Home Vestibular Política Internacional – Entenda como funcionam as eleições nos EUA

Política Internacional – Entenda como funcionam as eleições nos EUA

by Lucas Gomes


McCain se diz ‘azarão’. Obama: missão cumprida

Apesar de ter sido apontado pelas pesquisas de opinião pública
o virtual derrotado das eleições presidenciais americanas desta
terça-feira, o republicano John McCain disse que mantinha a confiança
na vitória e colocou-se como “azarão” da corrida rumo
à Casa Branca. “Eu acredito que esses estados cruciais já
fizeram sua escolha (pela candidatura republicana), quase todos eles”,
disse McCain, no Arizona, referindo-se às regiões do país
onde a disputa deve ser mais acirrada. Clique aqui para saber quais são
os estados.

> Confira
as propostas dos candidatos

Em Chicago, o democrata Barack Obama juntou-se aos primeiros eleitores que
foram às urnas. Ele votou com a esposa Michelle em uma escola elementar.
Outros eleitores saudaram o democrata, enquanto ele sorria e dizia simplesmente
“votei”, como um sinal de missão cumprida. “A jornada
chegou ao fim, mas foi algo grandioso votar com minhas filhas”, disse Obama.

A candidata republicana a vice-presidente, a governadora do Alasca, Sarah Palin,
foi para sua cidade natal, Wasilla, no Alasca, onde votou no início da
tarde (no horário de Brasília). Em seguida, ela foi a Phoenix,
no Arizona, para um comício com McCain. O candidato a vice pelo Partido
Democrata, o senador Joseph Biden, votou na manhã desta terça
em Wilmington, no seu estado natal de Delaware, acompanhado pela esposa e a
mãe.

Votação – A votação começou
pela costa leste: a cidade de Dixville Notch, em New Hampshire, sendo a primeira
a receber os votos dos eleitores, que decidiriam se o democrata ou o republicano
John McCain substituiria George W. Bush a partir de janeiro. Na diminuta Dixville
Notch, a vitória foi de Obama: 15 votos para o democrata e seis para
McCain. O Comitê de Estudos Sobre o Eleitorado, um grupo independente,
calculou que mais 130 milhões iriam às urnas nesta terça-feira.

Os estados seguintes que abriram seus pontos de votação foram
Massachusetts, Maine, Rhode Island, Nova York, Connecticut, Nova Jersey, Delaware,
Pensilvânia e Vermont. Pouco depois, foi a vez de Ohio, Virgínia
Ocidental e Carolina do Norte.

A votação, que incluiu a renovação de um terço
do Senado e de todos os 435 membros da Câmara de Representantes, terminou
entre as 23h desta terça e 3h da quarta (no horário de Brasília).
O fechamento dependeu da posição do estado no território
americano, sendo que as áreas do Oeste, incluindo a Califórnia,
mais populoso e rico do país, foram as últimas a suspender a votação.

Obama chegou ao dia da votação como favorito. De acordo com pesquisa
Washington Post-ABC News, divulgada nessa terça-feira, 04, ele aparecia
em 54% das intenções de voto, enquanto McCain estava com 43%.

Colégio – Como a eleição nos EUA, no
entanto, depende da votação dos colégios eleitorais, os
dois candidatos continuaram em campanha nesta terça. Obama começou
o dia no estado de Indiana, enquanto que McCain ainda tentou arrecadar votos
no Colorado e no Novo México.

Milhões de eleitores puderam votar por antecipação em
37 dos 50 estados americanos. Segundo um levantamento Reuters/Zogby, o democrata
era o favorito em seis de oito estados-chave para as eleições
americanas – cinco deles de tradição republicana.

Entenda o processo das eleições norte-americanas, desde
a corrida pela indicação partidária até o dia da votação (em 4 de novembro de
2008):

1. Quando os eleitores americanos elegeram o seu novo presidente?
A eleição foi em 4 de novembro de 2008. O pleito indicou o 44º presidente dos
Estados Unidos, pois o atual ocupante do cargo, George W. Bush, do Partido Republicano,
não pode concorrer outra vez – ele já foi reeleito em 2004, quando derrotou
John Kerry, do Partido Democrata. Ao contrário do que geralmente ocorre nos
EUA, onde um presidente reeleito costuma apoiar seu vice na eleição seguinte,
Dick Cheney não foi candidato. Por escolha própria, o vice de Bush abdicou da
disputa antes mesmo da votação de 2004 (quando Bush chegou a cogitar a troca
de seu companheiro de chapa). Foi a primeira eleição sem um presidente ou vice,
em 80 anos.

