Home EstudosSala de AulaHistoria A Revolução Islâmica

A Revolução Islâmica

by Lucas Gomes


O xá Reza Pahlevi

A Revolução Islâmica do Irã começou como
um movimento popular pela democratização e terminou com a criação
do primeiro Estado islâmico. O episódio transformou completamente
a estrutura social do país e foi um dos momentos que marcaram o século
20.

Antes da revolução, o Irã era governado pelo xá
Reza Pahlevi. O poder era concentrado dentro de seu círculo de amigos
e aliados. A desigualdade entre ricos e pobres se aprofundou nos anos 1970.
Críticas à política econômica e ao estilo autoritário
do xá estimularam a oposição ao seu regime.

As principais vozes da oposição se concentraram atrás
da figura do aiatolá Ruhollah Khomeini, um clérigo xiita que vivia
exilado em Paris. Ele prometeu reformas sociais e econômicas. E receitou
uma retomada de valores religiosos tradicionais muçulmanos.


Em 1º de fevereiro de 1979, o aiatolá Khomeini voltou ao Irã
de seu exílio na
França. A instabilidade política e social aumentou. Em várias
cidades, ocorreram
enfrentamentos entre militantes pró-Khomeini e a polícia e manifestantes
a favor
do regime.

No final dos anos 70, uma série de protestos violentos contra o regime
de Pahlevi tomou as ruas do Irã. A instabilidade aumentou com uma onda
de greves gerais, que abalaram também a economia iraniana. Em 1978, os
opositores esquerdistas, liberais e xiitas uniram-se para desencadear um processo
revolucionário. Em fevereiro de 1979, as forças revolucionárias
depuseram o xá e assumiram o controle do governo, enquanto Reza Pahlevi
fugia do país.

Em 1º de abril de 1979, o Irã foi declarado oficialmente uma República
Islâmica, cuja autoridade suprema era o chefe e guia religioso, o aiatolá
Khomeini. Junto de seus seguidores, o aiatolá estabeleceu novas leis,
baseadas nos preceitos do Islã, que regulamentavam a vida dos iranianos.
Neste mesmo ano, com o apoio do governo dos aiatolás houve uma tomada
de reféns por militantes islâmicos na embaixada americana em Teerã,
que durou um ano e meio e selou o fim das relações entre Irã
e EUA.


Em 11 de fevereiro, tanques tomaram as ruas de Teerã
entre rumores de golpe militar. Mas, com o passar do dia,
ficou claro que o Exército não estava interessado em tomar
o poder. Os revolucionários tomaram a principal estação
de
rádio da capital e declararam: “Esta é a voz da revolução

do povo do Irã!”.

Com a Revolução Islâmica, locais sagrados foram confiscados,
os bahá’ís impedidos de entrar na universidade ou de receber
aposentadoria e demitidos. As assembléias locais, presentes em cada cidade
e país, foram banidas e seus integrantes mortos. Na década de
1980, mais de 50 mil bahá’ís que deixaram o Irã para
se refugiar em outros países, inclusive o Brasil. Com mais de 7 milhões
de seguidores no mundo – 2 milhões deles na Índia, 350 mil no
Irã e 150 mil dos Estados Unidos -, a religião bahá’i
está entre as dez maiores do mundo e é a segunda mais espalhada,
com presença em 178 países, segundo a enciclopédia britânica.

Em plena Guerra
Fria
, o governo proclamou sua independência dos blocos americano e
soviético e inundou o mundo islâmico, incluindo os países
de maioria sunita (facção rival e majoritária no islã),
com livros e fitas cassete contendo discursos incendiários instando ao
levante contra governos “infiéis”.

A Revolução Islâmica coincidiu com a decadência
dos projetos nacionalistas e panarabistas que predominaram no Oriente Médio
dos anos 50 aos 70. Militantes muçulmanos reprimidos por governos que
consideravam o islã uma ameaça – na Turquia, na Síria,
no Egito – ganharam autoconfiança com o êxito da revolta iraniana
em derrubar o regime abertamente antirreligioso e pró-americano do xá.
A revolução permitiu ao fundamentalismo tornar-se uma força
que mudou a concepção do islã político do Marrocos
à Malásia.

