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Ciência e Saúde – Dengue: epidemia anunciada?

by Lucas Gomes


O mosquito Aedes aegyptiCasos da doença explodem em todo o país e suspeita-se que o vírus esteja ainda mais agressivo.

Todo ano, depois das chuvas de verão, começa a época do dengue. Assim tem sido
desde 1982, quando a epidemia ressurgiu depois de 30 anos. Este ano, porém, ela
começa a mostrar um comportamento muito agressivo. No primeiro semestre, o número
de casos explodiu, somando mais de 480 mil infectados, total 50% maior em comparação
ao mesmo período de 2006. Os Estados mais atingidos foram Mato Grosso do Sul,
Paraná, Rio de Janeiro e Pernambuco. Porém ainda mais grave do que a infestação
nacional de Aedes aegypti – o mosquito transmissor do vírus causador
da enfermidade – é a perturbadora evolução de casos de dengue hemorrágica. Até
setembro, 1.076 pessoas tiveram a doença, e 121 morreram por causa dela. Os especialistas
calculam que de cada 100 pessoas com dengue hemorrágica, 11 morreram. É um padrão
muito elevado segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde. A entidade
avalia que é possível controlar a situação para que as mortes não ultrapassem
1% dos casos. Além disso, muitos desenvolveram essa forma de dengue na primeira
vez em que foram infectados – um estudo da Fiocruz no Recife mostrou que 52% das
vítimas da forma hemorrágica se encontravam nessas condições. Preocupa porque
o normal é a manifestação de dengue hemorrágica somente após a segunda infecção.

Uma
das hipóteses para esse fenômeno seria a maior virulência do vírus. Até porque
já se observa que cresceu o contingente de pessoas que manifestaram sintomas mais
intensos. “Pode ser que estejamos lidando com cepas mais virulentas”, analisa
o infectologista Affonso Viviani Júnior, diretor da Superintendência de Controle
de Endemias de São Paulo. Mais uma explicação é a circulação de vários sorotipos
do vírus ao mesmo tempo. Dos quatro conhecidos, três circulam no Brasil. Já se
sabe que a infecção por diversos tipos favorece mudanças na coagulação do sangue
que podem levar à hemorragia. E quanto maior a diversidade de vírus, maior a competição
entre eles por mosquitos. “Vencerão a batalha os que tiverem maior capacidade
de reprodução dentro do corpo humano”, explica o virologista Paulo Zanotto, da
Universidade de São Paulo. Esse fato também levará a infecções mais graves.

É
por tudo isso que a aproximação do tipo 4 do vírus, que ainda não circula no Brasil,
deixa os médicos apreensivos. Acredita-se que sua chegada seja questão de tempo,
pois ele já circula na Venezuela, por exemplo. Mais uma aflição das autoridades
este ano é a reintrodução do sorotipo 2 em São Luís do Maranhão, que não era detectado
naquela área desde 1994. “Este vírus está afetando crianças de até nove anos que
não tiveram contato com esse tipo antes”, diz Fabiano Pimenta, secretário adjunto
de Vigilância do Ministério da Saúde.

Na prática, o dengue avança. Aos fatores inevitáveis, como as mudanças de clima e a circulação do vírus,
somam-se as lacunas no combate ao mosquito. Uma delas é capacitação de profissionais para lidar com as
emergências do dengue e salvar vidas. Erros de diagnóstico e tratamento são comuns, como ocorreu com o
especialista em informática Tarsio Moraes, 30 anos. Em 2002, ele foi a um hospital em São Caetano do Sul
(SP), com vômitos e febre. “A médica me deu soro, analgésicos contra-indicados paro dengue e disse que
poderia ter HIV, o vírus da Aids”, lembra ele, que na verdade estava mesmo era com dengue.

A
gravidade da situação levou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a admitir
que o País está em uma epidemia, a declarar as mortes por dengue inaceitáveis
e a anunciar medidas. Uma delas será reforçar o treinamento médico. Na semana
que vem, 300 mil desses profissionais receberão uma carta chamando para a mobilização
contra a doença e um CD-ROM com dados sobre o mal. “As mortes são evitáveis desde
que o atendimento seja adequado e no tempo devido”, diz o infectologista Rivaldo
Venâncio da Cunha, um dos entrevistados do CD-ROM organizado pelo Núcleo de Educação
em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais.

