Brasil: Terra à Vista!
, publicado em 2000, é uma aventura ilustrada do
Descobrimento do Brasil. Uma narrativa auxiliada por farta iconografia da época.
O autor Eduardo Bueno conta a história do descobrimento a partir da “visão da
proa” (os portugueses que chegavam) e “a visão da praia” (o ponto de vista dos
habitantes de Pindorama “a terra das palmeiras”). Segundo Eduardo Bueno, o dia
22 de abril seria celebrado como o “primeiro dia” do Novo Mundo e o “último dia”
de Pindorama, o paraíso perdido, a terra dos Tupi, Tupiniquim e outras grandes
nações indígenas.
A expedição de Pedro Álvares Cabral, a carta de Pero Vaz Caminha, o primeiro contato com os indígenas da
costa litorânea brasileira, a importância do legado de Bartolomeu Dias, Américo Vespúcio e Vasco da Gama
para esta empreitada, a relevância que o Brasil adquiriu para a coroa portuguesa após sua descoberta e
todo o contexto histórico do Descobrimento são abordados de modo atrativo nesta narrativa.
Seguro de que conhecer a História é uma viagem emocionante, o escritor e jornalista Eduardo Bueno domina
o leitor com uma prosa tão instigante quanto direta e informativa, destrinchando detalhes técnicos
como informações geográficas, de navegação, etc. e explicando causas e conexões que fizeram história,
mas que muitas vezes passam batido nos livros de história. Em Brasil: Terra à vista!, datas,
personagens e acontecimentos são humanizados, para que possamos nos colocar no lugar daquelas pessoas
que, no porto de Lisboa, entravam em um navio sem saber se retornariam: o autor perscruta a mente do
grumete que primeiro avistou a costa brasileira e pergunta-se o que passou na cabeça do indígena que
avisou aos seus companheiros da aproximação de uma fortaleza flutuante.
A leitura desse livro nos ajuda entender questões cruciais da nossa história, como por quê a busca por
especiarias orientais foi um móvel tão importante e a razão da supremacia portuguesa nos mares dos
séculos 15 e 16.
Todos os conteúdos, informações e iconografia do mundo na época do descobrimento do Brasil, assim como
suas causas e desdobramentos, estão em Brasil: Terra à Vista!. Um conjunto de mapas garante ao
leitor uma permanente referência dos grandes acontecimentos, viagens e da organização do mundo nos
séculos XV e XVI.
Brasil: Terra à Vista! possui a maior documentação já reunida em um mesmo livro sobre o
Descobrimento do Brasil. Uma dezena de mapas especialmente produzidos para este projeto, vinte
ilustrações de Edgar Vasques que fazem a reconstituição da época e mais de cem ilustrações,
infográficos, vinhetas e referências históricas.
Trecho do livro
A Visão da Proa
Foi como uma miragem em um deserto de águas salgadas. Após 44 dias entre o mar e o céu, o horizonte
deixou de ser uma linha longínqua na qual o azul-celeste imaculado encontrava o azul revolto de um
oceano sem fim.
No último ponto que os olhos podiam vislumbrar, erguia-se, agora, a silhueta verdejante de uma pequena
serra, pontilhada pelo cume de um monte “mui alto e redondo”. Em breve, o aroma das flores e dos frutos
não precisaria mais ser imaginado: seria sentido. Os homens acotovelaram-se na amurada das naus, com os
olhos postos de encontro ao céu crespuscular. A terra, enfim, estava à vista, como uma visão do paraíso.
Parecia miragem – mas era real.
Com as cores do entardecer tingindo a cena de dourado, os 12 navios da frota comandada por Pedro Álvares
Cabral prosseguiram seu avanço. Era 22 de abril de 1500, e a maior esquadra já enviada para singrar o
Atlântico encontrava-se a cerca de 60 quilômetros de uma costa desconhecida. Seria ilha ou terra firme?
Provavelmente ilha, julgaram os marujos mais experientes uma das tantas, reais ou lendárias, que
povoavam as imensidões do chamado de Mar Tenebroso. A frota avançou cautelosamente a uma média de 5
quilômetros por hora e lançou âncoras. Elas mergulharam 34 metros antes de se acomodarem nas claras
areias do fundo. Estava descoberto o Brasil. Um novo mundo amanhecia.
A Visão da Praia:
Foi como uma miragem bailando sobre as águas salgadas. Após uma seqüência infindável de dias iguais, o
horizonte já não era uma linha longínqua e vazia. No último ponto que os olhos podiam vislumbrar,
surgiam, agora, estranhas silhuetas. Pareciam montanhas flutuantes singrando o oceano.
Os homens acotovelaram-se à beira-mar, com os olhos postos de encontro ao céu matinal para vislumbrar a
mais espantosa novidade de suas vidas. Que tipo de canoas seriam aquelas, que pareciam ter asas, tão
brancas e tão amplas, e que avançavam junto com o sol? Trariam boas novas ou más notícias? Vinham em paz
ou prontas para a guerra? Parecia miragem mas era real.
Com as cores do amanhecer tingindo a cena de dourado, os 6 ou 7 homens que estavam na praia juntaram
seus arcos e flechas e se prepararam para um encontro com os desconhecidos. De onde viriam os recém-
chegados? De uma ilha ou de alguma terra além-mar? Vinham provavelmente da Terra Sem Males, julgaram os
mais experientes: o lugar onde todos eram felizes e ninguém morria, e que ficava para lá da imensidão
das águas salgadas.
Os nativos avançaram cautelosamente e, após alguma hesitação, depuseram as lanças. Elas acomodaram-se
nas claras areias da praia. Uma nova era estava se iniciando em Pindorama, a Terra das Palmeiras. Um
velho mundo estava prestes a desaparecer.