A morte e a fuga do real não são tão atraentes a Gonçalves Dias, principalmente
quando esse real inclui as belezas naturais de sua terra tão amada. Suas musas
parecem se fundir às belas imagens e fragrâncias da natureza, lembrando várias
vezes a própria pátria, que é cantada com toda a sua exuberância e saudade, revigorada
pelo seu sentimento nacionalista.
A saudade, aliás, é a grande mola propulsora
que leva o poeta a escrever em Coimbra o poema que é considerado por muitos a
mais bela obra-prima de nossa literatura: Canção do Exílio, onde o aqui
designa a Europa e o lugar do exílio, e o lá aponta, com a saudade, para
o Brasil e apronta, com a memória, a coleção de objetos poéticos que identificam
o lá com a felicidade paradisíaca.
Kennst du das Land, wo
die Citronen blühen,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühen?
Kennst du es wohl? Dahin, dahin!
Möchtl ich… ziehn. *
Goethe
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Coimbra – julho 1843.
* – “Conheces a
região onde florescem os limoeiros ?
laranjas de ouro ardem no verde escuro da folhagem;
conheces bem ? Nesse lugar,
eu desejava estar”
(Mignon, de Goethe)