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Política Internacional – As eleições na Colômbia

by Lucas Gomes

No dia 20 de junho de 2010, os colombianos foram às urnas para escolher
o substituto do presidente Álvaro Uribe Vélez. A despeito de quem
irá ocupar o cargo, as políticas mais duras contra o narcotráfico
saem vencedoras no país.

O candidato governista Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa, lidera a
disputa contra o candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, que aparece em
segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. No primeiro turno,
realizado em 30 de maio, Santos obteve 46,6% dos votos e Mockus, 21,5%.

Esse quadro eleitoral pode ser explicado pela relação do poder
político com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc), organização terrorista de linha comunista que surgiu em
1964, inspirada na Revolução Cubana. A partir dos anos 1980, o
grupo passou a controlar a produção e o comércio de cocaína
na Colômbia. Estima-se que, de 1980 até o começo deste século,
três milhões de colombianos tenham sido deslocados de suas regiões
por conta da guerra contra o tráfico.

Outra fonte de financiamento dos guerrilheiros é o sequestro. O caso
mais famoso é o da candidata presidencial e senadora Ingrid Betancourt,
resgatada em 2 de julho de 2008, depois de seis anos em cativeiro na selva colombiana,
junto com outras 14 pessoas.

Quando Uribe assumiu a presidência, em 2002, adotou uma política
“linha dura” contra os militantes das Farc, do Exército de
Libertação Nacional (ELN) – o segundo maior grupo guerrilheiro
do país – e de grupos paramilitares.

A medida foi empregada depois que seu antecessor no cargo, o presidente Andrés
Pastrana Arango, falhou ao tentar fazer um acordo de paz com a guerrilha. Em
novembro de 1998, Pastrana concedeu uma área do tamanho da Suíça
para as Farc, como um gesto de confiança. Porém, os guerrilheiros
continuaram os ataques e aumentaram a produção de cocaína,
além de estabelecer um poder paralelo na região.

Mudanças na área de segurança pública foram decisivas
para a eleição e, depois, reeleição de Uribe. Ele
venceu a oposição com a promessa de desmantelar o poderio militar
dos narcoterroristas.

Tensão na fronteira

A repressão contou com apoio financeiro e militar dos Estados Unidos,
aliança que rendeu a Uribe uma posição de antagonismo político
em relação aos governos da Venezuela e do Equador, vizinhos alinhados
à esquerda.

Durante a crise das bases militares, o governo venezuelano “congelou”
as relações comerciais com a Colômbia, agravando a crise
econômica que afetava os colombianos. A razão disso foi a intenção
de Uribe de ampliar a presença de tropas americanas em bases nas fronteiras,
com o motivo alegado de combater o tráfico.

Acusações do envolvimento do presidente Hugo Chávez com
as Farc (baseadas na apreensão de armamento venezuelano com os guerrilheiros)
também afetaram as relações diplomáticas entre ambas
as nações.

Um ataque ao acampamento das Farc no Equador, em março de 2008, foi
outro episódio que acarretou uma crise política entre Colômbia,
Equador e Venezuela. A ação, no entanto, resultou na morte de
Raúl Reyes, o segundo no comando das Farc. Outras operações
também contribuíram para o prestígio do presidente colombiano
e de seu candidato, entre elas a libertação de Ingrid Betancourt.
Soma-se a isso o saldo positivo da estratégia de repressão. Os
índices de homicídios caíram de 66 para cada grupo de 100
mil habitantes, em 2002, para 32 em 2009. Os sequestros passaram de 2.882, no
ano em que Uribe foi eleito, para 86 em 2009, segundo dados oficiais.

Ao mesmo tempo, o Produto Interno Bruto (PIB) passou de US$ 232 para US$ 500
bilhões (o terceiro maior da América do Sul) em quase oito anos.

Como a casa em ordem, Uribe terminou o mandato com 70% de aprovação
e tentou se candidatar para um terceiro mandato. A Justiça colombiana,
no entanto, impediu sua candidatura com base na Constituição de
1991, que limita o mandato a oito anos consecutivos.

A primeira eleição sem a sombra das Farc, depois de 40 anos de
conflitos, teve um peso na campanha: todos os candidatos prometeram dar continuidade
à política de segurança – e o herdeiro político
de Uribe é o primeiro colocado nas pesquisas.

Corrupção

Mas o mesmo trunfo do presidente alimentou a oposição, tornando
um candidato antes sem expressão uma força nas urnas. Isso ocorreu
por dois motivos. Primeiro, um escândalo conhecido como “falsos positivos”.
Em 2008, militares atraíam desempregados para a selva e os executavam,
para depois identificar os corpos como de terroristas mortos. Assim, eles insuflavam
artificialmente as estatísticas favoráveis ao governo e recebiam
recompensa por supostos guerrilheiros mortos. Um grupo de 62 promotores investiga
cerca de 2 mil mortes suspeitas.

O escândalo levou à destituição de 40 militares,
incluindo três generais. E, como o conservador Juan Manuel Santos foi
ministro da Defesa, ele agora é questionado pelos assassinatos cometidos
pelo Exército colombiano.

