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Mar Morto, de Jorge Amado

by Lucas Gomes

Mar Morto

é um
livro considerado verdadeiro poema em prosa. Pertence a primeira fase do autor:
depoimentos líricos, com predominância do elemento sentimental, sobre rixas,
e amores de marinheiros.

É a história de Guma e de Lívia. O livro exalta o mar, o sincretismo religiosos
e os encantos da Bahia. No final, Guma é morto por ser bom.

A primeira parte da obra denomina-se Iemanjá, Dona dos Mares e dos Saveiros, e possui doze capítulos:

“Tempestade” –
O autor destaca a chegada da noite com tempestade, carregada de nuvens, lavando
o cais, amassando a areia, balançando os navios atracados e maltratando, sem
piedade, os negros da estiva. Todos abandonaram o cais. O preto Rufino, diante
do copo de cachaça, sabia que, com a tempestade, Esmeralda não viria ao encontro
dele. Mestre Manuel resolveu não sair com seu saveiro, preferiu ficar amando
Maria Clara. Lívia ficou, aflita, à beira do cais, sob a chuva e o vento, esperando
Guma que vinha no “Valente”, desafiando a fúria dos ventos. Um saveiro
virou no mar e dois homens (Raimundo e Jacques) caíram na água e morreram.

“Cancioneiro do Cais” –
Cessada a tempestade, Lívia continua esperando Guma e ouve os gemidos de Maria
Clara dentro do saveiro com mestre Manuel. Breve ela também estaria nos braços
de Guma, pois há oito dias não o via. Rufino conta a Lívia que Raimundo e Jacques
morreram afogados, tendo sido seus corpos encontrados por Guma. Todos passam
a compartilhar do sofrimento de Judith, mulher de Jacques, uma mulata que ficou
com um filho na barriga. Maria Clara ainda soluça de amor. Judith não terá amor
esta noite nem nunca mais, pois seu homem morreu no mar. Do forte abandonado,
vem a música cantada pelo velho soldado Jeremias, voz possante de preto:

“A noite é para o amor…

“Vem amar nas águas, que a lua brilha…

“É doce morrer no mar…

“Terras do sem fim” – Agora, o velho soldado Jeremias entoa uma canção que diz “desgraça é a mulher que casa com um homem do mar, seu destino será infeliz”. O velho Francisco conhece essa canção, pois foram quarenta anos num saveiro, e era amigo de todos daquela região. Uma vez, ao salvar uma tripulação, viu o vulto de Iemanjá. Já teve três saveiros, mas agora vivia de remendar velas e do que lhe dava Guma. Frederico, seu irmão e pai de Guma, morreu na tempestade para salvá-lo. Sua mulher Rita morreu do coração quando soube do acidente com o marido. A mãe de Guma, que o entregou ao pai logo que ele nasceu, chega de Recife para levar o menino. Frederico, mulherengo que nem macaco, passando um mês em Aracaju e prometendo-lhe mundos e fundos, deixou-a naquele estado. Havia morrido, Guma era um filho sem pai e seria criado por ela. O velho Francisco não entregaria o seu sobrinho para uma mulher da vida. Quando foi apresentá-la ao filho, Guma pensou que aquela fosse a mulher que seu tio lhe prometera, que deitaria com ele numa cama, mesmo tendo apenas onze anos. Guma assusta-se ao saber que aquela mulher tão esperada por ele era sua mãe, pois nunca lhe tinham falado dela. Ela o chama de filho e só então Guma
sente um pouco de ternura por aquela mulher. Despediu-se e nunca mais voltou. Não iria jamais com ela. Seu destino era o mar. Uma noite, Velho Francisco deixou uma mulata para Guma no saveiro. Depois, vieram outras. Somente quando Guma tinha dezoito anos, o tio contou ao sobrinho as peripécias do irmão, que vivia pelo mundo e uma vez voltou trazendo a vida de um homem na ponta da faca. Guma já era homem, pois manobrava muito bem um saveiro.

“Acalanto de Rosa Palmeirão” – Neste capítulo,
Jorge Amado dá ênfase à história dessa mulata que possuía um ABC com as suas
aventuras, contadas por todos, principalmente pelo velho Francisco. Sua fama
corria o mundo, e todo marinheiro a conhecia: navalha na saia, punhal no peito,
deu em seis soldados, comeu vinte prisões, bateu em muito homem. Andava pelo
Recôncavo, sul do Estado e Rio de Janeiro. Uma flor (uma rosa palmeirão) que
trazia sempre no vestido herdou-lhe o nome. Não aparecia há anos. Certa vez,
na terceira classe de um navio, chegou do Rio de Janeiro e foi o centro das
atenções, reviu a todos e conheceu Guma (tinha-o visto ainda menino) a quem
confessou que queria ter um filho e com quem viveu uns tempos. Dessa vez, contou
que, vivendo com um tal de Juca, um cabra frouxo que havia apanhando dela invadiu
a casa com mais seis homens querendo bater no Juca e abrir a vela. Todos apanharam.
Na delegacia, o delegado, que era baiano, já conhecia sua a fama de Rosa Palmeirão.
Juca foi-se embora de medo.

