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Política Internacional – Entenda a história dos conflitos no Paquistão

by Lucas Gomes


Mapa mostra a localização de Karachi, a principal cidade, e Islamabad, capital
do Paquistão
(Ilustração: G1)

O Paquistão nasceu com a dissolução do Império Colonial Britânico da Índia, em 1947. Decididos a abandonar a região,
os ingleses se depararam com confrontos entre a comunidade muçulmana e as populações siques e hindus na região.

Em 15 de agosto de 1947, o Reino Unido resolveu a questão, transferindo a soberania local para os novos estados
independentes da Índia e do Paquistão, que se tornam então membros da Commonwealth, a comunidade de ex-colônias
britânicas.

O Paquistão, de maioria muçulmana, viu-se imediatamente dividido em duas regiões distintas, separadas por 1,7 mil km:
o Paquistão Oriental (que se declararia independente em 1971 com o nome de Bangladesh), e o Paquistão Ocidental, que se
estende do Himalaia até o mar da Arábia.

Desde então, o país passou por períodos alternados de governo civil e militar, o que prejudicou a estabilidade da
região, marcada por corrupção, ineficiência e confrontos entre as várias instituições.

Durante os anos 80, o Paquistão recebeu ajuda externa para o combate das forças soviéticas no vizinho Afeganistão.
Com o fim da Guerra Fria, a assistência diminuiu e o Paquistão teve ainda tem que abrigar uma população adicional
de refugiados afegãos.

O país tem um governo militar desde outubro de 1999. O líder do golpe, general Musharraf, prometeu resgatar os destinos
do Paquistão, mas se deparou com o atraso econômico e problemas como os conflitos étnicos e sectários na província de
Sindh. Outra questão é a tensão com a Índia por causa da região da Caxemira, disputada pelos dois países, o que aumentou
os temores internacionais de uma corrida armamentista, uma vez que ambos detêm tecnologia nuclear.


Benazir havia sobrevivido a outros
atentados em 18 de outubro

MORTE DE BENAZIR É DURO GOLPE CONTRA ESTABILIDADE DO PAQUISTÃO

O assassinato de Benazir Bhutto é um duro golpe contra a esperança internacional de que o Paquistão possa voltar a
ter estabilidade no futuro próximo.

O risco de que o país possa implodir voltou novamente a crescer.

O episódio representa um retrocesso na chamada “guerra contra o terror” dos Estados Unidos, que inclui a ambição de
restaurar a democracia no Paquistão para oferecer ao país um caminho alternativo ao extremismo.

Agora, essa estratégia está em risco.

Tragédia anunciada

A morte de Benazir Bhutto ocorre a menos de duas semanas das eleições parlamentares, marcadas para 8 de janeiro.

A decisão da ex-primeira-ministra de seguir em campanha eleitoral apesar do duplo atentado suicida depois de seu
retorno ao Paquistão, em 18 de outubro, foi sem dúvida corajosa.

Entretanto, essa decisão subestimou a determinação daqueles que queriam matá-la.

A própria Benazir Bhutto acusou extremistas islâmicos de estarem por trás do primeiro ataque.

Mais uma vez, a habilidade desses militantes de provocar caos com suas táticas cruéis ficou demonstrada.

Afeganistão

Até agora, os planos para se ter uma nação mais estável estavam mais ou menos andando no Paquistão.

O presidente Pervez Musharraf havia permitido o retorno tanto de Benazir Bhutto como de outro ex-primeiro-ministro,
Nawaz Sharif. Musharraf também havia deixado o comando do Exército e governava como civil.

Ele também havia estabelecido a data para as eleições parlamentares e suspendido o estado de exceção.

A esperança era de que o processo político fosse retomado e que o confronto entre o Exército e militantes
islâmicos gradualmente diminuísse.

Um fim para tal conflito é vital não apenas para a futura estabilidade do Paquistão, como também para o futuro do
Afeganistão. É do Paquistão que o Talebã conduz sua guerra contra o governo afegão e seus aliados da Otan.

Se Musharraf e o Exército paquistanês decidirem que tal abordagem não é mais possível, eles podem optar por impor
um regime militar, o que já aconteceu tantas vezes antes na história do Paquistão.