O hospital, no entanto, é a ponta final. Agir aí barra as conseqüências, não as causas do problema. Entre
elas estão as falhas nas ações casa a casa feitas pelos agentes de saúde. Ou porque o morador não abre a
porta ou porque a vigilância não chega a locais mais distantes. Isso pode ser constatado em Sumaré,
município que ocupa o 13º lugar na lista dos mais infectados em 2007 em São Paulo. Com seus 250 mil
habitantes, a cidade registrou 5.931 casos de dengue este ano. Em 2006, foram 1.001. “Só conseguimos fazer
algum tipo de ação com 60% da população”, diz a enfermeira Marialice Wonhrath, diretora municipal de Saúde. Para tentar reverter a situação, a prefeitura está contratando mais 20 agentes, totalizando 60. Sumaré serve de exemplo de outras circunstâncias que permitem a continuidade do dengue. Por exemplo, o fluxo intenso de pessoas de outros locais. “Os vírus pegam carona. Achamos focos de larvas de Aedes na balança de cargas para os caminhões que circulam pelas estradas”, explica Marialice.

O descuido é ainda mais usual em locais como depósitos de material para reciclagem. Em uma das visitas
quinzenais a um desses lugares, os agentes acharam quatro pontos repletos de larvas de Aedes. Para o
superintendente de Vigilância em Saúde do Rio de Janeiro, Vitor Berbara, o problema é a grande ocorrência
de locais sem água tratada e sem coleta de lixo regular e ocupações urbanas desordenadas. Esse cenário,
ainda muito comum no País, obriga, por exemplo, as pessoas a armazenar água em locais que se transformam
em criadouros. Para o especialista, o problema só será resolvido quando a população se tornar mais que
parceira no combate à dengue. “As pessoas têm que ser protagonistas”, diz. De fato, basta um descuido para
o mosquito se instalar. Foi o que aconteceu com a carioca Luciana Ribeiro, 28 anos. Seu apartamento fica
próximo a uma área com muitas árvores, nicho natural de mosquitos. Por causa de um defeito, a caixa de
descarga ficou aberta três dias e ela notou que a quantidade de mosquitos triplicou. Resultado: Luciana
contraiu a doença.

Para convencer a população a participar mais, os municípios tentam inovar. A Prefeitura de Sumaré
contratou a dupla Zé Bento e Tocêra para ensinar as crianças a se prevenir. Engraçados, tocando modas de
viola e funk e apoiados por um “mosquito gigante”, eles fazem rir e avisam que dengue pode matar. Por fim,
Sumaré está reunindo suas secretarias para conter a epidemia. A batalha transcende as ações da saúde. “o dengue é de grande complexidade em um país com 80% da população em centros urbanos, problemas de
abastecimento de água e resíduos. É preciso o engajamento de todos”, aprova Pimenta, do Ministério.

Em Brasília, há vários focos que dependem da ação conjunta para sumir. No Parque da Cidade está o que
sobrou da primeira piscina de ondas artificiais construída no continente. Com as chuvas, virou um imenso
criadouro de larvas de mosquito. Além dela, há outros pontos de infestação no parque, usado por milhares
de pessoas. O governo do Distrito Federal está vistoriando principalmente tonéis, tambores e caixas d’água.
A piscina continua lá, com seus mosquitos. A falta de pessoal dificulta o trabalho – são apenas 860
agentes para toda a região. Na emergência, a Secretaria de Saúde recorreu ao Exército, que entrará na
briga em duas semanas. Mas, se as ações não tiverem foco, o mosquito continuará ganhando a guerra.

Tropa de elite contra o dengue iniciou ações em São Paulo

Esquadrão especial da Secretaria de Estado da Saúde concentra esforços na zona oeste da cidade.


Grupo lançou semana de combate ao mosquito Aedes aegypti,
transmissor da doença

O Esquadrão Antidengue da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo chegou
na segunda-feira, 19, à São Paulo. A equipe, que visita a capital pela primeira
vez, trabalha com artilharia pesada: os 110 agentes, entre eles 90 desinsetizadores,
estão munidos de carros especiais e atomizadores costais, popularmente conhecidos
como borrifadores.

A mobilização marcou o lançamento da Semana Estadual de Combate à Dengue – que
se estenderá até sábado, 24, movimentando 25 mil profissionais de saúde em todo
o Estado.

O batalhão da saúde está concentrando esforços na Vila Sônia, na zona oeste,
área com grande incidência de dengue. Cerca de 50 agentes especiais da Sucen
deverão vaporizar o local com inseticida para destruir os focos da doença. Está
sendo realizado um arrastão pelas ruas da região, incluindo visitas às casas,
distribuição de panfletos e vistoria de terrenos baldios. Até o último dia 31,
a Secretaria havia registrado 68 casos de dengue na Vila Sônia.

Por todo o Estado, os profissionais estaduais e municipais de saúde estão organizando
panfletagens, teatros, oficinas, palestras, exposições, carreatas, mutirões
de limpeza urbana e recolhimento de entulhos para tentar conter a proliferação
do mosquito. O objetivo é diminuir o impacto da doença no verão.

São Paulo tem motivos de sobra para se armar contra o mosquito Aedes aegypti,
o transmissor do dengue. As notificações da doença saltaram de 466 em 2006 para
2.350 em 2007, de acordo com dados da Sucen (Superintendência de Controle de
Endemias). No Estado, a situação também é crítica: 81% dos municípios paulistas
apresentam focos de infestação do mosquito. Além disso, neste ano 34 pessoas
morreram por causa do dengue.

