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Voluntário (Conto da Obra Contos Amazônicos), de Inglês de Souza

by Lucas Gomes

O conto Voluntário, de Inglês de Souza, mostra o recrutamento
forçado do batalhão de Voluntários da Pátria para
a Guerra do Paraguai, apresentando ainda curiosos experimentos com a linguagem.

O narrador do conto nos fala do sofrimento de uma velha tapuia que viu seu
único e belo filho ser convocado para a guerra do Paraguai – pano de
fundo desta história.

A velha Rosa era uma tapuia (povo da região do Pará descendente
de indígenas) que vivia de sua atividade tecelã. Muito humilde
tinha como seu maior patrimônio o filho que era um primor de beleza e
candura no trato com os demais. Obviamente que a inveja inoculada no seio social
daquela região pobre e provinciana fará com que o rapaz fosse
recrtuado para a Guerra.

Enquanto o leitor vai descobrindo tal estória narrada o autor nos premia
com um cenário único: os rios, as cheias, os bichos, o comportamento
psicológico dos nativos da região e toda a fortuna do folclore
regional.

Palavras como japá, canaranas, titpitis, cuiambacas são distantes
do léxico do indivíduo da região sudeste, daí a
riqueza da obras que nos transporta para outro ambiente.

Observe como o autor unifica psicologia e geografia na descrição
do povo ribeirinho:

Os seus pensamentos não se manifestam em palavras por lhes faltar,
a esses pobres tapuias, a expressão comunicativa, atrofiada pelo silêncio
forçado da solidão
.

É sabido também que na época da guerra do Paraguai o
recrutamento era forçado e todos fugiam de tal por ser a guerra uma verdadeira
penitência. Só ficavam de fora dela os ricos que corruptamente
se evadiram de tal obrigação patriótica.

Cabe salientar que o narrador em primeira pessoa do conto é um advogado
(certamente o próprio Inglês de Souza) que veio a socorrer juridicamente
a velha Rosa no afã de impedir a remessa do filho para os canteiros da
guerra. Tal tentatia foi infrutífera e a velha ficou assim:

Ainda há bem pouco tempo vagava pela cidade de Santarém
uma pobre tapuia doida. A maior parte do dia passava-o a percorrer a praia,
com o olhar perdido no horizonte…

Créditos: Prof. André Lazarotte

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