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Portugal pode atrasar reforma ortográfica

by Lucas Gomes

A um ano de se tornar “maior de idade”, com 18 anos, o acordo ortográfico assinado pelos países de língua
portuguesa tem toda a cara de virar um “trintão” sem nem ser aplicado. É que Portugal dá indícios de que
só implantará o acordo daqui a dez anos. Como se não bastasse a indefinição lá no velho mundo, aqui no
Brasil o Governo federal ainda não tem prazos definidos para o que se poderia chamar de “desacordo
ortográfico”.

O ministro da Educação brasileiro, Fernando Haddad, questionado pelo G1, sobre quando, de fato, a reforma
vai ser implantada, disse apenas que “o Itamaraty está centralizando as negociações com o governo
português, e que o acordo já pode entrar em vigor”. Não deu data e nem opinião sobre a conveniência dela
para o país. Uma comissão deverá discutir prazos no próximo dia 14.

Legalmente, todas as mudanças que buscam unificar o registro escrito nos oito países que falam o idioma –
Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal – já
poderiam estar valendo, como explica o embaixador do Brasil, Lauro Moreira, que trabalha junto à Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Em 1990, o que foi assinado dizia que o acordo entraria em vigor em 1994, com a ratificação dos sete
países, pois o Timor Leste ainda não era independente. Passaram os anos e nada de os sete países
ratificarem”, conta Moreira. “Então, em 2004, foi assinado um protocolo modificativo, que dizia que o
acordo entraria em vigor quando três países tivessem ratificado. O Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe
já ratificaram.”

De acordo com o gramático Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, que está à frente das
negociações, sem a ratificação de Portugal, dificilmente o acordo pode vigorar, pois “os países africanos,
de modo geral, seguem o que Portugal definir”.

Bechara diz que o Brasil deu o primeiro passo, mas Portugal ainda não sinalizou mudanças. “Em 1990,
Portugal aceitou abolir as consoantes mudas. Agora que o Brasil cedeu muito mais, Portugal está dizendo
que quer que a reforma entre em vigor a dez anos”, afirma.

O que pode mudar na língua? Confira.

Divergências

A Academia Brasileira de Letras defende com ardor a reforma ortográfica. De acordo com Bechara, os custos
são pequenos perto das vantagens: “Os livros de Portugal não precisarão passar por adaptação à grafia para
chegar ao Brasil. Os brasileiros não precisarão passar por adaptação para ir a Portugal. É muito bom
economicamente”, afirma.

No entanto, mesmo Bechara diz que, se Portugal mantiver a intenção de fazer a reforma daqui a dez anos, não
vale a pena o Brasil insistir: “Daqui a dez anos, não sabemos se o governo de Portugal vai honrar essa
promessa”.

Já o professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva, consultor de português da Globo, é totalmente contra a
reforma. “Há problemas muito mais sérios na educação do que isso. É inútil, a reforma custa dinheiro e não
é a ortografia que vai unificar”, diz.

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