada de início pelo costume da personagem de usar
botas desiguais. O narrador, Ligeiro ou Vagalume – eis aqui um ponto de contato com
As Margens da Alegria e A Partida do Audaz Navegante – tem a função de cuidar do
idoso, mas se vê em apuros, já que o ancião tem um surto e, armado de uma velha faca de
cozinha enferrujada, parte numa busca maluca para se vingar de um médico que o havia feito
sofrer com aplicação de remédio e lavagem intestinal.

Achando que a viagem, dominada pelo instinto de vingança, era guiada pelo diabo, o
narrador segue Tarantão, na tentativa de evitar algum infortúnio. E o velho parece
disposto a criar um grande estrago, pois vai arregimentando toda espécie de marginalizados,
loucos, bandidos, desvalidos. Constrói, portanto, uma tropa, tornando-se uma paródia do rei
Arthur.

Chegando à cidade, Tarantão pede bênção ao padre, o que tranqüiliza o narrador. A viagem não
está sendo guiada de todo pelo maldito. E então, o anticlímax. Entra na casa do doutor. Era
festa de batizado do filho do médico. Tarantão retribui a forma afetiva com que foi recebido
com um discurso, que não se entende, mas que comove a todos. Sentou-se, depois, em uma mesa à
parte, junto dos seus cavaleiros.

Poucos dias após isso, morreu. Deve-se entender sua viagem, pois, como uma última explosão
de vida, como se tivesse recebido a missão de poder experimentar uma explosão de existência.

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