“Lei” – Uma nova tempestade assustou os homens do cais,
proibindo viagens e dando prejuízos. Num dia igual a esse, morreu João Pequeno,
o mestre de saveiro que mais conhecia a profissão naquele cais. O governo deu
uma pensão à mulher dele, cortada por economia. Aparecia nas noites de tempestade.
Xavier, mulato troncudo, chegou no seu saveiro Caboré. Quando lhe perguntam o
porquê daquele nome, ele explica, meio alterado: “Foi por causa de uma mulher”.
Ela o chamava de Caboré, mas ele não sabia por quê. Um dia, sem nenhum motivo,
foi embora. Godofredo, comandante da Companhia, odiado no cais por perseguir a
todos, ofereceu duzentos mil réis, mais cem mil réis do seu bolso, para um prático
que trouxesse o “Canavieiras”, que estava fora, sem poder entrar e pedindo
socorro. Seus dois filhos estavam dentro. Guma aceitou o desafio, resgatou o saveiro
e salvou a tripulação. A partir desse episódio, ganhou fama no cais da Bahia.

“Iemanjá dos cinco nomes” –
Ninguém no cais tinha um só nome, inclusive Iemanjá, que tinha cinco nomes doces,
conhecidos por todos: Iemanjá, seu verdadeiro nome, dona das águas, senhora
dos oceanos. Dona Janaína, para os canoeiros. Inaê, para os pretos, seus filhos
mais diletos. Princesa de Aiocá, para quem os pretos também faziam suas súplicas.
Dona Maria, para as mulheres do cais, as mulheres da vida, as mulheres casadas,
as moças que esperam noivos. O pai de santo Anselmo era quem organizava as festa
de Iemanjá, presidia as macumbas e, com ordem dela, curava as doenças. No Dique,
nas Cabeceiras, em mar Grande, em Gameleira, em Dom Despacho e na Amoeira, seu
dia é 2 de fevereiro. Já em Monte Serrat, onde a festa é a maior, seu dia é
20 de outubro. Porém todos se uniam para festejar Iemanjá.

“Um navio ancorou no cais” –

“Um navio ancorou no cais e nele Rosa Palmeirão foi embora.” Alguém
a chama de bicha doida, pois só vivia correndo o mundo. Num grupo de conhecidos,
Guma, cabisbaixo, é zombado por Maneca e Severiano que, ao ser socado por Guma,
puxou de uma faca. “Severiano encostou-se na parede do mercado, faca na
mão, e gritou para Guma: – Manda Rosa brigar comigo que tu não é homem.”
Apesar de Guma pular, o pé de Severiano alcançou-o na boca do estômago. Rodolfo
interveio e salvou Guma da morte. Rodolfo, malvisto no cais, chamado por muitos
de ladrão, conta a Guma as aventuras do velho Concórdia, seu pai, que tinha
uma filha, agora sua irmã, que ele não conhecia. Ela queria ver Guma para agradecer-lhe,
pois alguns da tripulação do “Canavieiras” (navio salvo por Guma)
eram seus parentes. Na saída, Guma pergunta: “- Como é o nome dela?”
“- Lívia!” – respondeu Rodolfo. Traíra morreu, vítima de um tiro,
numa confusão, em um prostíbulo, em uma das cidadezinhas do Recôncavo (Cachoeira),
após ter sido socorrido por Guma, que o conheceu na ocasião. No momento da morte,
lembrou-se das filhas: Marta, Margarida e Rachel.

“Marta, Margarida e Rachel” – Aqui, o autor destaca
dr. Rodrigo, que era de família de marinheiros. Seus pais e avós cruzaram os
mares como meio de vida. Era magro e fraco, incapaz de levar um saveiro pelas
águas; por isso, tratava da moléstia dos marinheiros e tirava até gente da cadeira.
Era estimado no cais. Era também poeta, mas somente a professora Dulce sabia
que ele fazia poemas sobre o mar. Todos esperavam que os dois se casassem; até
saíam e conversavam. Jorge Amado destaca também as filhas de Traíra (o que morreu
com um tiro, em Cachoeira). Marta tinha dezoito anos, cosia peças, estava preparando
um enxoval à espera de um noivo. Margarida nadava na beira do rio; Rachel era
a menor, de quatro anos, brincava com uma boneca e não sabia pronunciar direito
as palavras.

