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Escola Sesc de Ensino Médio recebe alunos de todo o Brasil para seu primeiro ano letivo no Rio

by Lucas Gomes

O início das aulas na Escola Sesc de Ensino Médio (Esem) é
aguardado com ansiedade não só por alunos, pais e professores,
mas também por educadores e pesquisadores. No dia 19 de fevereiro, além
das aulas, um projeto diferente na área de educação começa
a ser posto em prática no Brasil e provoca curiosidade. A escola-residência
do Sesc – com 59 mil m2 de área construída na Barra da Tijuca,
na última saída da Linha Amarela, e capacidade para 500 alunos,
entre 14 e 18 anos -, vai reunir jovens de diversos estados do Brasil, que lá
deverão morar enquanto se preparam para enfrentar o mercado de trabalho,
explica a diretora da escola, Cláudia Fadel .

– As turmas são de no máximo 15 estudantes e o regime de horário
é integral. Os alunos terão atividades educativas em salas de
aula e extraclasse em diversos espaços externos ou internos da escola.
Este ano, teremos alunos de todos os estados do Brasil. Nosso objetivo é
que o estudante saia da escola dominando a ferramenta tecnológica (cada
aluno receberá um laptop), a língua inglesa e com uma formação
profissional – explica a diretora.

A escola tem como meta proporcionar tanto a base para o ingresso no ensino
superior e quanto as ferramentas para o mercado de trabalho. Segundo Cláudia,
um programa acadêmico que utiliza a contextualização e a
interdisciplinaridade, integrando conteúdos curriculares com projetos
e pesquisas, além de formação profissional, torna esse
objetivo possível.

A primeira turma da Esem será totalmente subsidiada pelo Departamento
Nacional do Sesc. Segundo a diretora, ainda não há uma definição
de como será daqui para frente. De acordo com a Cláudia, o próximo
processo seletivo será em julho deste ano e será aberto a todos
os estudantes. A avaliação consiste em provas de português,
matemática e conhecimentos gerais, e entrevistas com os alunos e seus
pais. Em caso de empate, explica Cláudia, a vaga é dada preferencialmente
a filhos ou dependentes de comerciários:

– Para que o projeto dê certo, é importante que o aluno queria
muito vir e que suas famílias queiram muito que eles venham. Por isso,
são feitas entrevistas com os adolescentes e com seus pais. Esta primeira
turma será 100% subsidiada pelo Sesc. A única coisa que não
pagamos foi a passagem dos alunos, por que queríamos ver o quanto as
famílias se mobilizariam para que os alunos estivessem aqui. E foi lindo
ver como se mobilizaram. Em alguns estados, os alunos viraram heróis
e ganharam até faixas nas ruas – conta.

De acordo com o diretor pedagógico da Esem, Artur Motta, outro diferencial
em relação aos colégios de ensino médio tradicionais
é a valorização do professor.

– A escola tornou concreta uma luta antiga da categoria para que os professores
tenham condições mais adequadas de trabalho. Na Esem o professor
terá tempo remunerado para planejar suas aulas e discutir com os colegas.
Além disso, o docente pode contar com material de apoio e poucos alunos
por turma. Tudo isso cria condições para que ele reflita permanentemente
sobre seu trabalho.

Com um projeto arquitetônico de R$ 94 milhões, a Escola Sesc de
Ensino Médio é totalmente informatizada – o campus é wireless
– e oferece, além das salas de aula e vilas de estudantes e professores,
restaurante e teatro com 600 lugares, biblioteca com 40 mil volumes, ginásio
coberto, quadras poliesportivas, piscina semi-olímpica, campo de futebol,
sala de dança, ginástica e musculação. Houve também
uma preocupação com o aspecto sócioambiental: a escola
tem um canal coletor de água, para uso nos jardins e na limpeza do campus;
os pisos dos corredores são feitos com plástico reciclado; e teto
é coberto por uma vegetação rasteira para amenizar a temperatura
no interior das construções e economizar energia.

Para pesquisadora, projeto é interessante no papel, mas pode
ser inviável

Para a professora da UFRJ, Mônica Pereira dos Santos, pesquisadora em
Educação, como não há nada nos mesmos moldes no
Brasil, é difícil avaliar o projeto. No entanto, se mostra reticente:

– Só o que podemos fazer é levantar hipóteses, uma vez
que não temos nada parecido aqui no Brasil. No papel, é um projeto
muito bonito e completo, com uma grade curricular muito rica, com esportes,
cultura e lazer. Mas, não me parece economicamente viável. A inspiração
vem de escolas internatos americanas ou européias, que são mantidas
pelas classes altas dessas sociedades. Aqui, a idéia é atender
a uma classe menos favorecida, com mensalidade zero ou mínima. Será
viável manter toda aquela estrutura?

Já a coordenadora do terceiro ano da escola Dínamis, no Rio,
a historiadora Monica Piccolo, acredita que, apesar de ajudar o aluno a vivenciar
mais plenamente a escola, uma instituição nesse estilo precisa
de um projeto pedagógico muito eficiente para não fracassar em
seus objetivos:

– Hoje, quando o aluno volta para casa, a escola o perde para a TV, o iPod,
o computador… Morando na escola, isso tende a diminuir. No entanto, serão
necessárias atividades extremamente diversificadas para que o aluno não
se sinta aprisionado. É um projeto que exige muito da escola e do docente.
É bem verdade que as condições de trabalho e o salário
são grandes incentivos para os professores, mas uma estrutura em que
o profissional não desliga do trabalho não me parece muito saudável.

Para a diretora da Escola Sesc de Ensino Médio, o objetivo maior da
escola é formar a liderança servidora do país.

– Quando a gente diz que passar no vestibular não é o objetivo
da escola, é por que isso é o mínimo que se espera de um
corpo docente. A preocupação é que os estudantes saiam
com um norte, seja para seguir uma universidade, seja para conseguir um emprego.
A gente quer formar o líder servidor.

Monica Piccolo concorda que hoje a preparação para o vestibular
é o mínimo que uma escola pode oferecer.

– Hoje, uma escola não sobrevive se não apresentar uma boa aprovação
no vestibular. Para a classe média brasileira, a universidade ainda representa
uma possibilidade de ascensão social e profissional, por isso quer que
o filho esteja apto a entrar nesse mundo.

Fonte: Jornal O Globo

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