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Trote Solidário ganha força nas universidades

by Lucas Gomes

Após o vestibular, a satisfação em ver que meses de estudo
e dedicação resultaram em bons frutos convive com a preocupação
com o trote, ritual de iniciação à vida universitária,
marcado em algumas instituições de ensino por suas características
violentas. Apesar do trote em algumas faculdades ainda ser sinal de constrangimento,
o trote solidário, que visa a pratica de ações beneficentes,
vem crescendo a cada ano.

Segundo Cibele Helena, coordenadora da ONG Trote da Cidadania, a tendência
é a esse tipo de recepção ao calouro ganhar mais adeptos.

Nós acreditamos que quando o calouro chega, e ele é recebido
com esse tipo de ação, o mais provável é que, no
próximo ano, ele multiplique essa idéia. Vamos com isso formar
uma corrente
– diz Cibele.

Nada de tinta colorida pelo corpo ou cabelo cortado à força,
os alunos de Engenharia Ambiental da Universidade do Vale de Itajaí (Univali),
em Itajaí, Santa Catarina, promoveram um trote que acabou sendo uma surpresa
positiva para os calouros do curso, que fizeram o recolhimento do lixo e o plantio
de mudas de espécies nativas às margens do Rio Itajaí-Mirim.

Nós sabíamos que não seriamos pintados nem teríamos
que pedir dinheiro, mas não tínhamos idéia que seria uma
coisa tão boa. Plantamos mais de 300 mudas na beira do rio. O local era
totalmente desmatado, depois de duas horas estava completamente diferente. É
muito gratificante isso, e o melhor, estamos interagindo com os veteranos e
lidando com uma situação que daqui pra frente vai fazer parte
do nosso cotidiano
– relata Rejane de Cristo, 17 anos, caloura do curso
de Engenharia Ambiental da Univali.

Até alguns veteranos que antes colocavam os calouros pra pedir dinheiro
no sinal e andar com as roupas as avessas estão aderindo às novas
idéias de recepcionar os colegas. Como o caso de Adriana, aluna da Universidade
de São Paulo (USP), que se arrepende de não ter feito isso há
mais tempo.

Participei como veterana do trote pintando e colocando calouros para
pedir dinheiro no farol e sinto muito por isso. Na época não me
dei conta do que isso significava. Olhando pra trás, vejo o desperdício
de criatividade. Enquanto veterana, eu sei que posso mobilizar alunos, veteranos
e calouros. Por que não fazer isso para o bem comum? Ações
sociais também integram e proporcionam uma recepção mais
saudável
– lamenta Adriana Mendes.

Para os alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a melhor forma
de recepcionar os novos companheiros e através de uma gincana, da qual
participam empresas juniores da UFMG. A competição consiste em
premiar equipes de estudantes que consigam coletar o maior volume de material
escolar, alimentos e produtos recicláveis, como papel, alumínio
e plástico descartados. Todo o material recolhido é destinado
a instituições de assistência. A participação
dos alunos é facultativa, o que agradou a todos e atrai mais calouros,
que prometem dar continuidade a idéia.

Achei a iniciativa dos veteranos ótima. Fiquei surpresa, pensei
que ia ser recebida com ovos, farinha e muita tinta, mas ao contrario disso
fui recepcionada com uma gincana que integrou a todos. Pretendo no próximo
ano poder dar continuidade ao trote solidário
– fala Adriana Martins,
caloura da UFMG.

Veterana na aplicação do trote solidário a Universidade
Federal Fluminense, em Niterói (UFF) prepara uma programação
de duas semanas para recepcionar os calouros. As atividades são de cunho
social, como doação de sangue, alimentos e roupas e também
prestação de serviços voluntários. Todos os campi
da UFF, espalhados pelo interior do estado do Rio de Janeiro, participam do
projeto. De acordo com a coordenadora do Trote Cultural da UFF, Nelma Cezario,
a iniciativa dos veteranos começou em 2001 e já rendeu vários
prêmios à universidade.

Um dos maiores prêmios que conquistamos é ver a alegria
nos rostos dos calouros e ver a satisfação que é explicita
através dos e-mails e conversas. Nesses seis anos de Trote Cultural nós
conseguimos reduzir o número de trote vexatório. Além disso,
ano passado ganhamos pela terceira vez consecutiva o prêmio da ONG Trote
da Cidadania
– conta Nelma.

Para garantir que essas ações sejam levadas adiante, a ONG Trote
da Cidadania programa cursos de capacitação para os estudantes,
que ensinam a mobilizar pessoas para as ações, captar recursos
e identificar as necessidades da comunidade. Outro estímulo é
o prêmio do Trote da Cidadania, no qual cerca de 60 universidades de 13
estados brasileiros devem se inscrever.

Para concorrer ao prêmio Trote da Cidadania basta acessar o site www.trotedacidadania.org.br
. É importante também relatar como foi o trote e enviar fotos.
No ano passado, 150 faculdades de 7 estados brasileiros participaram do Prêmio
Trote da Cidadania. Esse ano, o primeiro lugar ganhará um laptop e um
curso de empreendedorismo social. A segunda e o terceira colocação
também serão premiadas.

Na tentativa de acabar com o trote violento (relembre alguns casos no Brasil
) algumas instituições procuram impor limites na forma como os
veteranos recebem os calouros. De acordo com a professora da Marta Souza Lima,
da PUC-RJ, além das restrições, que devem ser impostas
pelas universidades, deve haver também uma conscientização
dos alunos.

Para o trote solidário se consolidar é necessário
que aconteça uma mudança na mentalidade das pessoas e das instituições
de ensino, que devem estar atentas, ajudando a transformar essa tradição
do trote vexatório. A PUC-RJ, por exemplo, é uma instituição
que procura sempre coibir os excessos
– afirma Marta.

Fonte: Jornal O Globo

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