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Política Internacional – Análise: ‘aventura imperialista’ no Iraque encolheu poder dos EUA

by Lucas Gomes


A ‘aventura imperialista’ dos Estados Unidos no
Iraque durou pouco – sete anos

O governo americano encerrou oficialmente sua missão de combate no Iraque
à meia-noite desta terça-feira, 01/09/2010.

Em fevereiro de 2003, às vésperas da invasão do país
pelas tropas americanas, um importante aliado do então presidente dos
Estados Unidos, George W. Bush, escreveu em um jornal britânico: “Este
é o nosso momento de Império”. E seguiu argumentando que
os britânicos não tinham o direito de criticar os Estados Unidos
por fazer o que eles próprios haviam feito com tanto entusiasmo um século
antes.

Mas o momento imperialista dos Estados Unidos não durou muito. E agora,
sete anos mais tarde, o país é criticado por quase tudo o que
acontece no Iraque. A opinião pública está dividida igualmente
entre os que estão felizes com a partida americana e os que os criticam
por sair tão cedo, deixando o Iraque vulnerável a mais violência
sectária.

Como sempre ocorre em ocupações, o invasor – nesse caso, os Estados
Unidos – não consegue fazer nada certo, nem mesmo sair do país
ocupado. A maioria dos argumentos favorável à invasão em
2003 se esvaziaram.

Muitos iraquianos aprovaram a derrubada de Saddam Hussein. De acordo com uma
pesquisa feita pela BBC em 2004, 50% consideraram a invasão uma liberação.
Outros 50% consideraram a operação uma ocupação.
Hoje, no entanto, é difícil encontrar quem veja os Estados Unidos
como um amigo ou mentor do Iraque.

E a derrubada de Saddam Hussein não provocou, como previam os defensores
da invasão, um efeito dominó em prol da democracia nos países
do Oriente Médio. Muito pelo contrário: a posição
dos Estados Unidos no Oriente Médio foi visivelmente erodida.

Corrupção e má administração

Algumas das medidas adotadas pelas autoridades americanas instaladas na Zona
Verde, em Bagdá, foram sóbrias, positivas e práticas. Outras,
como por exemplo a Constituição que os americanos pressionaram
o país a adotar, representam um entrave que dificulta a criação
de um governo decente no Iraque.

A equipe de administradores instalada na Zona Verde foi formada às pressas,
entre 2002 e 2003, sob supervisão do ex-secretário da Defesa dos
Estados Unidos, Donald Rumsfeld – um homem sem qualquer interesse em construir
nações. Como resultado, casos de corrupção e má
administração atingiram níveis grotescos.

Rumsfeld recebeu do Departamento de Estado americano um relatório de
900 páginas contendo planos cuidadosamente detalhados para o período
posterior à invasão. Segundo relatos, ele teria jogado o pacote,
ainda fechado, direto na lata de lixo.

Quando o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita
perguntou ao ex-vice de Bush, Dick Cheney, por que os Estados Unidos insistiam
em seguir em frente com a invasão, Cheney respondeu: “Porque dá
para ser feito”.

O problema, no entanto, começou bem mais acima.

Um respeitado dissidente iraquiano, que mais tarde se tornou vice-presidente,
descreveu seu choque ao descobrir, algumas semanas antes da invasão,
que o presidente Bush parecia não saber que os muçulmanos no Iraque
estavam divididos entre xiitas e sunitas. Generais americanos pareciam sem esperanças
de encontrar uma solução para a insurgência que aumentava.

A sorte de Petraeus

As forças americanas, contrariando todas as regras básicas de
combate a insurgências, permitiram que o inimigo atacasse, como e quando
quisesse, a estrada principal que ligava o aeroporto de Bagdá à
Zona Verde.

Os soldados britânicos, com experiência adquirida durante o conflito
na Irlanda do Norte, repetiam e voltavam a repetir que patrulhas ocasionais
e nervosas de veículos blindados não dariam aos americanos o controle
da rota. Os americanos ignoravam o conselho e o problema foi piorando. Foi preciso
um especialista em operações contra terrorismo, o general David
Petraeus, para inverter a situação. Como a maioria dos generais
bem-sucedidos, ele teve sorte.

Petraeus sabia que insurgências têm duração limitada
e foi afortunado o suficiente para chegar a Bagdá no momento em que a
insurgência começava a diminuir. Os muçulmanos sunitas estavam
cada vez mais cansados da violência provocada por sunitas extremistas.

Petraeus encorajou os chamados Conselhos do Despertar, milícias financiadas
pelos Estados Unidos onde sunitas tiveram oportunidade de subir na carreira
e combater insurgências por membros do partido de Saddam – o partido Baath
– e também por simpatizantes da Al-Qaeda.

