Home Vestibular Entenda por que a prova do Enem poderá ser comparada à do ano anterior

Entenda por que a prova do Enem poderá ser comparada à do ano anterior

by Lucas Gomes

A mudança no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), proposta
pelo Ministério da Educação (MEC), não será
somente no número de questões, de 63 para 200, além da
redação. A adoção de outra metodologia na elaboração
da prova vai permitir que o desempenho dos alunos na prova possa ser comparado
ano a ano.

Com isso, será possível acompanhar a evolução do
ensino e evitar até que algum candidato saia prejudicado por ter feito
uma prova mais difícil do que o seu concorrente, já que muitas
universidades aceitam a nota do Enem dos últimos dois anos. O Enem também
deverá cobrar mais conceitos e não ficar só nas questões
contextualizadas, sua marca registrada.

No modelo atual, mesmo que se tente manter o mesmo nível de complexidade,
o grau de dificuldade do exame é variável, então, não
é possível dizer com precisão se o resultado dos estudantes
melhorou ou piorou porque são coisas diferentes sendo comparadas. Por
essa teoria, chamada de clássica, a quantidade de acertos é levada
em conta e não o que o candidato acertou. Ou seja, em linhas gerais,
a preocupação é quantitativa e não qualitativa.

No novo formato, será usada a teoria de resposta ao item (TRI). O foco
é no item, como é chamada cada questão, e não no
total de acertos. A teoria é o conjunto de modelos que relacionam uma
ou mais habilidades com a probabilidade de a pessoa acertar a resposta.

“Existem vários modelos que podem ser usados. Uma das possibilidades
é repetir pelo menos 20% das questões da prova de um ano ao outro.
Como parte das perguntas será a mesma, consegue-se saber se os acertos
dessas questões aumentaram ou não”, afirma Dalton Andrade,
professor titular do Departamento de Informática e Estatística
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Referência na área,
ele participou do grupo que elaborou o Enem em 1998.

As questões que serão repetidas de um ano para o outro são
escolhidas de acordo com orientações dos avaliadores. Em matemática,
por exemplo, pode-se repetir uma questão de cada área, como trigonometria
e geometria, para que sejam medidas habilidades diferentes.

Outro modelo é colocar questões calibradas, como são chamadas
as perguntas previamente testadas. Provas com diversas questões são
aplicadas a um grupo de pessoas. Conforme as respostas obtidas, a questão
é colocada numa escala de proficiência.

Escala de proficiência

Cada exame, como o Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) e o Programa Internacional de Avaliação de
Alunos (Pisa, na sigla em inglês) , tem a sua escala de proficiência,
que é como se fosse uma régua. Cada ponto da escala funciona como
um indicador do que e do quanto a pessoa sabe sobre a habilidade avaliada naquela
questão.

Uma pergunta de português, por exemplo, pode avaliar se quem responde
sabe estabelecer relações entre imagens, gráficos e um
texto. Outra analisará se essa mesma pessoa sabe relacionar causa e conseqüência
entre partes do texto. A questão de múltipla escolha pode ter
só uma resposta certa e as outras erradas ou uma certa, outra meio certa
e as restantes erradas. Isso significa que, se a pessoa escolher a meio certa,
a sua proficiência naquele assunto é parcial.

Então, de posse de um acervo numeroso, é montada uma prova só
com questões calibradas. Outros exames, como o Toefl e o SAT , também
usam essa mesma teoria. “Isso permite que várias pessoas façam
as provas em momentos diferentes, pois elas são comparáveis”,
afirma Andrade. “O desempenho numa prova depende de quais itens e não
só de quantos a pessoa acertou.”

Comparação

O MEC poderá usar esses ou outros modelos da teoria no novo exame, que
ainda está sendo elaborada. O resultado na prova do Enem só será
comparável assim que tiver sido aplicada no novo formato por dois anos
seguidos.

Segundo Andrade, a aplicação dessa teoria exige recurso computacional
mais sofisticado. “Era possível usá-la no Enem antigo, mas
seria algo muito complexo, já que as questões do Enem eram mais
contextualizadas. Agora, com a mudança para cobrar mais conceitos e uma
divisão por quatro grandes áreas, isso fica um pouco menos complicado”,
avalia.

A teoria não se aplica à correção da redação,
que é mais subjetiva. “Em geral, as redações são
corrigidas por duas pessoas diferentes e, se há uma discrepância
muito grande entre as notas, um terceiro avaliador corrige.”

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