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Tremor de terra, de Luiz Vilela

by Lucas Gomes

Tremor de Terra

relança os 20 contos de Luiz Vilela, e foi publicado pela
primeira vez em 1967, e na sua maioria são em prosa bem acabada e narrativas coesas
em sua aparente simplicidade.

Nesta obra destaca-se a feição realista de Vilela, nas narrativas memorialistas,
focalizando um episódio marcante vivido pelo menino de então e que o narrador
adulto recupera em seu discurso do presente. Ainda que não seja um fato
extraordinário, ele representou, na vida daquele que narra, um momento de mudança
ou de ruptura que alterou uma condição existencial anterior (de inocência, de
ingenuidade) e colaborou para a sua formação e seu amadurecimento pessoal, como
a morte do avô, no conto “Felicidade”, e a conversa do diretor da escola com o
menino que o flagrara num ato de pederastia, em “Com os próprios olhos”.

O herói por excelência das histórias é o ser que tem dificuldade de se encaixar no mundo.

No conto “Imagem”, o protagonista procura saber de seus conhecidos o que acham dele. A cada opinião
percebe que sua imagem no espelho se modifica. Por ficar perdido entre tantas imagens, pois cada uma
pensa uma coisa diferente, ele adquire fama de ser uma pessoa instável.

Outros personagens que ensaiam contrariar o padrão imposto pela sociedade também sofrem pressão. A
personagem tia Lázara de “O Violino” tenta na maturidade aprender a tocar o violino e é repreendida pela
família.

Feridos nessa busca inútil, os indivíduos fogem para dentro de si. O ponto máximo do recolhimento está
em “Buraco”, em que o herói cava um buraco onde passa a viver como tatu.

Identidade é aquilo que uma pessoa tem de mais próprio, de mais pessoal. Esse é o tema explorado
por Luiz Vilela no conto “Imagem”, conforme demonstra a seguinte passagem: “Foi aí que eu comecei a
busca. Olhava-me dia e noite no espelho, não mais para encantar-me, mas para encontrar-me, para saber
quem era aquele que estava ali, no espelho. Aquele era eu – mas quem era eu?”

A exploração do nonsense surge no conto “O fantasma”. Trata-se do diálogo, com passagens hilárias, em
que a razão domina o sentimento quando o normal, na situação, seria o medo abafar a inteligência.
No final, aterrorizado com o homem, que tranqüilamente vai dormir no casarão abandonado, o fantasma
desaparece.

No conto – título, “Tremor de Terra”, um rapaz se apaixona por uma moça casada. O sentimento o faz
imaginar um momento maravilhoso e ao mesmo tempo terrível, que ele compara a um tremor de terra. O abalo
seria capaz de reverter a condição de “enterrado vivo” de muitos dos personagens. Como a ironia é um
forte elemento dos contos, é dessa forma que lhes é ameaçado o frágil equilíbrio, visto que pode
soterrá-los de vez.

Este conto (“Tremor de terra”) expõem-se diversos aspectos relativos à sexualidade
na sociedade contemporânea, tais como a diferenciação entre amor e desejo sexual,
a sexualidade instintiva, o namoro, o casamento, e como a noção de amor é veiculada
pelos meios de comunicação de massa.

Leia um trecho do conto “O buraco”

Num daqueles dias em que, ao sair à rua, eu ouvira as pessoas falando e rindo de mim,
cheguei em casa tão deprimido que, sem parar, comecei a andar de quatro. Mamãe deu um grito,
e só aí eu percebi a coisa. “Meu filho!”, ela disse e veio correndo me abraçar. Ao levantar-me para
ela é que percebi que eu estava de quatro; tive de fazer um esforço enorme para acabar de me
levantar e para, depois manter-me de pé. “Que mal fizemos para merecer essa desgraça?”, ela
chorava, me apertando em seus braços.”

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