Home Vestibular Sociedade e Comportamento – Mídia e Sociedade I

Sociedade e Comportamento – Mídia e Sociedade I

by Lucas Gomes

Por Leonardo Campos*

Mídia: fundamentos teóricos para uma análise

Enquanto algumas áreas do saber como a antropologia, sociologia e filosofia
são centenárias, os estudos sobre as relações da
cultura de massas e a sociedade são recentes, datado de 1927, nos Estados
Unidos. Uma das razões de se estudar a mídia é o impacto
da mesma na sociedade contemporânea, sendo considerada como o 4º
poder. A explosão dos meios de comunicação, principalmente
do fenômeno chamado televisão, colabora com a disseminação
deste termo.


“Paparazzis”

A palavra mídia é o aportuguesamento da palavra
inglesa mass media e está inserida no dicionário da língua
portuguesa desde 1960. Dentro da teoria dos estudos midiáticos temos
McLuhan (1918-1980) como um importante nome a ser citado, visto que sua teoria
foi retomada contemporaneamente, principalmente o seu conceito de aldeia global.

Aldeia global, segundo a teoria de McLuhan, trata-se da seguinte situação:
a partir de meados do século XX, com a emergência da televisão,
o mundo voltou a se tornar tribal, tornando-se uma enorme aldeia, desta vez,
em escala global. O homem, que inicialmente experimentou viver em aldeias e
adquirir a linguagem, passou por um novo e brutal processo de destribalização
com a invenção da escrita, voltando ao processo de retribalização.
Findo o processo, McLuhan percebeu que voltamos ao processo de aldeia novamente.
A televisão voltou a nos unir, as barreiras geográficas desapareceram,
as imagens encontraram-se espalhadas (e espalham-se) de forma avassaladora e
instantânea. Entramos na era em que ler é chato, o ideal é
mesmo ver. Tal fenômeno pode ser analisado através da ânsia
de se assistir uma adaptação de obra literária em detrimento
da leitura da mesma.

Outro teórico interessante de ser analisado aqui é o professor
Antônio Albino Canelas Rubim, da Universidade Federal da Bahia, que nos
explica o que seria a “Idade Mídia”. Segundo ele, assim como
a sociedade já viveu a Idade Média, hoje vivemos na Idade Mídia.
Os meios de comunicação se transformaram em poderosas indústrias
culturais, para o bem ou para o mal, das idéias do capitalismo. É
em consequência da mídia que pagamos muito mais vezes o que vale
por uma calça, um relógio ou qualquer outro produto, só
pela marca que eles ostentam.

Cabe ainda aqui, analisar a efemeridade dos fatos na mídia e ainda
o sentido de realidade dentro da mesma, que pode ser encontrado nas teorias
de Baudrillard, que decretou, entre o fim de tantas coisas, o fim da história.
Segundo ele, os acontecimentos da mídia são artificiais porque
são modulados, montados, editados. Se os acontecimentos são artificiais
e simulados, é possível decretar o fim da história. Alguns
filmes foram selecionados para melhor entendimento destas teorias.

A mídia e o 4º poder


Caso Daniela Cicarelli

Há no painel do cinema norte americano uma boa quantidade de filmes
que relatam o poder da mídia como tema central do enredo, seja de forma
mais visceral, como em Um
dia de cão
(1975), passeando por tramas como Fogueira
das Vaidades
e chegando aos anos 90 com obras cinematográficas
que elevam ao máximo o tema, como Mera
Coincidência
e O 4º poder.

“O 4º poder” é dirigido pelo cineasta Costa-Gravas. Proposital
ou não, essa é a terceira vez que o ator Dustin Hoffman trabalha
com o tema. A primeira delas foi em Todos os Homens do Presidente,
a segunda, O 4º poder, e a terceira, o já citado Mera
Coincidência
.


Dustin Hoffman em “Mera Coincidência”

Em Todos
os Homens do Presidente
, temos o relato dos fatos escandalosos entre
a mídia e o presidente Nixon, no escândalo de Watergate. Mera
Coincidência
retrata o presidente dos Estados Unidos (Michael Belson),
poucos dias antes da eleição, que se vê envolvido em um
escândalo sexual e, diante deste quadro, não vê muita chance
de ser reeleito. Assim, um dos seus assessores entra em contato com um produtor
de Hollywood (Dustin Hoffman) para que este “invente” uma guerra na
Albânia, na qual o presidente poderia ajudar a terminar, além de
desviar a atenção pública para outro fato bem mais apropriado
para interesses eleitoreiros. Dos três exemplares, é a melhor experiência
cinematográfica, tanto no quesito técnico (direção,
atuações, montagem) como seu discurso. Quem quer entender o significado
do termo “mídia”, da forma teórica para a visual, deve
assisti-lo. Estas invenções de situações são
formuladas sem ao menos pensar-se nas conseqüências das mesmas. A
ética jornalística vai para o ralo.

