Home EstudosLivros Confidência do itabirano (Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade

Confidência do itabirano (Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade

by Lucas Gomes

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro
belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por
causa de Itabira; mas, paradoxalmente: “A vontade de amor (…) vem de Itabira”;
vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação
de Drummond viver de “cabeça baixa” (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades,
o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.

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