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Meio Ambiente – Amazônia ‘guarda 30% do carbono florestal do mundo’

by Lucas Gomes


Amazônia ‘tem estoque de 80 bilhões de
toneladas de carbono’

A floresta amazônica é uma reserva de cerca de 80 bilhões de toneladas de carbono – o que equivale a quase
um terço do estoque mundial –, segundo um estudo publicado na última edição da revista científica
Environmental Research Letters.

As florestas de todo o mundo, de acordo com o levantamento feito pela universidade americana de Wisconsin
e das organizações Winrock International e Carbon Conservation, guardam 300 bilhões de toneladas de
carbono.

No total das emissões globais de carbono, estima-se que a queima de florestas equivalha a cerca de 20%, e
o Brasil, dependendo do estudo, flutua entre a segunda e a quarta posições entre os maiores contribuintes
neste quesito. Do total de emissões de CO2 brasileiro, calcula-se que três quartos se devam ao
desmatamento.

Ainda segundo o levantamento americano, o segundo país com maior estoque de carbono seria a República
Democrática do Congo, com até 36 bilhões de toneladas de carbono, seguido da Indonésia, outro grande
contribuinte para as emissões de CO2 provocadas por desmatamento, com até 25 bilhões de toneladas de
carbono guardadas em suas florestas.

De acordo com especialistas, as florestas funcionam como grandes reservas de carbono, que é absorvido da
atmosfera e é retido pela vegetação e, eventualmente, pela matéria orgânica que se acumula no solo. Com a
destruição da floresta, seja por queimadas ou pelo corte da vegetação, esse estoque de carbono acaba
liderado na atmosfera e a capacidade de novas absorções se extingue.

Divergências

Uma das polêmicas em torno do debate sobre florestas e reservas de carbono é justamente como medir a
quantidade de carbono que elas guardam. Para alguns especialistas, o entendimento científico sobre quanto
carbono é retido pelas florestas ainda é baixo.

Para Holly Gibbs, que coordenou o estudo publicado na Environmental Research Letters e é também consultora
de Papua Nova Guiné para questões climáticas, o trabalho desenvolvido por ela e por outros cientistas
propõe uma nova metodologia de medição.

“A nossa intenção é mostrar que existem formas de se calcular cientificamente os estoques de carbono das
florestas, ao contrário do que afirmam alguns detratores”, disse Gibbs à BBC Brasil.

O debate tem sido especialmente relevante na conferência da ONU sobre mudanças climáticas que está
ocorrendo em Bali, na Indonésia. No encontro, um grupo de 40 países, que forma a Coalizão das Florestas
Tropicais (Tropical Rainforest Coalition), criada por Papua Nova Guiné, defende um mecanismo em que as
reservas de carbono das florestas de um país possam ser transformadas em crédito e negociadas no mercado
internacional.

Para que isso seja possível, é fundamental que exista uma forma confiável e amplamente aceita de medir as
reservas de caborno, justamente o que o trabalho coordenado por Gibbs se propõe.

Um dos grandes problemas para a Coalizão das Florestas Tropicais é a posição do Brasil, que é contra a sua
proposta. O Brasil defende uma alternativa baseada na criação de um fundo internacional que forneceria
recursos aos países que consigam combater o desmatamento. Pela proposta brasileira, as metas e o controle
sobre o desmatamento seriam de responsabilidade dos países quem detêm as florestas.

De acordo com Holly Gibbs, a expectativa da Coalizão das Florestas é de que o texto final do encontro em
Bali tenha “palavras fortes” sobre o assunto. Mas ela admite que para isso o apoio brasileiro é
fundamental. “A idéia precisa do Brasil, já que o país guarda quase um terço do carbono florestal do
mundo.”

Do lado brasileiro, porém, não há sinais de que os negociadores estão propensos a mudar de posição.

ESTUDO PREVÊ METADE DA AMAZÔNIA DESTRUÍDA ATÉ 2030


Estudo culpa clima por ciclo destruidor de
secas e fogo

Até 55% da Amazônia pode ser destruída até 2030 por uma combinação de agricultura,
pecuária, atividade madeireira, fogo e secas, se as atuais tendências forem
mantidas na região, de acordo com um estudo divulgado nesta quinta-feira pelo
grupo ambiental WWF na Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, em Bali.

