Home Vestibular Universitário não encontra o mesmo apoio que há na escola

Universitário não encontra o mesmo apoio que há na escola

by Lucas Gomes

Uniforme, pais sendo chamados para conversar, sala da direção,
vigilantes, sinal, boletim… Até o fim do ensino médio, os estudantes
estão acostumados a ser controlados na escola e nos arredores dela.

Mas, no próprio colegial – os últimos anos antes do ensino superior-,
o clima já começa a mudar. As escolas tentam preparar seus alunos
não só para o vestibular como também para a vida universitária.
“Queremos que nossos alunos saiam do ensino médio sem medo do que
virá”, diz Lilio Alonso Paoliello, diretor de conteúdo do
colégio Pueri Domus. “Cada escola tem a sua metodologia. No Pueri
Domus, por exemplo, os alunos do ensino médio devem ler textos mais complexos,
de autores que não caem nos processos seletivos, mas de quem provavelmente
o jovem vai ao menos ouvir falar dali para a frente”.

Outra técnica são os seminários. “Eles ajudam os
alunos a desenvolver a comunicação e são muito pedidos
no ensino superior”, afirma Maria Cristina Figueiredo, coordenadora do
ensino médio do Sion, onde o uso de uniforme é obrigatório
até a viagem de formatura – nos últimos meses de aula, os alunos
são liberados para ir com a roupa que quiserem, como acontece na graduação.
“Mas um engano dos alunos que estão terminando o ensino médio
é achar que quando estiverem na universidade tudo vai ser fantástico
porque não terá ninguém cobrando nada”, diz ela. “Depois
que eles entram, voltam aqui [à escola] para dizer que sentem falta dos
cuidados que tinham.”

Independência

“Na universidade, os estudantes dependem mais deles mesmos”, afirma
Sueli Trevisan, coordenadora dos cursos de pedagogia e letras da universidade
Anhembi Morumbi. “No ensino médio, há uma ponte enorme com
os pais, que ficam sabendo dos problemas de seus filhos”, diz ela. Não
haverá mais esse controle, mas Sueli pondera: “Quem está
para entrar na faculdade deve entender que lá o professor é um
facilitador da aprendizagem, não é o único detentor do
conhecimento, como é na escola.”

Jurandyr Luciano Sanches Ross, chefe do departamento de geografia da USP, completa:
“Na escola, o professor decide e o aluno faz. Na universidade, não
é uma relação personalizada, paternalista”.

É pensando na sonhada liberdade com responsabilidade que a estudante
Victoria Malta, 16, já se matriculou no cursinho. Começando o
terceiro ano do ensino médio no Dante Alighieri, ela também fará
Anglo a partir de maio, à tarde. Além disso, já suspendeu
as aulas de inglês e de francês.

“Não vejo a hora de entrar na faculdade”, diz ela, que vai
prestar direito. “A minha escola é muito rígida”, diz.
“Tem que usar uniforme e, se você for com um moletom com uma letra
colorida, você não entra na aula.” Victoria, que já
visitou a faculdade de direito da USP, disse que adorou o clima de lá.
“Acho que na faculdade vai ser tudo muito mais sossegado. Se você
não quiser ir à aula, o problema é seu. Ninguém
vai ligar para a sua casa para falar com os seus pais”, diz ela. “Claro,
tem que ter responsabilidade, mas não fica essa cobrança.”

A caloura de letras Letícia Santiago, 19, tem opinião parecida
com a de Victoria. “Agora não é estudar só para passar
de ano, é para a vida”, diz ela. “Entrei no que eu sempre quis
e agora vou fazer tudo pensando no meu futuro.”

Sueli Trevisan, da universidade Anhembi Morumbi, concorda. “A escola tem
que ter dado condições para os alunos enfrentarem as novidades.
A família também. Mas agora o voo é deles”, afirma.

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo

Posts Relacionados