“Viscondes, Condes, Marqueses e Besouro” – Coloca-se
em evidência a cidade de Santo Amaro, pátria de muito barão do Império, viscondes,
condes e marqueses. Pátria também de gente humilde do cais, pátria de Besouro,
o mais valente dos negros do cais, que derramou sangue, esfaqueou, atirou, lutou
capoeira e foi morto perto dali, à traição, em Maracangalha, cortado todinho de
facão. Virou uma estrela. No dia em que Traíra morreu, Guma estava para ir ver
Lívia, que foi à festa de Iemanjá somente para vê-lo. Lívia nasceu na capital,
a cidade das sete portas, onde nascem as mulheres mais lindas do cais. Guma assumiu
um compromisso com Rosa Palmeirão: ter um filho com Lívia para Rosa ajudar a criar.

“Melodia” – Guma fez boa viagem em busca de Lívia,
a mais bela mulher que seria oferecida ao mar. O “Valente” correu, e
já brilham as luzes da Bahia, Guma já ouve o baticum dos candomblés, parecia ouvir
a risada clara de Lívia.

“Rapto de Lívia”
Guma alimentava seis meses
de um desejo intenso. Chegando de Santo Amaro, Rodolfo levou-o para ver Lívia,
que estava bela e tímida. Os tios dela, que tinham uma pequena quitanda e que
foram salvos por Guma no acidente com o “Canavieiras”, não aceitavam
o relacionamento, queriam que ele fosse embora, pois Lívia não podia esperar
nada de um marinheiro mais pobre que eles. Guma entregou a ela uma carta; na
verdade, foi escrita pelo doutor Filadélfio, conhecido por todos como doutor,
escrevia histórias em versos, ABCs do cais, cantigas. A resposta de Lívia veio
quando ele voltava: “- Estou preparando o enxoval.” Os tios proibiram
Guma de visitá-la, e Rodolfo sugeriu que ele a raptasse, que a levasse para
Cachoeira e casasse na volta. Combinaram tudo para uma semana. E assim se fez.
Na ida, preso ao leme do “Valente”, sente as carícias dos cabelos
dela.

“Marcha nupcial” – Rodolfo acalma os tios de Lívia,
que estavam revoltados, e pede a Guma que faça sua irmã feliz. O casamento seria
daí a sete dias, na igreja de Monte Serrat e no fórum. O velho Francisco ficou
danado, pois sabia que um marinheiro não se devia casar. Iria embora. A mulher
de Guma poderia não gostar de que ele continuasse morando ali. Mas não foi. Ali
mandava Guma. Doutor Filadélfio bebeu no Farol das Estrelas à saúde de Guma e
de sua futura. No dia do casório, o cortejo entrou na casa de Guma. Jeremias trouxera
o violão, e o negro Rufino, sua viola. Cantaram as canções do mar; desde aquele
dia, que a noite é para o mar. Lívia jurou que seu filho não seria marinheiro.

A segunda parte da obra denomina-se O Paquete Voador (nome do segundo
barco de Guma) e compõe-se de nove capítulos:

“Roteiro do mar grande” – Meses de dificuldades no
cais. Poucas viagens. Trabalho só para a bóia. Quando Guma estava de bom humor,
Lívia acompanhava-o, às vezes ficava sozinha, com o velho Francisco, ouvindo as
histórias do cais. Sabia que o marido estava no mar e que podia não voltar. Gostou
quando Esmeralda, amásia de Rufino, veio morar junto dela. Era uma mulata bonita
e peituda. Às vezes, a professora Dulce passava por lá e dava dois dedos de prosa.
Esmeralda não gostava de Rufino que, se morresse no mar, ela arranjaria outro,
ele já era o quarto. E ficava com insinuações para cima de Guma, que evitava,
pois ela era amásia de Rufino, que era seu amigo. Guma no “Valente”
e mestre Manuel no “Viajante sem Porto” apostam corrida. Guma ganha.
Andando pela praia, Lívia e Maria Clara encontram duas ciganas, e uma delas disse
a Lívia que eles, ela e o marido, estavam passando por dificuldades, que as coisas
iriam melhorar, que Guma corria grande perigo. Já há um ser que se move dentro
de Lívia.