Neste ano, 78.614 casos de dengue foram identificados em 358 cidades paulistas,
o que representa um aumento de 42% em relação a 2006, quando foram computados
50.029 casos em 252 municípios do Estado. ‘São Paulo quer dar o exemplo, mostrando
que governos e população podem e devem unir forças contra o dengue’, declara
o secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata.

Vacina

O Instituto Butantan quer o apoio do Ministério da Saúde para a produção de
uma vacina contra o dengue. Em troca do apoio, o Butantan pretende fornecer,
inicialmente, cerca de cinco milhões de doses anuais a partir de 2009. Representantes
do Instituto apresentam nesta segunda-feira a proposta ao governo federal.

A idéia é produzir a vacina contra os quatro tipos de dengue – ela já foi desenvolvida
por uma equipe dos EUA. A idéia é que o Ministério da Saúde financie a aquisição
de equipamentos, cujo valor ainda não foi estimado. À Secretaria da Saúde do
Estado caberia pagar a construção de um laboratório, com custo estimado entre
R$ 15 e R$ 20 milhões. Leia mais sobre a vacina…

O QUE VOCÊ DEVE SABER E FAZER A RESPEITO DO DENGUE

Como se pega dengue?
O Dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Ele é muito pequeno, mas fácil de identificar pelos seus hábitos.

Como é o mosquito?
• É escuro e rajado de branco.
• É menor que um pernilongo comum.
• Se desenvolve em água parada e limpa.

Sintomas
Os seguintes sintomas podem fazê-lo suspeitar de Dengue:

• Dor de cabeça;
• Dor nos olhos;
• Febre alta muitas vezes (passando de 40 graus);
• Dor nos músculos e nas juntas;
• Manchas avermelhadas por todo o corpo;
• Falta de apetite;
• Fraqueza;
• Em alguns casos, sangramento de gengiva e nariz.

Tratamento

A pessoa com Dengue deve ficar em repouso, beber muito líquido e só usar medicamento
para aliviar as dores e a febre, mas sempre com indicação do médico. A pessoa
não pode tomar remédios à base de ácido acetil salicílico, como, por exemplo,
a aspirina e o AAS.

Como evitar a doença?

A única maneira de evitar o dengue é não deixar o mosquito nascer. Para isso,
é necessário acabar com os criadouros (lugares de nascimento e desenvolvimento
dele). Ou seja: não deixe a água, mesmo limpa, ficar parada em qualquer tipo
de recipiente como:

• Garrafas;
• Pneus;
• Pratos de vasos de plantas e xaxim;
• Bacias;
• Copinhos descartáveis.

Também
não se esqueça de tapar:

• Caixas d’água;
• Cisternas;
• Tambores;
• Poços;
• Outros depósitos de água.

 

 

Dicas


• Lave bem os pratos de plantas e xaxins, passando um pano ou uma bucha
para eliminar completamente os ovos dos mosquitos. Uma boa solução é trocar
a água por areia molhada nos pratinhos.
• Limpe as calhas e as lajes das casas.
• Lave bebedouros de aves e animais com uma escova ou bucha; e troque
a água pelo menos uma vez por semana.
• Guarde as garrafas vazias de cabeça para baixo.
• Jogue no lixo copos descartáveis, tampinhas de garrafaas, latas e tudo
o que acumula água. Mas atenção: o lixo deve ficar o tempo todo fechado.

MEDICAMENTOS À BASE DE ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO

São medicamentos que devem ser evitados em caso de suspeita de dengue, uma vez
que podem causar sangramentos e acidose. A seguir são enumerados todos os medicamentos
que contém Salicilato em sua composição:

Ácido
Acetil Salicílico
Ácido
Acetil Salicílico (associado)
Salicilamida (associada)
AAS
AAS Adulto
AAs Infantil
Aceticil
Ácido Acetil Salicílico
Aspirina
Aspirina infantil
Aspisin

Alidor
CAAS
Endosalil
Intra Acetil
Melhoral Infantil
Ronal
Somalgin Cardio
Alka-Setzer
Aspi-C
Aspirina “C”
Aspirina
Atagripe
Besaprin
Buferin
Cefurix
Cheracap
Corisona D
Doloxene-A
Doribe
Doril
Engov
Melhoral
Melhoral C
Migral
Migrane
Piralgina
Somalgin
Sonrisal
Superhist
Benegrip
Fielon com Vitamina C
Gripionex
Neo-Sativan
Resprax
Termogripe
Fonte: DEF 97/98. Publicação
do Jornal Brasileiro de Medicina

Fontes: Revista Medicina & Bem Estar | Jornal O Estado de S. Paulo | Secretaria Municipal
de Saúde de Belo Horizonte (MG)

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