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Brasil – Balaiada (3) – Levante e repressão

by Lucas Gomes

A administração portuguesa criou em 1621, separado do Estado do
Brasil, o Estado do Maranhão e Grão-Pará, que teria seu nome
alterado em 1751 para Grão-Pará e Maranhão. Anos mais tarde,
dividir-se-ia em dois Estados: o do Maranhão e Piauí, com sede em
São Luís, e o do Grão-Pará e Rio Negro, com sede em
Belém. Com a vinda da Côrte portuguesa, foi realizada em 1811 nova
divisão administrativa pela qual o Maranhão e o Piauí se
constituíram em unidades autônomas. Essa instabilidade administrativa,
até meados do século XVIII, era acompanhada por obstáculos
econômicos que dificultavam a vida dos colonos.


Armazém de carne-seca, escravos
na roça no século XIX,
negros de ganho no Maranhão

Durante o governo do
marquês de Pombal, interessado em promover a integração
da região no comércio colonial português, foi criada a Companhia
Geral do Grão-Pará e Maranhão, que detinha o monopólio
do comércio em todo o Estado. Até então, a agricultura
não passava dos níveis necessários à sobrevivência,
e a pequena exportação que se realizava provinha das missões
jesuíticas e da extração de produtos nativos. A vinda da
Companhia de Comércio modificaria esse quadro desalentador, ao investir
com sucesso no desenvolvimento das plantações de algodão.
Motivações externas, como a necessidade inglesa de matérias-primas
como o algodão, no momento em que nascia a indústria contemporânea,
bem como a Guerra de Independência dos Estados Unidos, beneficiaram diretamente
a economia maranhense.

Desse modo, a vida social e econômica do Maranhão alterou-se substancialmente:
aumentou-se o volume da produção de arroz e algodão; estendeu-se
a área cultivada; formaram-se fortunas locais nos setores comercial e
agrícola; cresceu a população escrava. Esse impulso econômico
transformou o Maranhão em uma das capitanias mais ricas da Colônia.
Caxias, pequena cidade da região, tornou-se importante centro comercial,
catalisando inclusive o comércio de escravos e couros. Conseqüentemente,
intensa rivalidade política e social iria germinar entre os prósperos
comerciantes de Caxias e os tradicionais latifundiários de Alcântara.

Além da agricultura, a criação de gado era uma atividade
importante no sertão maranhense e, diferentemente do recente impulso
agrícola, vinha há muito se desenvolvendo como atividade subsidiária
da região açucareira. Com a criação da indústria
da carne seca nas margens do Rio Parnaíba, alteraram-se também
as relações de produção nesse setor econômico.
As relações entre os criadores de gado e seus vaqueiros, predominantemente
homens livres, eram bem menos estratificadas que as estabelecidas na agricultura.
No entanto, nem por isso deixavam de ser relações de dominação.

O setor pecuarista também beneficiou-se da expansão algodoeira,
acumulando e descentralizando seu mercado de consumo. Em decorrência dessas
circunstâncias, novas fortunas se consolidaram nas diversas atividades
ligadas à pecuária, embora menos significativas do que na agricultura.
Todas essas camadas sociais, recentemente enriquecidas, tiveram importante papel
nas agitações políticas, pois desentenderam-se na luta
pela conquista do poder hegemônico.

A penetração
direta do comércio inglês no Maranhão, facilitada pelos tratados
firmados por D. João VI, trouxeram consideráveis conseqüências
para a exportação e cultura algodoeiras. Respaldados em concessões
que lhes garantiam taxas alfandegárias inferiores às de Portugal,
os ingleses organizaram o primeiro cartel que o comércio maranhense conheceu.
Monopolizaram tanto a exportação quanto a importação
de tecidos, louças e ferragens. Controlavam os preços da venda do
algodão sempre em benefício da balança comercial britânica.
Já o cultivo do arroz representou o monopólio dos grandes comerciantes
portugueses.

Sufocados de um lado pelos portugueses e de outro pelos ingleses, os proprietários
maranhenses, com forte tom nacionalista, apelaram para o socorro da Coroa sem,
contudo, serem ouvidos, considerando inclusive como mostra de descaso da Corte
o fato do imposto cobrado na Alfândega maranhense (tributo por escravo
vindo da África), de 1812 a 1821, ser gasto com a iluminação
e a polícia do Rio de Janeiro.

Nesse contexto, os anos
que antecederam a Balaiada foram de grandes dificuldades econômicas para
o Maranhão, agravadas pelo derrame de moedas falsas e pela retração
econômica. Apesar de representar o quinto orçamento do Império
em 1834, a região não recebia do Governo Central recursos para atender
às suas necessidades.

A 13 de Dezembro de 1838, a Vila de Manga, no Maranhão foi invadida por
um pequeno grupo de homens, que visavam assaltar a cadeia local. Tal grupo era
constituído por empregados do Padre Inácio Mendes de Morais e Silva,
pessoa influente e temida no sertão do Brejo, tido como membro da oposição
ao governo. O mestiço Raimundo Gomes Vieira, capataz do grupo, chefiou
o assalto à prisão, e depois de libertar os detidos e conseguir
a adesão do destacamento local da Guarda Nacional, assenhoreou-se do lugarejo,
dando início a um movimento que polarizaria, durante dois anos e meio,
os acontecimentos históricos do norte do país. Começava a
Balaiada.

Veja também: Causas
e antecedentes
| As
balaiadas
| Levante e repressão | Conclusão:
As rebeliões regenciais

Fontes:
CARVALHO, Carlota – O Sertão – subsídios para a história
e geografia do Brasil. 1ª ed. Rio de Janeiro: Emp. Ed. Obras Scient Literarias,
1924.
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. 1.ª ed. 3.º
vol. Rio de Janeiro: IBGE, 1959.
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. 1.ª ed. 15.º
vol. Rio de Janeiro: IBGE, 1959.
HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.) – História Geral da Civilização
Brasileira
. 2.ª ed. Tomo II, 2.º vol. São Paulo: DIFEL, 1969.
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco – A Balaiada. 2.ª ed. São
Paulo: Brasiliense, 1987.
PRADO JR, Caio. Evolução Política do Brasil: colônia
e império
. 21.ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1999.
SERRA, Astolfo – A Balaiada. 1ª ed. Rio de Janeiro. Biblioteca Militar,
1946.

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