A pesquisa foi realizada por um grupo cientistas do Woods Hole Research Center,
dos Estados Unidos; do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam); e
da Universidade Federal de Minas Gerais. Ela indica que as previsões catastróficas
esperadas para o fim do século podem estar mais próximas do que se imaginava.

“Os modelos anteriores não levavam em conta o fogo, a exploração madeireira
e o regime de chuvas. É um dos cenários mais pessimistas que já vi”, disse o
cientista americano Daniel Nepstad, que coordenou o estudo e trabalha na Amazônia
há mais de 20 anos.

Por trás da destruição acelerada – até a publicação deste estudo, o cenário
mais dramático previa uma destruição de metade da Amazônia até 2050 – estaria
um ciclo vicioso de fogo e secas alimentado, em grande parte, pelo aquecimento
global.

“O nosso objetivo ao divulgar este estudo é fomentar a discussão sobre a relação
entre clima e floresta”, disse a analista de Mudança Climática do WWF-Brasil,
Karen Suassuna.

Abalos

De acordo com o estudo, o cenário mais grave se desenharia a partir do momento
em que as espécies nativas amazônicas, resistentes ao fogo, estiverem tão enfraquecidas
que cheguem a ser substituídas por arbustos de fácil combustão, em decorrência
dos repetidos danos provocados por secas, exploração madeireira ou fogo.

A destruição de uma porção tão grande da floresta, por sua vez, deve levar a
problemas ainda mais graves – e para todo o planeta -, segundo a pesquisa.

“A destruição em grande escala poderia acelerar o abalo global do clima, influenciando
o regime de chuvas em regiões remotas do planeta.”

O modelo dos cientistas indica que neste ritmo, até 2030, de 15 a 26 toneladas
de carbono seriam liberadas na atmosfera, em conseqüência da ação do desmatamento
na Amazônia. O equivalente a entre um ano e meio e 2,6 anos das emissões globais
nos níveis atuais.

“Sem manter um clima estável, é muito difícil conservar a Amazônia; e sem a
Amazônia, é muito difícil manter um clima estável”, resumiu Daniel Nepstad.

Otimismo

Diante dessas previsões, a biodiversidade da região também estaria gravemente
ameaçada. Áreas importantes para o ecossistema da Amazônia, como a floresta
de babaçu do Maranhão e áreas no Maranhão e na Bolívia também poderiam desaparecer,
o que acarretaria na perda de várias espécies, inclusive de primatas, nas próximas
décadas.

Em meio à mensagem pessimista, o estudo apresentado pelo WWF-Brasil traz também
algumas boas notícias. Uma delas, é a capacidade da floresta de se regenerar.

Segundo os autores do estudo, regiões desmatadas conseguem voltar a ocupar as
clareiras mais rapidamente do que se pensava, em apenas 15 anos, voltando a
consumir dióxido de carbono da atmosfera e atuando na estabilização do clima
na região.

Ainda segundo a pesquisa, estudos recentes indicam que vem ocorrendo uma mudança
de mentalidade entre os proprietários de terras amazônicas, que cada vez mais
usam as suas terras para criar orquídeas ou para atividades madeireiras e, por
isso, evitam o uso do fogo como instrumento de manutenção.

Para Nepstad, se o número de fazendeiros conscientes do perigo do fogo aumentar,
o risco de queimadas e a conseqüente degradação da cobertura original da floresta
diminui.

Soluções

Esses dois fatores levaram os pesquisadores a concluir que entre as esperanças
para evitar a destruição da Amazônia estão o fomento a técnicas madeireiras
mais avançadas, no lugar das tradicionais queimadas para a agricultura ou pecuária,
e um controle cada vez maior sobre os incêndios florestais.

Além disso, o grupo coordenado por Nepstad sugere que as políticas de uso de
terra em vigor atualmente na Amazônia brasileira sejam exportadas para outros
países amazônicos, já que parecem ter reduzido a destruição das matas no Brasil.

