Diferentemente de Caeiro, que busca a espontaneidade e a simplicidade natural,
Ricardo Reis procura o equilíbrio de uma forma inteligente. Nota-se,
também uma certa tristeza que acompanha o sentido do fluir da vida.
A vida é breve e a morte inevitável. Daí a necessidade
de conquistar a tranquilidade possível do instante. O futuro é
incerto. Só o presente é seguro e está ao alcance de cada
um. Ricardo Reis afirma a arte de viver, assente na prazer do instante. Por
isso, cada momento deve ser aproveitado, com tudo o que é natural: as
rosas, o amor, a bebida que sacia.
Portanto, a faceta clássica de Fernando Pessoa prega que a vida é
breve. E deve ser vivida, apenas. Pois, para além dela, não há
nada. É o diz no poema “Tão cedo passa tudo quanto passa!“:
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre!
Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E
cala. O mais é nada.
Embora o texto retome a tradição greco-latina, insere-se, cronologicamente,
no Modernismo.
No pema há um questionamento sobre o que fazer diante da passagem do
tempo, uma vez que tudo passa muito rápido e conhecemos tão pouco
da vida e nada da morte – “Tudo é tão pouco! Nada
se sabe, tudo se imagina”. A saída é circundar-se de
rosas, amar, beber e calar, ou seja, aproveitar do pouco que a vida oferece.
Termina, contudo, o poema afirmando que “O mais é nada”,
como se não houvesse esperança.
Ricardo Reis “escolhe”, por saber não ter escolha, eximir-se
de uma ação combativa frente à realidade, aceitando, assim,
o que lhe é imanente e buscando usufruir o que nela possa haver de um
bem qualquer. Percebe o movimento da vida através da fluidez perene dos
momentos e a isso não oferece embate. Aceita que somente o passar das
coisas é que se eterniza em sua constante ação de a tudo
nadificar, indicando a perecibilidade como destino inegável.
Sua lucidez perante essa ordem existencial não se imbui, no entanto,
de qualquer exasperação emocional assumida que demonstre o choque
ostensivo entre o sujeito e o mundo que lhe parece adverso. Reis orienta-se
na fria placidez, pretensa calma, de quem sabe ser inútil resistir ao
inexorável e, por isso, diante dele, opta pela atitude de impassibilidade
e de aceitação conformada. A tensão preponderante entre
a razão e a emoção, que se estabelece no universo da criação
heteronímica como força geradora das personalidades poéticas,
garantindo-lhes natureza específica, tende em Reis ao primado da razão.