Meses após a revolução no Irã, radicais sauditas
tomaram a mesquita de Meca, num sequestro que terminou em banho de sangue no
lugar mais sagrado do islã. Em 1981, um jovem soldado religioso metralhou,
a mando de oposicionistas radicais, o ditador egípcio Anuar Sadat, em
represália ao acordo de paz com Israel.
No ano seguinte, logo após a invasão israelense do Líbano
para expulsar de lá a liderança laica da Organização
para Libertação da Palestina (OLP), surgia o Hizbollah, grupo
xiita inspirado na Revolução Islâmica que hoje, misto de
milícia e partido, participa do governo libanês. Com ojeriza ao
regime de Teerã, o Ocidente forneceu armas e dinheiro ao Iraque de Saddam
Hussein em sua longa guerra com o Irã.

“O poder de inspirar e apoiar grupos islâmicos em outros países
teve um alto custo político e não trouxe ganhos concretos para
os aiatolás, que seguiram governando o país após a morte
de Khomeini, em 1989. A revolução é responsável
direta pelo isolamento internacional de Teerã”, disse Trita Parsi,
presidente do Conselho Iraniano-Americano, citando as várias rodadas
de sanções econômicas e comerciais impostas ao Irã
e até hoje em vigor.

Concorda Fariba Adelkhah, do Centro de Estudos e Relações Estratégicas
de Paris. “O islã radical pode até ter proliferado após
1979, mas o Irã continua sozinho.” Ela chama de “circunstancial
convergência de interesses” a boa relação entre os
governos sírio e iraniano.

Mesmo assim, o Irã é visto como incontornável – devido
a seu tamanho e localização, seus recursos naturais e seus contatos
privilegiados com grupos radicais influentes. “O governo sente a pressão
externa, e muitos segmentos da sociedade iraniana estão em descompasso
com os aiatolás. Mas o regime está firme e forte”, afirma
Parsi.

Quando entre os anos 50 e 70, Irã e EUA romperam relações
diplomáticas depois que militantes, em represália ao asilo dado
pelo então presidente Jimmy Carter ao xá deposto, tomaram 52 reféns
na embaixada americana em Teerã, em 1979, abriu-se a era de sanções
comerciais contra o Irã.

Sob Bill Clinton (1993-2001), os EUA estiveram próximos da retomada
do diálogo com o Irã, então presidido pelo reformista Mohammed
Khatami. Mas George W. Bush, sucessor de Clinton, incluiu o país no “eixo
do mal”, com Iraque e Coreia do Norte, e acusou Teerã de fomentar
o terrorismo e de desenvolver um programa nuclear secreto. O Irã nega
as alegações, mas houve nos últimos meses vários
relatos de um possível ataque aéreo israelense ou americano contra
as centrais atômicas iranianas.

Cumprindo promessa de campanha, Obama reiterou após a posse sua disposição
de conversar com o Irã. O presidente linha dura, Mahmoud Ahmadinejad,
respondeu listando condições – entre as quais um pedido de desculpas
pelos “crimes contra o Irã” e o improvável fim do apoio
da Casa Branca a Israel. Outros líderes iranianos, como o ex-presidente
Akbar Hafsanjani, foram mais comedidos, dizendo-se na expectativa de que Obama
mude a política americana de estimular a “mudança de regime”
em Teerã.

A maioria dos analistas acredita que uma negociação direta só
deve começar de fato após as eleições presidenciais
iranianas de junho, nas quais Ahmadinejad, candidato à reeleição,
enfrentará rivais mais e menos pragmáticos que ele. “É
uma tremenda oportunidade que está se abrindo entre os dois países”,
diz Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Americano-Iraniano. “O
caminho da diplomacia é complicado e lento, mas é o único
possível para dissipar de vez o risco de um conflito militar envolvendo
o Irã”, afirma.

Pérsia

Boa parte da força do Irã como interlocutor das grandes potências
vem do papel peculiar que o país teve na história. Ao contrário
da maioria dos vizinhos, como o Iraque e o Paquistão, não foi
colonizado nem “criado” por estrangeiros.

