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Literatura – Rubervânio Rubinho Lima, escritor baiano, fala sobre Literatura e Vestibular

by Lucas Gomes


Rubervânio Rubinho Lima

Rubervânio Rubinho Lima nasceu em Paulo Afonso, estado da
Bahia, no ano de 1979. Graduado em Letras (FASETE), possui Especialização
em Estudos Literários, pela UEFS – Universidade Estadual de Feira de
Santana. Cursa também a Pós-Graduação de Especialização
em Gestão Cultural, pelo SENAC. Escreve contos, romances, poemas, músicas,
tendo recebido vários prêmios literários. Possui também
o livro de contos Conversas do Sertão, publicado pela UEFS.

Em entrevista a Leonardo Campos*, Rubervânio fala sobre
Literatura e Vestibular.

Leonardo Campos – Escrever e ser professor ao mesmo tempo
é uma dificuldade?

Rubervânio Rubinho Lima – Eu, particularmente, acho
que escrita e ensino caminham juntos. Na minha história de vida, sempre
consegui juntar as duas coisas em propósito da evidência que faço
na importância da leitura. Eu já escrevo há um bom tempo
e também tenho alguns anos lecionando disciplinas ligadas a área
de Letras e confesso que, em alguns projetos literários que estou trabalhando,
a escrita, sobretudo o ensino e a importância da leitura, são temas
em que abordo constantemente em meus contos. Ser professor me abriu caminhos
para a escrita imensuráveis. Não há como dissociar as duas
coisas.

LC – Como você definiria o panorama atual da Literatura
Brasileira?

RRL – Há quem diga que a contemporaneidade literária
está corrompendo toda a Literatura anterior, mas eu acredito que, a partir
de manifestações dessa nova geração de escritores
e de leitores, acontece algo que com certeza será definido, futuramente
por algum teórico como mais um período ou escola literária.
É uma época em que tudo é rompido. Surge, através
dos avanços tecnológicos e da internet, um novo grupo de leitores,
os “decodificadores visuais” e também isso acaba influenciando
a nova escrita. O que mais vemos são poemas, contos, romances, sendo
criados com o foco no visual, na leitura dinâmica e, acima de tudo, o
livro impresso também disputa espaço com os aparatos tecnológicos,
livros virtuais, leitores eletrônicos, blogs, sites de relacionamentos,
chat etc.

LC – Há seleções de poesia em provas de
vestibulares, porém, as obras literárias em prosa ainda ganham
no quesito espaço. Com isso: você acha que ainda há dificuldade
em se estudar poesia no Brasil?

RRL – A poesia, talvez por já trazer, de certa forma,
uma subjetividade em seu bojo, acaba sendo algo um tanto complicado de se analisar,
por parte de leitores. É preciso mergulhar na essência do eu-poético
para se chegar ao que o criador queria incitar. Isso acaba entrando em conflito
com os padrões dos vestibulares, que procuram testar o fator conhecimento-tempo-estado
psicológico dos pretendentes a ingressar nas universidades. Além
disso a poesia, ao meu ver, precisa ser bebida, sentida e o que acontece é
uma análise maquinal, do conteúdo, o que também para a
prosa acaba sendo mais compreensível. Quando me refiro a leitura maquinal,
digo da análise proposta, no maior dos casos, pelos professores que instigam
aos alunos (sejam eles vestibulandos ou não) à ganharem tempo
nos estudos e nas provas. A poesia deveria ser abordada como ela necessita ser.
Através do sentimento que ela pode desencadear.

LC – Você é poeta. Comente a sua relação
com a literatura, sua obra e seus projetos para posteridade.

RRL – A poesia, na minha vida, apareceu como um reflexo de
leitura de poemas e, também por influência do meu pai, que era
poeta em vida e me animou a colocar no papel os versos. Tenho uma reunião
de poemas que pretendo publicar, que titulei de “poemas silenciosos”,
mas o que acontece é que nós, escritores jovens e iniciantes,
nos deparamos com dificuldades de captação de recursos e isso
atrapalha bastante. Recentemente, através de uma premiação
num concurso literário realizado na Universidade Estadual de Feira de
Santana, consegui que a Universidade publicasse um de meus livros de contos,
cujo título é Conversas do Sertão. O que acontece,
na maioria das vezes para nós jovens escritores é isso. Devido
a tantas dificuldades e pouco incentivo cultural, temos que nos desdobrarmos
e lutarmos por publicações. Aí entram os concursos literários
e os editais das secretarias de cultura. O fato de tentarmos, mesmo sendo esses
eventos muito concorridos, nós dá esperanças de publicarmos
nossos livros e, enfim, tirá-los das gavetas ou das pastas nos computadores
e projetá-los ao mundo.