Durante o segundo mandato de Uribe, um escândalo atingiu o alto escalão
do Exército e parcela (um terço) do Congresso colombiano, incluindo
aliados do presidente. Os políticos e militares foram acusados de envolvimento
com narcotraficantes e paramilitares. Políticos foram presos entre 2006
e 2007 e até mesmo um senador, primo do presidente, foi investigado.

O segundo motivo desfavorável ao candidato da situação
é que o combate ao narcoterrorismo, principal sucesso do governo, deixou
de ser prioritário para a maioria dos colombianos. Os eleitores estão
mais preocupados com questões sociais, como, por exemplo, o desemprego,
que atinge 12% da população, uma das maiores taxas da América
Latina (no Brasil, o índice é de 7%), segundo dados do Departamento
Administrativo Nacional de Estatística (DANE). Outra preocupação
é o precário sistema de saúde na Colômbia.

Esses fatores deram força para a campanha de Mockus, que em março
tinha apenas 9% das intenções de voto e, depois, chegou a um empate
técnico com o rival. Com um discurso contra a corrupção
e focado na educação, ele acabou surgindo como o candidato que
representa um avanço em direção ao futuro sem as Farc.
Principalmente para jovens eleitores, que o apoiam em redes sociais como Twitter
e Facebook.

Mockus foi um prefeito popular da capital Bogotá e ficou conhecido por
ações extravagantes, como trocar guardas de trânsito por
mímicos que advertiam os motoristas com cartões vermelhos e amarelos.
O problema é que seu partido tem apenas 5% das cadeiras do Senado e 1%
da Câmara dos Deputados. Caso seja eleito, terá de fazer alianças
políticas com adversários.

Juan Manuel Santos vence as eleições na Colômbia


Juan Manuel dos Santos, candidato governista vencedor das
eleições presidenciais na Colômbia (Foto: AFP)

Juan Manuel Santos, candidato governista à Presidência da Colômbia,
venceu as eleições realizadas neste domingo (20). Ele recebeu
68,9% dos votos, segundo a agência EFE, e derrotou Antanas Mockus, candidato
de oposição e ex-prefeito da capital Bogotá, que ficou
com 27,5% dos votos.

Em um pleito com 55% de abstenção, Mockus, candidato do Partido
Verde colombiano, venceu apenas em um dos 32 departamentos do país, em
Putumayo.

O recém-eleito Santos é o candidato indicado pelo presidente
da Colômbia, Alvaro Uribe, que tem aprovação de 70% da população
do país andino. No início da noite, Mockus reconheceu a derrota
e desejou boa sorte a Santos. “Eu desejo a Santos todo o sucesso como líder
para o bem da nossa querida nação”, declarou.

“Uma vez mais agradeço a Deus, à Colômbia, obrigada
pela confiança que 9 milhões de colombianos depositaram em nós”,
disse Santos em um discurso diante de milhares de seguidores que durante horas
esperavam no El Campín, de Bogotá. Ele afirmou que foi “a
maior votação jamais obtida na Colômbia”, de mais de
9 milhões de votos.

Santos, do Partido Social da Unidade Nacional, reconheceu seu rival, o independente
Antanas Mockus, do Partido Verde, e agradeceu o presidente Alvaro Uribe, a quem
qualificou como “um dos melhores presidentes da Colômbia”. “O
professor Mockus foi um rival à altura, que pôs a Colômbia
para pensar no valor da vida, da transparência e da legalidade”,
disse.

A Colômbia começou a votação às 8h locais
– 10h de Brasília. O pleito ocorria com tranquilidade, sem muitos incidentes,
segundo o ministro do Interior, Fabio Valencia. No mais grave, uma explosão
matou sete policiais no departamento de Norte de Santander, próximo à
fronteira com a Venezuela. Quatro militares morreram em outros incidentes.

Aos 58 anos, Santos por pouco não venceu no primeiro turno, em 30 de
maio, quando recebeu 46,6% dos votos. Seu concorrente, Mockus, também
com 58 anos, obteve 21,5% dos votos.

Segundo a última pesquisa anterior ao segundo turno, do instituto Invamer
Gallup, Santos ganharia com 65,1% dos votos, contra 28% de Mockus.

Santos, que foi três vezes ministro (Comércio, Tesouro e Defesa)
e se formou em Harvard, fez uma campanha profissional e organizada. Prometeu
proteger a herança do atual presidente, cuja taxa de popularidade segue
rondando os 70% graças a sua política de firmeza contra a guerrilha
das Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc).

Além disso, como ministro da Defesa (2006-2009), ele participou de momentos
históricos para os colombianos, como o ataque contra um acampamento das
Farc no Equador, em março de 2009, no qual morreu Raúl Reyes,
número dois da guerrilha, e o resgate de 15 reféns, entre eles
a franco-colombiana Ingrid Betancourt, durante a “Operação
Xeque”, no dia 2 de julho de 2008.

Do outro lado, Mockus tem estado na defensiva. Esquecendo-se de seu programa,
atacou o adversário e vinculou-se a uma imagem agressiva, apesar de evocar
reais perigos da coalizão de direita a que Santos pertence, como a corrupção
ou às milhares de execuções extrajudiciais atribuídas
ao Exército.

Créditos: G1 | Página 3 Pedagogia &
Comunicação

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