O Irã de hoje descende diretamente do Império Persa de 2.500
anos atrás – um dos maiores na Antiguidade – e até 1935 era conhecido
internacionalmente como Pérsia. Isso explica, apesar de existirem minorias
árabes e curdas, a relativa coesão territorial, linguística
e cultural da nação iraniana, descrita na literatura como altiva
e orgulhosa.

Ao longo do século 20 o Irã ensaiou alianças – com a
Alemanha nazista na Segunda Guerra e com os EUA na Guerra Fria -, mas sempre
buscou manter autonomia.

CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO ISLÂMICA

A Revolução Islâmica abriu uma nova era geopolítica
no Oriente Médio. A seguir, as principais mudanças que a Revolução
Islâmica de 1979 provocaram:

NO IRÃ NO MUNDO
– A derrubada de um sistema monárquico que datava
de 2500 anos;
– O estabelecimento de um governo islâmico baseado no Alcorão,
na shari’a e na Escola de Ahlul Bait (A. S.), que diz respeito aos familiares
do Profeta (S.A.A.S);
– Expulsão dos conselheiros norte-americanos;
– Aniquilação da Savak;
– Encerramento da Embaixada de Israel e estabelecimento da Embaixada da
Palestina;
– Adoção de uma nova bandeira com as inscrições
“Allah-o Akbar” (Deus é Grande) que é repetida
22 vezes, 11 vezes em cada faixa. O número 22 foi escolhido uma vez
que a Revolução Islâmica de 1979 derrubou o regime do
Shah no dia 22 do 11º mês do calendário islâmico;
– Encerramento das bases militares dos EUA no Irã;
– Criação de milhares de fundações e centros
islâmicos culturais na cidade sagrada de Qom e outras cidades;
– Movimento de alfabetização;
– Formação dos “Guardas da Revolução”,
uma força paramilitar iraniana cuja estrutura é independente
das forças armadas regulares;
– Estabelecimento do movimento de construção, formado por
milhares de jovens revolucionários e voluntários que construíram
estradas, hospitais, escolas, plantações, centros sanitários,
electricidade, água, e gás aos pontos mais distantes do país;
– Condução do povo, em todos os aspectos, à auto-suficiência,
inclusive à exportação – o Irã alcançou
a auto-suficiência na produção de trigo, vindo a tornar-se
exportador deste produto, enquanto que durante a era do Shah o país
era um dos principais importadores.
– O despertar dos muçulmanos em
todo o mundo e o regresso à espiritualidade e ao pensamento islâmico;
– Despertar da religião no mundo e retorno da fé e da religião
à vida dos muçulmanos;
– Expansão do pensamento islâmico;
– A humilhação dos super-poderes perante os olhos dos oprimidos;
– Apresentação de um modelo de doutrina política baseado
na religião;
– Retorno dos indivíduos ao Islã, especialmente à Escola
de Ahlul Bait (A.S.), uma vez que o Íman Khomeini era um religioso
educado nela;
– Desenvolvimento da ideia pela procura de independência e liberdade
em todo o mundo.

REVOLUÇÃO ISLÂMICA COMPLETA 30 ANOS NO IRÃ


Um homem segura a foto do aiatolá Ruhollah Khomeini
enquanto participa, em Teerã, da cerimônia do 30º
aniversário da Revolução Islâmica do Irã

Sob a sombra de seu passado e apreensivo por seu incerto futuro, o Irã
iniciou em 31 de janeiro último, os festejos do 30º aniversário
da Revolução Islâmica, que derrubou a monarquia pró-ocidental
do último Xá da Pérsia, Reza Pahlevi, sacudindo a ordem do
tabuleiro mundial.

O desajuste entre o calendário solar do Ocidente e o lunar que marca
o almanaque persa faz com que, neste ano, as comemorações tenham
início no sábado, dia no qual se lembra o retorno do aiatolá
Khomeini do exílio, e terminem em 10 de fevereiro, data na qual oficialmente
a revolução saiu vitoriosa.

O aiatolá retornou a Teerã no dia 12 do mês Bahman do calendário
persa – que em 1979 coincidiu com 1º de fevereiro – recebido por multidões
após 15 anos de oposição à monarquia do exílio,
primeiro em Bagdá e depois em Paris. Sua volta, precedida por meses de
distúrbios, sangue e sofrimento, revitalizou os amotinados, que, dez
dias depois, proclamariam vitória.