“Esmeralda” – Grávida,
Lívia procura Dr. Rodrigo, que ajudava as mulheres do cais e não se negava,
inclusive, a fazer anjos, pois era um favor para muitas daquelas mulheres que
passavam fome. Guma, ao saber que ia ser pai, avisou a todos, primeiro a Rufino,
e foi comemorar no Farol das Estrelas. Esmeralda falou a Guma que não tinha
topado ainda com um homem que lhe fizesse um filho. Não queria um filho de Rufino.
Ela era preta e queria melhorar a família. E mais uma vez, insinuou-se para
Guma. Lívia passou mal e quase abortou. Guma chamou Esmeralda e doutor Rodrigo
para ajudá-lo. Enquanto Lívia dorme, Guma, sozinho com Esmeralda, deita-se com
a amásia do seu melhor amigo. Depois, num momento de cólera, ameaça matá-la,
quando ouve os passos dos tios de Lívia que chegavam com o velho Francisco.
Lívia passava bem.

“Eram cinco meninos”
Após a melhora de Lívia, Guma viajou, fugindo das perseguições de Esmeralda
e tentando evitar Rufino, pois havia quebrado a lei do cais, traindo seu melhor
amigo. Sentia vergonha. Encontrou Rufino no mar com a canoa engolindo água,
parte da carga de açúcar perdida, que foi removida para o “Valente”.
Lívia e Esmeralda esperam os seus homens no cais. Somente Guma chega e, ao subir
a ladeira com Lívia, Esmeralda sente ciúme. Guma fugia dela. Leôncio, dado como
morto, irmão do velho Francisco e tio de Guma, chega misteriosamente. Todos
se assustam, principalmente o velho Francisco que pede que ele vá embora, mas
Lívia permite que ele fique por duas noites. Saiu para andar pelo porto e nunca
mais voltou. Guma tem receio de que Esmeralda conte a Rufino o seu relacionamento
com ele. Esmeralda tinha os seios pontudos, e Rufino estava enrabichado por
ela. Na viagem seguinte, Rufino perguntou a Guma se ele já tinha ouvido falar
de Esmeralda no cais. Vêem os destroços de três saveiros. Salvam a tripulação.
Eram cinco crianças que o pai esperava. Só sobrou uma.

“Água mansa” – Depois
do novo desaparecimento de Leôncio, velho Francisco pouco parava em casa, vivia
no cais, bebia no Farol das Estrelas, voltava sempre bêbedo. Rufino já desconfiava
de que Esmeralda andava enganando-o, de que era corno. Achou uma carta dela
endereçada a um marinheiro do “Miranda”. Num passeio de canoa, com
troca de acusações, Esmeralda, sabendo que ia morrer, conta em detalhes o seu
envolvimento com Guma, mas Rufino não acreditou. E ela ria. E foi rindo que
morreu. Rufino abriu a cabeça dela com o remo: matou-a e, depois, jogou-se no
mar para ser comido pelos tubarões. Morreu sem alegria. Só encontraram, depois,
pedaços dos cadáveres. Guma trabalhando no mar, Lívia achava cada vez mais que
a vida dele corria perigo. Os tios dela iam visitá-la, queriam que Guma deixasse
aquela vida do cais e fosse trabalhar na cidade alta.

“O Valente” – ” Valente” era o nome do saveiro
de Guma. Aqui, Jorge Amado destaca a volta de Chico Tristeza, um negro que fora
embora há muito tempo e, agora, voltava hercúleo, contando histórias. Trouxe um
xale de seda para a sua mãe que vendia cocada. A história que mais impressionou
a todos foi a da África. Ali, vida de negro era pior que vida de cachorro. Lá,
num descarregamento do Lloyd Brasileiro, os negros trabalhavam sob o chicote do
branco. Aí, um preto que era foguista do navio, de nome Bagé, viu um negro ser
chicoteado. Tomou o chicote das mãos do branco francês e, à frente de todos, deu-lhe
uma surra. Nunca ninguém tinha visto aquilo. Chico Tristeza foi embora. Seu navio
só demorou dois dias.

“O Filho” – O dr. Rodrigo foi chamado, pois Guma, no
acidente, ficou com um ferimento na cabeça, mas primeiro teve que atender Lívia.
Nasceu o filho de Guma. Ao invés de ficar alegre, Guma estava triste: seu filho
nasceu, e ele não tinha um saveiro. Com a ajuda do dr. Rodrigo, comprou de João
Caçula, para pagar em parcelas, o “Roncador”, que passou a chamar de
“Paquete Voador”.