2. Por que os pré-candidatos começaram essa campanha tão cedo?
Por causa da realização das eleições primárias, no início de 2008, e da busca
de recursos para financiar as campanhas, a corrida começou nos primeiros meses
de 2007. Em primeiro lugar, os pré-candidatos precisavam ganhar projeção nacional
(em palestras, comícios e viagens) e viabilizar uma candidatura vitoriosa. Só
assim teriam chances de chegar às primárias com força. Em relação à arrecadação,
é uma necessidade legal. A legislação eleitoral americana é muito rigorosa no
controle das doações feitas pelos simpatizantes de cada pré-candidato. Para
poder receber qualquer valor, o político que almeja chegar à Casa Branca deve
obrigatoriamente formar um “comitê exploratório”, tornando oficial sua intenção
de concorrer.

3. Como funciona o processo de eleição do presidente americano?
O presidente não é eleito por voto popular, mas sim por um colégio eleitoral.
O colégio tem 538 votos, divididos entre os estados. Em quase todos, o vencedor
do voto popular leva todos os votos do colégio eleitoral do estado. Na eleição
de 2000, Bush venceu assim: mesmo tendo menos votos que o rival Al Gore na soma
do país todo, foi o mais votado na Flórida, e levou todos os votos do colégio
eleitoral naquele estado. A distribuição dos votos no colégio é feita de acordo
com o número de deputados e senadores de cada estado. O estado mais populoso,
a Califórnia, tem 55 votos no colégio (ou cerca de 10% do total, apesar de abrigar
12% da população americana).

4. Por que a escolha do presidente não é feita pela votação popular?
O sistema de colégio eleitoral é uma velha tradição americana, e por isso jamais
foi alterado. Ele surgiu na constituição de 1787, quando os treze estados que
formavam o país na época não quiseram entregar a eleição do presidente ao povo.
Assim, cada assembléia legislativa estadual ficava encarregada de votar no colégio.
Com o tempo, os membros do colégio passaram a ser apontados pelos partidos e,
em seguida, pela votação popular – o que ocorre até hoje. De tempos em tempos
aparecem tímidas propostas para mudar o sistema. A possibilidade de transformação,
porém, é considerada remota, pelo menos a curto e médio prazos.

5. Como os candidatos são indicados por democratas e republicanos?
Através das convenções dos partidos, em que delegados de todos os estados se
reúnem e indicam quem é o candidato de sua preferência. Os delegados, por sua
vez, são escolhidos nos meses que antecedem as convenções, em votações primárias
e assembléias, nos estados. Nas primárias, os eleitores filiados a cada partido
vão às urnas – de forma voluntária – e indicam qual candidato preferem. Na assembléia
os eleitores se reúnem em locais públicos ou residências, discutem qual é o
melhor nome e optam por um deles. A porcentagem de votos nas primárias e de
adesões nas assembléias corresponde ao número de delegados enviados à convenção
para defender cada candidato. Na prática, o favorito dos seguidores de cada
partido é apontado pelos próprios eleitores e depois consagrado publicamente
nas convenções.

6. Qual é o calendário das indicações dos dois principais partidos?
De janeiro a junho, as assembléias e primárias indicam os delegados para as
convenções. Por volta de março, contudo, os candidatos geralmente já estão definidos,
e as primárias restantes passam a ter valor apenas simbólico. Para esta eleição
de 2008, entre 25 e 28 de agosto, os democratas realizaram a sua convenção,
em Denver, Colorado. Entre 1 e 4 de setembro, foi a vez dos republicanos, em
St. Paul, Minnesota. Com os candidatos escolhidos, a campanha começou oficialmente
logo em seguida. Depois da votação de 4 de novembro, os integrantes do colégio
eleitoral se reunirão em 15 de dezembro para confirmar o vencedor. No
dia 6 de janeiro de 2009, o resultado oficial será apresentado ao Congresso
dos EUA. Em 20 de janeiro, o novo presidente será empossado.

7. Quem foram os concorrentes mais fortes até o começo das primárias?
Pelo menos sete pré-candidatos foram apontados como concorrentes sérios nos
dois partidos. Entre os republicanos, Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York;
Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts; e John McCain, senador pelo Arizona,
despontaram como os principais nomes, mas Mike Huckabee, ex-governador de Arkansas,
virou o ano em alta nas pesquisas. Entre os democratas, Hillary Clinton, senadora
por Nova York; Barack Obama, senador por Illinois; e John Edwards, ex-senador
pela Carolina do Norte, lideraram as intenções de voto. A possibilidade de outro
candidato forte entrar na briga foi quase nula. Em 2007, os principais alvos
dos rumores nesse sentido foram o antigo vice-presidente Al Gore (democrata)
e o ex-deputado Newt Gingrich (republicano), mas não houve tempo para
candidatura de última hora.