Como acontece em todos os anos, escolas, meios de transporte e repartições
públicas tocaram seus sinos e buzinas às 9h33 locais (14h33 de
Brasília), horário em que pousou o avião da Airfrance no
qual retornava o aiatolá, há 30 anos.

Além disso, milhares de pessoas, encabeçadas pelo atual chefe
supremo da revolução iraniana, aiatolá Ali Khamenei, e
pelo presidente da República, Mahmoud Ahmadinejad, concentraram-se pela
manhã no mausoléu Ruhollah Khomeini, no sul de Teerã, para
lhe prestar tributo.

Três décadas depois, a República Islâmica imposta
pelo aiatolá enfrenta uma etapa crucial, dividida entre aqueles que a
viveram, apoiaram e sofreram o golpe, e aqueles que cresceram durante ela, mas
só conhecem seu significado pelos relatos de seus pais e avôs.
Estes mais jovens, com menos de 35 anos, formam quase 50% da população
atual do Irã e têm o deposto Xá de Pérsia, Mohamad
Reza Pahlevi, como um personagem distante do passado que pouco tem a ver com
seus problemas atuais.

“Sabemos o que significou a revolução e que tipo de gente
era o Xá, mas agora existem outros problemas. Devemos olhar para o futuro,
precisamos de mudança”, diz um jovem blogueiro que trabalha em um
cybercafé da praça de Tajrish, no norte de Teerã, e se
identifica apenas como Masoumeh.

Para muitos iranianos, esse futuro passa por uma mudança na relação
com o Ocidente, que após a fuga de seu aliado Pahlevi e a ascensão
ao poder de clérigos ultraconservadores, decidiu isolar e combater o
novo regime. “Talvez possa ser mais possível agora que faz dez anos
da vitória dos “aberturistas” do (ex-presidente, Mohamad) Khatami”,
diz um diplomata europeu que prefere não ser identificado. “Antes
havia uma disputa não declarada entre os reformistas e os conservadores
para dirigir a mudança. Agora são estes últimos os que
decidem”, acrescenta.

Em um país com um sistema tão fechado, no qual a tomada de decisões
é complexa, fazer apostas sobre o futuro é um exercício
de risco. Em princípio, o espectro político se divide entre reformistas
e conservadores, todos eles sob o líder supremo, cujo poder de decisão
é supremo. Os conservadores oscilam entre aqueles que apostam na linha
mais dura, pelo imobilismo e pela continuidade da política que regeu
o país nos últimos 30 anos, e aqueles outros que apóiam
uma mudança, mas sem solapar os princípios fundamentais da República
Islâmica.

Ambas as facções conservadoras enfrentam, com distintas posições,
o desafio lançado pelo novo presidente americano, Barack Obama, que declarou
sua intenção de estabelecer uma nova relação com
o Irã, país com o qual os EUA romperam relações
diplomáticas em 1980, após partidários da revolução
invadirem sua embaixada em Teerã, mantendo reféns por 444 dias.

Alguns clérigos considerados conservadores, mas relativamente moderados,
como o ex-presidente Hashemi Rafsanjani, respaldam a aproximação
desde que “se respeitem os direitos da nação iraniana”
– em relação ao programa nuclear, que os EUA desconfiam que tenha
fins militares. Outros, porém, como o conservador Ahmad Jannati, afirmam
que se trata de um erro. Junto a eles, coexistem os setores que rodeiam o presidente
laico, mas ultraconservador, Mahmoud Ahmadinejad, cujo gabinete exigiu dos EUA
que a mudança seja “real e não uma mera mudança de
discurso”.

Quem faz qualquer aposta sobre o futuro do Irã se aventura, no entanto,
a tecer previsões complicadas, em um ano eleitoral que muitos apontam
como decisivo para um país ameaçado também pela crise econômica
mundial. A quatro meses das eleições presidenciais, ainda não
existe uma lista de candidatos e só se sabe, por um colaborador próximo,
que o presidente Ahmadinejad, criticado internamente por sua gestão econômica,
buscará a reeleição.

Fontes: Agência EFE | Marinha do Brasil | MRE
– Ministério das Relações Extreriores

Posts Relacionados