“Toufick, o árabe” –
Nesse capítulo, aparece a figura do árabe Toufick, que chegou na terceira classe
de um navio e vivia em uma aldeia entre os desertos. Com sua mala de mascate,
sem conhecer direito a língua, já vendia sombrinhas, seda barata e bolsas às
empregadas e criadas da Bahia. Aos poucos, foi conhecendo a cidade; morava num
bairro árabe da Ladeira do Pelourinho. Por suas qualidades de comerciante, foi
trabalhar para F. Murad, o árabe mais rico da cidade, dono de uma casa de tecido
que tomava quase todo um quarteirão e contrabandista de seda.

“Contrabandista” –
Frederico, o filho de Guma e Lívia, já começava a andar, mas não queria saber
de brincar com trenzinho, ursinho ou palhaço. Preferia brincar com um barquinho
numa bacia de água, prenúncio de que teria o destino do pai. O “Roncador”,
comprado a prazo de João Caçula, havia-se transformado em “Paquete Voador”.
Guma devia a dr. Rodrigo, que não cobrava, mas João Caçula vivia no seu pé,
querendo que ele vendesse o barco para lhe pagar o que devia. Toufick propõe
a Guma que aceite transportar o contrabando de sedas, serviço feito por Xavier,
que o deixou na mão. Guma podia ganhar, de uma só vez, até quinhentos mil réis
e pagar o seu saveiro em dois ou três meses. Guma reluta, mas, por extrema necessidade,
aceita o serviço, recebendo cem mil réis de adiantamento. Na primeira viagem,
conhece Haddad, outro contrabandista, e F. Murad, o árabe mais rico da cidade.
Rodolfo e Lívia já desconfiavam de que Guma estava metido no negócio de contrabando,
até que ele, encurralado e sem argumentos, diz a ela que, quando acabasse de
pagar o “Paquete Voador”, deixaria aquela vida. Guma pagou o saveiro.
Tomou amizade ao árabe Toufick. A vida havia melhorado. Guma tinha duzentos
e cinqüenta mil réis em casa e estava livre de dívidas. Em breve, quando juntassem
um conto de réis, deixariam aquela vida para morar na cidade alta. Dariam um
destino melhor para o filho.

“Terras de Aiocá” –
Guma manda avisar a Rosa Palmeirão, nas terras do Norte, que o “neto”
dela já havia nascido. Lívia a recebeu como uma irmã. Guma, enfrentando um grande
temporal, numa das viagens de contrabando, com Toufick, Haddad e, desta vez,
com Antônio, jovem árabe e filho de F. Murad, naufraga com o “Paquete Voador”.
Os tubarões devoram Haddad, Guma salva Toufick e fica ouvindo os gritos e F.
Murad, na praia, pedindo pelo filho. Guma volta ao mar, pega o jovem que é jogado
na praia pela forte correnteza. Numa luta mortal com tubarões, Guma desaparece.
O vento joga o “Paquete Voador” na areia do porto.


A terceira parte da obra denomina-se Mar Morto e possui quatro capítulos.

“O mar é doce amigo” – No “Viajante sem Porto”,
mestre Manuel, dr. Rodrigo, o velho Francisco, Maneca, Maria Clara e Lívia chegam
ao local onde Guma desapareceu. O velho Francisco acende uma vela. Onde o pires
parasse, lá estaria o corpo. Era só mergulhar. Todas as tentativas foram em
vão. Guma desapareceu salvando dois, teve a morte mais heróica do cais.

“A noite é para o mar” –
Aqui, temos a volta da mãe de Guma, depois de vinte anos, velha e trôpega, meio
cega. Toufick agradece a Lívia por Guma ter salvado a vida dele e a de Antônio.
Murad, pai de Antônio, mandara uma certa quantia em dinheiro. Em certa estação
de rádio da Bahia, alguém pede às mulheres que rezem para encontrar o corpo
de uma marinheiro que morreu afogado. Lívia assume o comando do “Paquete
Voador”.

“Hora da noite” –
Lívia sente o peso da solidão. O seu homem estava longe, morto no mar. Outros
homens rondavam a sua porta. Para ela, a noite continua. A noite sem estrelas
do mar morto.

“Estrela” – A professora
Dulce olha da escola. Os saveiros saem. Lívia, bem frágil, e Rosa Palmeirão,
de navalha na saia e punhal no peito, seguem no veleiro. Rosa Palmeirão parece
um homem em cima do “Paquete Voador”. O velho Francisco, olhando para
o mar, vê Lívia em pé, no “Paquete Voador”. E grita para os outros
no cais: “- Vejam! Vejam! É Janaína.” Era a segunda vez que ele a
via. Segundo Jorge Amado, “assim contavam na beira do cais.”

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