Em “O 4º Poder”, temos a cena tomada na cidade de Madeline,
Califórnia, onde um repórter de televisão (Dustin Hoffman)
que está em baixa (mas que já foi um profissional respeitado de
uma grande rede), ao fazer uma cobertura sem importância em um museu de
história natural, testemunha um segurança demitido (John Travolta)
pedir seu emprego de volta e, não sendo atendido, ameaça a diretora
da instituição com uma espingarda. Ele nada faz com ela, mas acidentalmente
fere com um disparo acidental um antigo colega de trabalho. O repórter,
de dentro do museu, consegue se comunicar com uma estagiária que está
em uma caminhonete nas proximidades, antes de ser descoberto pelo ex-segurança,
que agora fez vários reféns, inclusive um grupo de crianças
que visitavam o museu. Em pouco tempo um pedido de emprego e um tiro acidental
se propagam de forma geométrica, atraindo a atenção de
todo o país. O repórter convence o segurança para que lhe
dê uma matéria exclusiva e promete em troca comover a opinião
pública com a triste história do guarda desempregado. Era a sua
chance de se projetar e voltar para Nova York, mas nem tudo aconteceu como o
planejado. Os fatos são manipulados pela imprensa e tudo sai do controle,
pois apenas altos salários e índices de audiência contam
e a verdade não é tão importante assim.


Caso Britney Spears em 2007

Aproximando os fatos mostrados no filme para a nossa realidade, temos os casos
emblemáticos de Eloá, em 2008, que teve seu sequestro e, consequentemente,
assassinato, exibido de forma sensacionalista pelas redes de televisão.
Não foi diferente com o caso da menina Isabela Nardoni, exaustivamente
exibido na mídia com a mesma intenção de uma novela, com
direito a capítulos e tudo mais. O ápice do absurdo foi a entrevista
que a mãe da garota concedeu para o Fantástico, programa de variedades
exibido na rede Globo. Observe (assista
um trecho desta entrevista
) quantos recursos cinematográficos foram
utilizados nesta reportagem e depois confronte com as teorias citadas no inicio
deste artigo.


Homenagem a Michael Jackson

A imprensa mundial (para não se prender na brasileira apenas, grande copiadora
dos moldes estrangeiros) chegou ao ponto de todas as regras básicas dos
manuais de ética profissional e bom senso foram esquecidos. Todos esses
excessos nos levam a concluir que a palavra mídia pode ser considerada
metonímia de todos estes assuntos citados: casos como Eloá, Isabela
Nardonni, João Hélio, o recente (mas nem tanto) caso da cantora
americana Britney Spears e sua relação nada amistosa com a mídia
e o circense enterro do rei do pop Michael Jackson.

A televisão e a sociedade: alguns casos locais

A televisão é revolucionária aos extremos. Arrisco-me
a dizer que é tão revolucionária quanto o cinema e o rádio.
A televisão, como diz a pesquisadora Vera França, cria cenários,
formas e movimentos. É capaz de recuperar e fazer reedição
de trilhas sonoras, acoplados aos mais modernos recursos multimídias
e geração de imagens e sons criativos e inusitados. A autora,
num famoso ensaio chamado “A televisão e a rua”, compara a
televisão como tão importante quanto o fornecimento de água
e energia.


Márcia Goldssmith

Aparecer na televisão já é sinônimo de fama desde
sempre. Como dizia o famoso ator Raul Cortez, basta colocar silicone que você
se torna um artista. Apareceu no Big Brother Brasil? Já sabe que vai
posar nua (nu) e autografar um monte de revistas. Até que ponto programas
como “Big Brother Brasil”, os baianos “Se Liga Bocão”
e “Na mira” são retratos da vida real? Você consegue
acreditar nos quadros exibidos nas tardes da rede Bandeirantes pelo programa
de Márcia Goldsmith?

Meu objetivo aqui não foi pregar a verdade total e absoluta. As questões
que foram levantadas podem ser respondidas por você mesmo, caro vestibulando.
O assunto está na moda e pode ser cobrado em qualquer exame de seleção
no país. Mantenha-se atento. Na próxima semana, teremos uma continuação.
Partiremos da leitura deste artigo para uma análise profunda do filme
“Mera Coincidência” e do documentário “Ônibus
174”, do diretor José Padilha.

Aproveitaremos para publicar uma entrevista com quem entende do assunto, como
o professor de Comunicação e Mídia da Universidade Federal
da Bahia, Leandro Colling.

* Graduando em Letras Vernáculas com Habilitação em Língua
Estrangeira Moderna – Inglês – UFBA | Membro do grupo de pesquisas “Da
invenção à reivenção do Nordeste” –
Letras – UFBA | Pesquisador na área de cinema, literatura e cultura
– Colaborador do PASSEIWEB.com

Posts Relacionados