Isso não significa que Bhutto fosse vista como a solução para todos os problemas do país. Quando ela estava no poder,
era vista por alguns como dominadora demais e, por vezes, como um elemento que causava divisões na sociedade.

Mas ela representava uma liderança carismática em um momento crucial, e tinha o potencial de proporcionar ao
Paquistão os meios para passar por mudanças.


Benazir Bhutto
– Educada nos EUA e na Grã-Bretanha
– Pai foi premiê antes de ser executado, em
1979
– Passou cinco anos na prisão
– Foi premiê duas vezes (1988-1990 e
1993-1996)
– Afastada duas vezes do cargo devido a
acusações de corrupção
– Encerrou exílio voluntário de oito anos em 2007

PREMIÊ DUAS VEZES, BHUTTO TEVE TRAJETÓRIA POLÍTICA VOLÁTIL

Benazir Bhutto ocupou o cargo de primeira-ministra do Paquistão duas vezes e teve uma carreira política volátil,
marcada por alguns períodos de grande popularidade e outros em que enfrentou acusações de corrupção.

Nascida em 1953 e educada nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, ela se tornou, em 1988, a primeira mulher a ser
democraticamente eleita para liderar um país de maioria muçulmana na era moderna.

Depois de permanecer oito anos em exílio voluntário, Benazir havia voltado ao Paquistão neste ano e esperava
voltar ao cargo de premiê após as eleições parlamentares, marcadas para janeiro.

Sua morte é mais um golpe contra uma das dinastias políticas mais influentes no Paquistão, iniciada pelo seu
pai, Zulfikar Ali Bhutto, primeiro-ministro do país nos anos 70.

Solitária

Zulfikar Bhutto foi executado em 1979, depois de ter sido vítima de um golpe militar liderado pelo general Zia Ul-Haq.

Pouco antes da execução, Benazir foi presa e ficou boa parte de seus cinco anos de detenção na solitária – um período
que ela descreveu como extremamente difícil.

Nos períodos em que era liberada da prisão para tratamento médico, Benazir estabeleceu em Londres um escritório de
seu partido, o Partido Popular do Paquistão (PPP), e iniciou uma campanha contra Zia.

Ela se tornaria premiê pela primeira vez em 1988, depois da morte do general.

Nessa época, Benazir atingiu o auge de sua popularidade no país, e sua imagem foi associada à renovação em um
universo político dominado por homens.

Anos depois, porém, seu nome seria ligado à acusações de corrupção, o que causou seu afastamento do poder em
1990 e em 1996, três anos depois de assumir seu segundo mandato.

Marido

O marido de Benazir, Asif Zardari, participou dos dois mandatos e foi acusado de roubar milhões de dólares em
dinheiro público – algo que ele e Benazir sempre negaram.

A ex-premiê enfrentava pelo menos cinco acusações de corrupção nos tribunais paquistaneses até ser perdoada,
neste ano, pelas autoridades do Paquistão.

Em 1999, Benazir Bhutto foi condenada à revelia a cinco anos de prisão e decidiu deixar o país, num exílio que
durou oito anos.

Benazir voltou ao Paquistão apenas em 18 de outubro deste ano, após receber a anistia. Seu retorno foi comemorado
por milhares de simpatizantes do PPP, mas também marcado por atentados que mataram mais de 120 pessoas.

Segundo analistas, Benazir Bhutto e o PPP eram vistos como aliados naturais do presidente Pervez Musharraf no esforço
para isolar militantes islâmicos que atuam no país.

No Ocidente, especialmente nos Estados Unidos, Benazir era considerada uma líder popular que poderia dar legitimidade
aos esforços de Musharraf contra grupos extremistas.

No Paquistão, alguns analistas acreditam que os entendimentos secretos entre Benazir e Musharraf para a formação
de uma futura coalizão representavam uma traição dela aos ideais democráticos, já que davam força a Musharraf – que chegou
ao poder em um golpe de Estado.

Outros analistas no país acreditavam que os contatos entre Bhutto e Musharraf indicavam um avanço da parte dos
militares, representados pelo presidente, e significavam um bom presságio para a democracia no país.

Fontes: G1 | BBC Brasil

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