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Toda Poesia, de Ferreira Gullar

by Lucas Gomes

O livro Toda Poesia, pubicado em 1980, como diz o título, reúne
toda produção poética de Ferreira Gullar. São versos
de amor e de luta social, escritos em 50 anos de carreira.

É com exatidão que essa poesia nos comunica a vivência
do poeta. A vivência do mundo pelo homem-poeta Ferreira Gullar é
um misto permanente de dor e lirismo, perplexidade, curiosidade infantil e rebeldia
jovem, inconformismo e exasperação, esforço profundo e
emocionante de compreender o mundo, amar o mundo, ser amado.

Toda poesia é a suma de uma vida de poeta, o documento de uma
experiência humana, a autobiografia de uma trajetória poética.

ESTRUTURA DA OBRA

A Luta Corporal (1950 -1954) – É o primeiro livro do
poeta, e um dos livros mais discutidos de sua geração, onde desintegra
palavras, numa semelhança com o concretismo. É considerado precursor
do movimento paulista de poesia concreta. A obra marca a transição
entre a poesia guerra / paz de Carlos Drummond de Andrade e do concretismo (Augusto
e Haroldo de Campos e Décio Pignatari). Continua…

O vil metal (1954 -1960) – Versos rigorosos. Livro que reúne
poemas esparsos, publicados entre 1954 e 1960. Nesta obra as experiências
se entrecruzam, adere ao concretismo por algum tempo e produz poemas concretos
e neoconcretos, substituindo o verso por novas estruturas, baseadas na associação
formal dos vocábulos e em sua disposição espacial na página,
em alinhamentos geométricos; em lugar da sintaxe convencional. Continua…

Poemas concretos / neoconcretos (1957 -1958) – Além
de estarem entre os mais belos que a nova poética produziu, estes poemas
testemunham o instante de atualização da cultura brasileira: a
construção do poema deixa de ser o exercício de tensões
subjetivas, projetadas na linguagem, para procurar a objetividade do produto
acabado, mercadoria no universo do consumo. Poesia e indústria, construtivismo
e desenvolvimentismo, mundo de objetos e criação de um mercado
nacional, orgulho da poesia-exportação e nacionalismo.

mar azul
mar azul
mar azul marco azul
mar azul marco azul barco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul
mar azul marco azul barco azul arco azul ar azul

Romances de cordel (1962 -1967) – A poesia mais explicitamente
política de Gullar se concentraria na experiência dos Romances
de cordel
, com objetivos mais políticos do que literários.
Reflexo de seu engajamento no CPC.

Os Romances de cordel apresentam claramente a realidade político-social
brasileira da época. A literatura de cordel vai servir de instrumento
à causa revolucionária. “João Boa-Morte, cabra marcado
para morrer” conta a história de um lavrador que reage à
exploração do fazendeiro e, por esta razão, é condenado
a vagar pelo sertão, pois não encontra ninguém que lhe
dê emprego. Quando resolve matar a mulher, os filhos e a si próprio,
encontra Chico Vaqueiro, que o conduz às ligas camponesas.

Já vão todos compreendendo
como compreendeu João,
que o camponês vencerá
pela força da união.
Que é entrando para as Ligas
que ele derrota o patrão,
que o caminho da vitória
está na revolução.

Numa direção radicalmente oposta ao experimentalismo de linhagem
concretista, Gullar mergulhou nas fontes populares e iletradas da poesia, recuperando
a tradição dos “cantadores” nordestinos, com seus poemas
narrativos vazados em linguagem simples e apoiados em métrica e rimas
de forte apelo mnemônico. Num mundo configurado como palco do embate entre
o Bem e o Mal, Gullar expressava o pensamento da intelectualidade de esquerda,
pressurosa em denunciar as mazelas do imperialismo, e ainda crédula nas
revoluções socialistas que, a partir de Cuba, prenunciavam uma
era de fraternidade e justiça social na América Latina, mediante
uma feroz denúncia das oligarquias inescrupulosas e reacionárias.

Dentro da noite veloz (1962 -1975) – Obra excessivamente política,
sem a qualidade literária que correspondesse aos seus argumentos. Nos
poemas de Dentro da Noite Veloz, escritos uns no Brasil e outros no
exílio, alguns ainda ligados às idéias do CPC, com a preocupação
de denunciar o cotidiano sofrido pelas pessoas numa poesia dita engajada, o
eu-lírico que havia desaparecido nos volta a aparecer. Continua…

Poema sujo (1975) – Fluxo intenso de imagens passadas, equilibrado
e conciso. Continua…

Na vertigem do dia (1975 -1980) – Publicado em 1980, Na
vertigem do dia
proclama o retorno de Gullar às terras brasileiras,
depois do período em que esteve no exílio. Em tal obra, encontramos
uma poesia mais madura cuja densidade nos permite dimensionar o constante dialogar
de seu obrar com o seu próprio ser-poesia. Continua…

Barulhos (1980 -1987) – Esta obra reúne a produção
poética de Ferreira Gullar, comemorando mais de trinta anos de poesia.
O autor nos conta sobre o caminho percorrido neste período de sete anos.
Por estas estradas, permanece fiel às suas temáticas e desenvolve,
sem tréguas, uma reflexão sobre o fazer poético, a vida
e o mundo real. Neste livro Gullar nos dá conta do caminho percorrido
naqueles anos, os amigos perdidos, as portas que faltaram, a diária redescoberta
do corpo. É uma obra que marca, em definitivo, a passagem do escritor
pelo pórtico da maturidade e a cristalização de seu estilo
poético, de sua forma.

Em Barulhos temos uma arte trabalhada com rigor cada vez maior; o
verso aspira à forma essencial, em que os claros correspondem à
vibração das palavras e seu deslocamento no tempo rítmico.
A forma para o texto de um poeta. São poemas que falam da criaçao
do poema, da evolução do próprio pensamento.

Muitas vozes (1999) – Muitas Vozes apresenta
um Ferreira Gullar ainda consciente da necessidade de renovação,
e capaz para tanto, fundindo diversos recursos estéticos que podem ser
lidos esparsamente desde os primeiros passos do que viria a ser Toda Poesia.
Continua…

TENDÊNCIAS POÉTICAS CONTEMPORÂNEAS

a) Concretismo (1956)
b) Neoconcretismo (1959)
c ) Poesia Práxis (1961)
d) Vilões de rua (1962)
e) Poema Processo (1967)
f) Tropicalismo (1967)
g) Poesia jovem (1970)
h) Poetas dos anos 90

Créditos parciais: Profª. Drª Thereza da C. A. Domingues
– Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CESJF)

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