O número de pessoas dispostas a perder suas vidas em ataques suicidas
começou a diminuir. A tática de Petraeus fez mudar a maré.
Durante o ápice da violência, por volta de cem pessoas morriam
por dia no país, vítimas de bombardeios e tiros. Agora, o número
de vítimas da violência política caiu para dez por dia –
inaceitável em uma sociedade pacífica, mas um grande alívio
para os iraquianos.

Futuro incerto

Ainda assim, muitos iraquianos temem que, sem uma grande presença americana
no Iraque, e com o Exército e polícia iraquianos ainda carentes
de treinamento, os extremistas violentos no lado xiita e sunita comecem a lutar
novamente.

O que quer que aconteça no país na próxima década,
os americanos vão levar a culpa. A não ser, é claro, que
o Iraque se torne um país pacífico e próspero – e nesse
caso, ninguém agradecerá os Estados Unidos. Esse tende a ser o
destino de todo poder de ocupação. Vastas quantidades de pessoas
morreram, a grande maioria delas, iraquianos. Quantias inimagináveis
de dinheiro foram gastas no Iraque e, ainda assim, o país caiu no ranking
por riqueza dos países.

E será que os Estados Unidos se beneficiaram? Difícil saber como.
Como os britânicos aprenderam na Guerra Boer, na África do Sul,
e os russos na invasão do Afeganistão, grandes poderes militares
correm grandes riscos ao testar sua força contra oponentes aparentemente
fracos.

Os Estados Unidos parecem ter encolhido como resultado direto de sua aventura
imperial no Iraque. Vão ter de trabalhar duro para provar ao mundo de
que são fortes novamente.

Obama diz que é hora de ‘virar a página’ em relação
à guerra no Iraque


Obama afirmou que EUA têm agora a tarefa de
recuperar economia

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou nesta terça-feira
oficialmente encerradas as operações de combate dos EUA no Iraque
e afirmou que “é hora de virar a página” em relação
ao conflito.
Em um discurso transmitido em rede nacional de televisão a partir do
Salão Oval da Casa Branca, Obama afirmou que os Estados Unidos pagaram
um “preço enorme para colocar o futuro do Iraque nas mãos
de seu povo”, mas que o fim do conflito, que teve início em março
de 2003, é do interesse de iraquianos e americanos.

Segundo Obama, os EUA têm agora uma tarefa “urgente”, que
é a de recuperar sua economia. Mesmos assim, o presidente americano afirmou
que o país continuará apoiando o governo e o povo do Iraque. “A
operação Liberdade Iraquiana terminou e o povo iraquiano agora
assume a responsabilidade pelo futuro de seu país”, disse Obama.

Divergências

Durante seu discurso, Obama afirmou ter conversado com o ex-presidente George
W. Bush, que liderou o início da guerra, mas minimizou as divergências
entre apoiadores e opositores da atuação americana no conflito
que marcaram os últimos sete anos e meio. “É sabido que
ele e eu discordamos em relação à guerra desde seu início”.
“Mas ninguém pode duvidar do apoio do presidente Bush às
nossas tropas, ou de seu amor ao país e comprometimento com nossa segurança.
Eu digo que existiram patriotas que apoiaram esta guerra e patriotas que se
opuseram a ela”, disse.

Obama citou ainda a atuação americana no conflito no Afeganistão,
que teve início ainda antes da guerra do Iraque, em 2001. Segundo ele,
a retirada das tropas de combate do Iraque permitirá que os militares
americanos encaminhem mais recursos para o Afeganistão, onde os Estados
Unidos continuam comprometidos com a derrota do Talebã e da rede extremista
Al-Qaeda.

Obama, no entanto, afirmou que a missão americana também terá
“um tempo limitado”, até que as forças afegãs
possam assumir a segurança do país. “Assim como no caso
do Iraque, nós não podemos fazer pelos afegãos o que eles
devem fazer por si mesmos”.

Retirada

A retirada das forças de combate americanas do Iraque acontece apesar
da violência e da instabilidade política no país. Falando
pouco antes do discurso de Obama, o primeiro-ministro do Iraque, Nouri Al-Maliki,
comemorou a retirada das tropas de combate dos EUA e disse que o país
é agora “soberano e independente”.

Atualmente, a violência no Iraque está abaixo do pico registrado
durante os conflitos sectários entre 2006 e 2007, embora o número
de mortes de civis tenha aumentado significativamente em julho.

Embora muitos iraquianos tenham comemorado a retirada americana, outros temem
que ela esteja ocorrendo muito cedo, e que o país pode não estar
preparado para administrar sua própria segurança.

A última brigada de combate dos EUA deixou o Iraque há duas semanas.
Cerca de 50 mil homens permanecerão no país para dar apoio às
forças iraquianas. Todas as forças americanas devem deixar o Iraque
até o final de 2011.

Créditos: John Simpson, editor para Assuntos Internacionais
da BBC News | BBC Brasil

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