Finalmente, o estudo conclui que “ainda há tempo para reduzir o risco de uma
destruição generalizada da floresta amazônica e da aceleração do aquecimento
global que ela causaria.”

O grupo de Napsted diz que essa meta, no entanto, poderia ser atingida se o
governo brasileiro aproveitasse “cada oportunidade de governar a expansão nas
fronteiras da Amazônia”.

Para isso, os pesquisadores sugerem a implantação de programas de indenização
para países tropicais que reduzam as emissões de gases do efeito estufa provenientes
de desmatamento.

O assunto é, precisamente, um dos mais polêmicos da reunião da ONU para mudança
climática em Bali.

DESMATAMENTO PODE DEIXAR BRASIL ISOLADO EM CONFERÊNCIA


Negociadores discutem incentivos à queda
do desmatamento

A insistência em uma política de redução do desmatamento em países em desenvolvimento
(Redd, na sigla em inglês) baseada em um fundo para projetos nacionais pode
isolar a delegação brasileira na conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas,
em Bali, na Indonésia.

O alerta foi feito nesta quarta-feira à BBC Brasil por fontes que participam
das negociações no encontro e reforçado por organizações não-governamentais
(ONGs).

A proposta brasileira de Redd compete por apoio com a proposta apoiada pela
chamada Coalizão das Florestas Tropicais (Tropical Rainforest Coalition), que
reúne quase 40 países. O grupo defende a criação de um novo mecanismo de redução
de desmatamento baseado no mercado de créditos de carbono já existente.

Em vez de cada país estabelecer metas próprias de redução de desmatamento em
troca de verbas para um fundo para projetos financiado pelos países ricos, como
quer o Brasil, a coalizão prefere que o sucesso seja recompensado com créditos
de carbono, vendidos ao valor do mercado.

Lado brasileiro

“É surpreendente. Por que se opor a isso? O Brasil seria o primeiro país a se
beneficiar de um programa assim, já que participa ativamente do mercado mundial
de carbono”, afirmou à BBC Brasil o pesquisador americano Daniel Nepstad, do
Centro de Pesquisas Woods Hole, autor de diversos estudos sobre a Amazônia.

A resposta, segundo o embaixador extraordinário para Mudança Climática, Sérgio
Serra, é simples: “O nosso problema é o mercado de carbono”, afirmou.

Serra diz que, no caso do desmatamento, o Brasil não concorda com a premissa
do mercado de carbono, que possibilita a compra de créditos de carbono por países
ricos que poluírem acima da meta fixada internacionalmente. “Isso não reduz
a poluição”, argumentou o embaixador.

O problema é que, até o momento, a proposta do Brasil só ganhou o apoio de pequenos
países insulares (como Tuvalu, na Polinésia, que tem menos de 10 mil habitantes,
distribuídos por uma área de 26 km2.

“Frustração”

Uma fonte que pediu para não ser identificada, porque negocia diretamente com
o governo brasileiro, afirmou estar “frustrada” com a resistência da delegação
brasileira em apoiar a idéia.

A posição brasileira também foi duramente criticada nesta quarta-feira pelo
ativista ambiental John O’Niles, da ONG Grupo das Florestas Tropicais, que defende
o lado da Coalizão das Florestas Tropicais.

Na última quarta-feira, a ONG que O’Niles representa organizou uma apresentação
para chamar a atenção à ameaça que o aquecimento global representa às florestas
tropicais. Durante a manifestação, o Brasil ocupou lugar de destaque.

Nas palavras do Grupo Floresta Tropical, o governo brasileiro continua a obstruir
as negociações, sob a alegação de que os países ricos não fizeram o suficiente
para reduzir as emissões de carbono.

“Créditos para salvar florestas nestas negociações (de Bali) iriam comprometer
o regime pós-Kyoto.”

Nessa discussão, o ponto pacífico é a necessidade de o Brasil apoiar a proposta
da Coalizão – ou conseguir mais apoio.
“Qualquer programa precisa do Brasil”, afirmou a cientista Holly Gibs, conselheira
científica do governo de Papua Nova Guiné, o fundador da Coalizão para Florestas
Tropicais. “O país abriga quase um terço do estoque de carbono de todo o planeta.”

Fonte: BBC Brasil

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