Home Vestibular Política Internacional – Entenda o conflito do Afeganistão

Política Internacional – Entenda o conflito do Afeganistão

by Lucas Gomes

A violência que atinge o Afeganistão tem em sua origem um conflito
étnico iniciado há 30 anos. Desde 1979, quando a União
Soviética invadiu o país, diversos grupos que recebiam o nome
genérico de mujahedin (aquele que busca a jihad) combateram o governo
comunista, com o objetivo comum de instaurar um Estado muçulmano regido
pela sharia, a lei islâmica. Após a retirada soviética,
em 1989, e a queda do governo comunista, em 1992, os mujahedin se dividiram.
De um lado, o Talibã, grupo baseado no sul do país e predominantemente
pashtun, a maior etnia do Afeganistão. Do outro, a Aliança do
Norte, liderada pelo segundo maior grupo étnico do país, os tajiques,
e pelos uzbeques, um grupo minoritário.

Hoje em dia, enquanto o Talibã é um grupo bastante ativo, a Aliança
do Norte não existe como organização, mas divisões
étnicas continuam a influenciar a política do país. O que
agrava ainda mais a situação é o fato de as várias
tribos pashtuns terem grandes divisões internas. Todas essas divergências
explicam a hostilidade do Talibã aos candidatos pashtuns Hamid Karzai
e Ashraf Ghani, e a Abdullah Abdullah, um tajique.

HISTÓRIA DO AFEGANISTÃO

 

DIVISÃO ÉTNICA DO AFEGANISTÃO

 

O TALIBÃ

 

ELEIÇÕES NO AFEGANISTÃO

As urnas da segunda eleição da história do Afeganistão
foram fechadas em 20 de agosto de 2009, por volta das 17h do horário
local (9h30 da manhã no Brasil) após um dia marcado pela coragem
de milhões de eleitores que desafiaram as ameaças do grupo radical
islâmico Talibã e pelas inúmeras denúncias de fraude.
A eleição vai escolher o novo presidente do país e os membros
dos conselhos provinciais, os órgãos legislativos locais. A divulgação
dos primeiros resultados preliminares só foi iniciada a partir de 29
de agosto, mas a contagem dos votos já havia começado.

O representante especial dos Estados Unidos no Afeganistão e no Paquistão,
Richard C. Holbrooke, visitou quatro locais de votação em Cabul
e saiu com a impressão de que a eleição foi limpa. “O
voto é claramente transparente”, afirmava. A visão de Holbrooke,
no entanto, não foi compartilhada por muitos dos candidatos e por eleitores.
Ashraf Ghani, o ex-ministro das Finanças que concorreu à Presidência,
enviou e-mail a membros das forças americanas denunciando que alguns
fiscais estavam enchendo as urnas com votos falsos. O candidato Ramazan Bashardost
pediu que a votação fosse paralisada já que a tinta usada
para marcar o dedo dos eleitores era facilmente lavável. Um morador de
Cabul informou à BBC que viu diversas pessoas lavando as mãos
para votar novamente. E houve ainda inúmeras denúncias de homens
votando no lugar de mulheres (escondidos pelas burcas) e de pressões
para que os eleitores escolhessem determinados resultados.

Holbrooke, o representante dos EUA, disse que a maior oportunidade para os
fraudadores foi a contagem de votos. A esperança para o governo americano
era que o resultado, seja qual fosse, tivesse legitimidade, para que o próximo
presidente comandasse o processo de estabilização do país.
Em entrevista à revista Época, o ex-ministro do Exterior do Paquistão
Riaz Mohammad Khan, que escreveu um livro sobre os efeitos para o Paquistão
da guerra no Afeganistão, disse que certamente haveria controvérsias
e reclamações após a eleição. “Mas
não é uma questão de a eleição ser 100% limpa,
mas sim de ser aceitável para a maior parte das pessoas. Se a eleição
tiver credibilidade para a maioria, o resultado será aceito”, disse
então à Época.

Violência marcou o dia de eleição

Como era esperado, a votação foi muito mais tranquila na região
norte do Afeganistão. A área é habitada por etnias minoritárias,
como os tajiques, uzbeques e turcomenos, que não fazem parte do Talibã.
Nas províncias do sul, o número de eleitores que compareceram
foi muito mais baixo, já que aquela é a área de atuação
dos radicais, predominantemente pashtuns, a maioria étnica do Afeganistão.
Na província de Kandahar, berço do Afeganistão, dois homens
foram enforcados por terem sido encontrados pelo Talibã com os dedos
marcados pela tinta que identificava os eleitores. Na semana passada, o grupo
havia ameaçado decepar os dedos sujos de tinta.

Atentados suicidas de grande porte, como os ocorridos em 15 de agosto, quando
sete pessoas morreram em Cabul, e em 18 de agosto, quando pelo menos 19 foram
mortos em todo o país, não ocorreram, mas houve uma série
de ataques violentos do Talibã. Na capital Cabul e na província
de Baghlan, no norte do país, a polícia afegã trocou tiros
com terroristas e matou pelo menos oito homens.

Em Khost, no sul do país, dez foguetes disparados contra uma casa próxima
a um local de votação mataram duas pessoas e deixaram uma mulher
e duas crianças feridas. Na mesma província, um carro civil explodiu
ao passar por cima de uma bomba plantada à beira da estrada, matando
uma pessoa. Em Kandahar, também no sul, estradas foram bloqueadas e um
ônibus cheio de eleitores foi incendiado após ser esvaziado pelos
terroristas. A cidade de Kandahar, capital da província homônima,
também foi atingida por explosões de morteiros. Depois disso,
a população começou a comparecer às urnas. “Eu
sei que o Talibã ameaça as pessoas para que elas não votem,
mas estou vindo e usando meu voto”, disse Bakht Muhammad, de 24 anos,
à reportagem do jornal The New York Times, em Kandahar. “Eu quero
mudança. Quero segurança. Quero viver minha vida no meu país”,
afirmou.

Fonte: Revista Época

Posts Relacionados