LC – Ítalo Calvino, em seu ensaio Por que ler
os clássicos
, comenta que há livros que estamos sempre relendo
ou aqueles que precisamos reler e que possuem ligações com a atualidade.
Em sua opinião, quais são os grandes clássicos da literatura
brasileira?

RRL – Falar em livros clássicos, obrigatórios,
sempre é uma luta e, ao meu ver, uma questão que, na maioria das
vezes, está alicerçada nos teóricos que estipulam um cânone.
Isso vimos em teóricos como Harold Bloom, Afrânio Coutinho, Alfredo
Bosi, Calvino, dentre outros e o que acontece é que, por sempre ter alguém
que dite qual livro deve fazer parte desse cânone, ou qual livro deva
ser listado entre “os melhores”, acontece exclusões de literatura
por diversos fatores. O que ocasiona alguns livros que, para uns seriam cruciais,
para outros não seriam clássicos essenciais. Para ilustrar isso,
recordo agora de um livro que li, chamado Cultura letrada, de Márcia
Abreu, que falava exatamente sobre isso. Teóricos que, por seus motivos
pessoais, classificam qual é ou qual não é a leitura obrigatória.
No entanto, desprendendo-me desses conceitos, acredito que há livros
que, enquadrados ou não entre os “clássicos”, merecem
estudo e leitura, tais como Memórias Póstumas de Brás
Cubas
, Dom Casmurro, de Machado de Assis, O cortiço,
de Aluízio de Azevedo, O Guarani, de José de Alencar,
a antologia poética de Fernando Pessoa, sem esquecer também de
mencionar romances significativos do período de 30, com temáticas
que permeia entre seca, cangaço, ciclo da cana-de-açucar e coronelismo,
como obras indispensáveis tais como as de Graciliano Ramos, Raquel de
Queiroz, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, dentre outros.

LC – O que você acha da febre atual em torno de Crepúsculo
e Harry Potter? As crianças entram na febre e não querem mais
ler livros com maior consistência e aspectos críticos. Comente.

RRL – Sem adentrar no quesito estratégia temática
do momento, através da sublimação de assuntos como magia,
vampirismo, fantasia, super-poderes e tudo mais que, de certa forma, sempre
atraiu o público jovem, acredito que Harry Potter aparece, nesse sentido,
como um divisor de águas. Antes as crianças e adolescentes se
encantavam com os livros fantásticos de escritores como C. S. Lewis,
porém, o quadro da fantasia que hoje chega-nos é uma cópia
da culturalização estrangeira, que acaba sendo motivo de imitação.
No entanto, levando para outro lado, talvez a leitura de livros nas linhas de
Harry Potter e Crepúsculo possam ser ferramentas ótimas nas mãos
de educadores que instigam seus alunos à leitura, seja ela qual for,
já que o que acontece é o desinteresse quase completo pelos jovens
nos livros.

LC – Literatura e vestibular: você acha que
a seleção de livros para o vestibular é problemática
ou efetiva?

RRL – Eu acredito que essa escolha deva, principalmente,
levar em consideração alguns fatores que, ao meu ver, são
importantes para se testar um candidato ao ingresso numa universidade. Acredito
que o caminho seria a priorização e valorização
de escritores que tiveram uma ligação histórica com o lugar
em que o candidato prestará vestibular. Isso abre um campo para a valorização
da literatura daquela região e faz com que os candidatos tenham contato
com essa literatura. Algumas universidades já fazem suas provas de literatura
embasadas nesse princípio. Essa seleção, quando é
feita de maneira a explorar o potencial literário daquele determinado
estado ou cidade, seja ela abordando autores clássicos ou contemporâneos,
passa a ser mais significativa para o vestibulando e para o processo.

*Graduando em Letras Vernáculas com Habilitação em Língua
Estrangeira Moderna – Inglês – UFBA | Membro do grupo de pesquisas “Da
invenção à reivenção do Nordeste” –
Letras – UFBA | Pesquisador na área de cinema, literatura e cultura

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