8. Qual foi o favorito entre os pré-candidatos da oposição democrata?
Nome mais citado para a sucessão de Bush desde o pleito de 2004, a
senadora Hillary Clinton foi a figura de maior destaque entre os democratas.
A mulher do ex-presidente Bill Clinton era mais conhecida que os rivais e tinha
o maior poder de arrecadação de fundos para campanha. Se eleita, seria a primeira
mulher a presidir os EUA. Nos últimos meses, contudo, ganhou fôlego na briga
o então senador Barack Obama, que empolgou boa parte do eleitorado democrata
pela juventude e carisma. Cresceu nas pesquisas com o apoio declarado da apresentadora
de TV, Oprah Winfrey. Obama é o primeiro negro na presidência. Nas pesquisas
nacionais, Hillary virou o ano em primeiro lugar, com Obama em segundo e Edwards
em terceiro.

9. Qual foi o favorito entre os pré-candidatos republicanos (governistas)?
Entre os eleitores, o preferido era Rudy Giuliani, ainda muito admirado
pelo papel exercido como prefeito nova-iorquino depois do atentado de 11 de
setembro de 2001. Nas sondagens nacionais, ele aparecia em primeiro lugar entre
os republicanos. Mas Giuliani, casado três vezes e dono de posições rejeitadas
pela ala majoritária do partido, teve forte rejeição entre importantes líderes
republicanos (além da oposição dos grupos religiosos que costumam apoiar seus
candidatos). O preferido desses grupos era John McCain, aparecendo apenas em
quarto lugar nas sondagens do fim de 2007. Além das marcas ruins nas pesquisas,
o senador era considerado velho demais – se vencesse a eleição, tomaria posse
aos 72 anos. O segundo colocado no fim de 2007 era Mitt Romney, seguido por
Mike Huckabee.

10. Qual foi o papel de George W. Bush e Dick Cheney na eleição?
Se a popularidade do presidente continuasse baixa, Bush deveria se
afastar da campanha. Se recuperasse pelo menos parte de sua aprovação popular,
deveria subir ao palanque do candidato republicano para pedir votos e tentar
garantir a manutenção do partido no poder. Em qualquer cenário, porém, Bush
e Cheney foram personagens centrais da disputa. Os democratas deveriam centrar
fogo nos fracassos da gestão republicana. Os governistas tentariam defender
as escolhas do atual presidente – ou, numa jogada mais arriscada, criticar o
próprio governo Bush e tentar ganhar votos com a insatisfação provocada pelo
atual governo.

11. Qual foi o peso da guerra do Iraque para a campanha presidencial?

Todos os analistas políticos americanos apontavam a guerra como tema central
da disputa presidencial de 2008. A crescente falta de apoio popular à presença
americana no Iraque poderia não só minar as chances de vitória dos republicanos
como também derrubar a principal candidata democrata – na época da invasão,
Hillary Clinton apoiou Bush na decisão de atacar. Por isso, Barack Obama insistiu
no assunto para enfraquecer a adversária. Como o senador ainda não estava no
Congresso quando os EUA atacaram, ele não teve histórico de votações favoráveis
a Bush na questão. Mas nos últimos meses, Obama foi um dos principais críticos
da guerra na política americana.

12. Quais foram os outros temas em destaque na campanha?
Além da guerra e do combate ao terrorismo internacional, os candidatos e eleitores
dedicaram suas atenções aos assuntos internos. Ao contrário da última eleição,
em que a guerra ao terror foi o tema dominante, a atual corrida eleitoral discutiu
a política imigratória, o sistema de saúde, o combate ao desemprego e os acordos
comerciais. Nos primeiros debates dos republicanos e democratas, as questões
mais divisivas foram a imigração e a saúde pública. Alguns candidatos falaram
em conceder alguns direitos a imigrantes ilegais e oferecer sistema de atendimento
médico a todos os cidadãos do país. Outros queriam endurecer o combate aos ilegais
e rejeitaram mudanças na saúde.

13. Qual foi a tendência sinalizada nas primeiras pesquisas de opinião?

Os números das sondagens realizadas em 2007 apontaram para certo favoritismo
dos democratas. Os candidatos do partido empolgaram e mobilizaram o eleitorado
como há muito não se via. A presença de Hillary e Obama na campanha atraiu
mais mulheres e negros para o debate político. Entre os republicanos, o problema
foi justamente a falta de empatia com os candidatos. Rudy Giuliani, o mais famoso
e carismático, não agradou aos mais conservadores. As pesquisas realizadas,
contudo, significaram quase nada. Com o sistema de colégio eleitoral, um candidato
favorito disparado na eleição popular (na época, a democrata Hillary)
poderia não conseguir vencer o pleito.

Fonte: Revista Veja

Posts Relacionados