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Os melhores contos, de Machado de Assis

by Lucas Gomes

Dizem os críticos que Machado de Assis era “urbano, aristocrata,
cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como
a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou
ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio,
como se não houvesse outro lugar. … A galeria de tipos e personagens
que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica.
… Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista,
quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico
e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso,
reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da
desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista),
fazem com que se afaste de seus contemporâneos.”

Esta obra, Os Melhores contos de Machado de Assis, é uma seleção
dos melhores contos do autor e corresponde ao que de melhor se escreveu no gênero,
em língua portuguesa. Maior escritor brasileiro, romancista cheio de
artes e artimanhas, mestre da dubiedade, dando a entender, muitas vezes, o contrário
do que quis dizer, conhecedor profundo da alma humana, o bruxo do Cosme Velho
encontrou no conto um esplêndido terreno para as suas bruxarias.

Em quase meio século de atividade no gênero, Machado deixou 205
contos, entre os quais dezenas de obras-primas, das melhores escritas em qualquer
época e país, que o colocam como uma espécie de pico solitário
da literatura universal.

Na obra, temos exemplos de narrativas em que a “atmosfera” do diálogo
é predominante e de narrativas em que o enredo, marcado pela causalidade,
define a arquitetura do conto. Os diversos narradores, ora em terceira pessoa,
ora protagonistas, ora participantes secundários, tendem, quase sempre,
a emitir opiniões e a se imiscuir no narrado. As personagens, mesmo as
de menor relevo na narrativa, têm sempre em si certa ambiguidade própria
do humano e que se constitui uma das características mais expressivas
da visão machadiana do mundo.

A atualidade das narrativas decorre, dentre outros fatores, da multissignificação
semântica que emerge do testemunho do escritor sobre a realidade do seu
tempo e que aborda o pathos do homem em todos os tempos. O autor consegue, através
da simulação do particular, atingir dimensões de universalidade:
suas personagens ultrapassam os próprios limites individuais, para se
converterem em metonímias do homem ocidental.

Dirigir-se eventualmente a um leitor hipotético, nomeando-o e qualificando-o,
é uma das estratégias dos narradores dos contos de Machado. A
técnica composicional dos contos tem correspondência com a complexidade
da alma humana que emerge das narrativas. Menções, alusões
e evocações de grandes autores da literatura universal permeiam
as narrativas, cujo cronotopo mais constante é o do Rio de Janeiro do
Século XIX.

No início de sua carreira, o escritor não deu muita importância
ao gênero. O primeiro conto, publicado aos 19 anos, chamava-se Três
Tesouros Perdidos
, e o segundo, O País das Quimeras
saiu três anos depois (em 1862).

O exercício constante e persistente do gênero só se realiza
após 1864. Convidado a colaborar no Jornal das Famílias, as suas
histórias agradam tanto as leitoras que cada número publica dois
ou três trabalhos seus, obrigando-o a utilizar diversos pseudônimos.

Os contos mais significativos de Machado de Assis, considerado por muitos um
dos mais importantes autores brasileiros, estão compilados nesta obra.

O pleno domínio do gênero coincide com a grande crise de sua vida,
no final da década de 1870, levando-o à descrença, ao pessimismo
e ao temor da loucura. É a época das Memórias Póstumas
de Brás Cubas
e dos contos de Papéis
Avulsos
(1882), marcados pela inquietação diante da condição
humana, amargos, irônicos, sarcásticos, críticos impiedosos
do bicho homem, cheios de situações ambíguas, quando nada
acontece, mas palpita uma riquíssima carga de humanidade.
Obras-primas do quilate de Missa
do Galo
, Uns
Braços
, Dona Benedita, Pai
contra mãe
, Cantiga
de Esponsais
, O
Alienista
e outros, onde a dificuldade é escolher o melhor do
que, por sua condição, já figura entre o melhor dos melhores.

Créditos: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul | Projeto
Releituras

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