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A mensagem do Salmo, de Júlio Romão da Silva

by Lucas Gomes

A Mensagem do Salmo

, peça teatral, uma das mais importantes
obras de Júlio Romão da Silva, foi publicada pela primeira vez
em 1967. Inspirada no simbolismo das parábolas de Cristo, o autor remete
para o nosso tempo verdades eternas trazidas ao mundo há mais de dois
mil anos pelo esperado Rei dos Judeus.

Não é uma peça atrelada ao clássico teatro sacro.
O autor descola o texto e todo o aparato cênico, que o leitor percebe
pelos comentários de como deva ser o cenário e o comportamento
dos atores, e avança no jogo do sagrado e do profano, com reservas de
ironias leves, mas agudas pelas verdades humanas.

Aparentemente, é enorme pela quantidade de personagens que vivenciaram
passagens da vida de Jesus, mas, principalmente, a presença e participação
do povo, isto é, da gente simples e ignorante que não tinha dimensão
do Grande Salmo: Jesus. A própria vida, ou seja, a saga épica
do maior homem que já pisou o solo do planeta terra, e que andou menos
de quatrocentos e quilômetros e revolucionou o mundo.

A peça escrita está estruturada em um prólogo, vinte sequências
de cenas e um epílogo. No prólogo encontramos o anúncio
e toda a simbologia do nascimento do Menino Jesus, as vinte sequências
contêm as passagens mais contundentes da vida de Jesus, a partir do paralelismo
das pregações de João Batista, chamado pelo autor de Iokanan.
O confronto e a morte do mesmo na cena clássica da moça dançarina
(Salomé).

Os desvios de leitura do texto Bíblico e a escrita da peça revelam
intenções muito parecidas. A proximidade de intenções
morais, éticas, religiosas e filosóficas apontam para a frágil
e precária condições humana. Há momentos de forte
ironia quando das preparações para a prisão, interrogatório,
sofrimento e morte de Jesus. As reflexões irônicas são os
desvios de linguagem do autor, isto é, o processo de releitura (intertextualidade
metalingüística) coloca o leitor na cena como co-participante.

A força da linguagem no deslocamento da leitura Bíblica cria
o que se pode chamar de TEXTO-inter-TEXTO. O processo de recriação
metalingüística de A Mensagem do Salmo é uma reinterpretação
de toda linguagem usada para as cenas, desde João Batista ao último
momento, em que um leitor esteja se servindo das lições morais
da fala e do comportamento do Nazareno. A primeira fala de Jesus, O Esperado,
é mansa e atraente: “Entoai comigo a dileta canção
dos bemamados…”
.

A mensagem é todo o texto-inter-texto que contém o salmo: o
próprio Jesus, quando na última cena do epílogo, um figurante
aponta para o telão onde se encontra a imagem suprema de Jesus. A mensagem
é clara: a vida e a fala plena de retidão moral do Intercessor
entre o homem e Deus.

O estilo da peça revela o autor usando os recursos possíveis
de referenciais da natureza com palavras, ora brandas, ora agressivas; incisivas
e graves de advertências. As palavras de Jesus, que os evangelistas canônicos
conseguiram retransmitir para as gerações de toda a Terra, vêm
carregadas de sabedoria. Mas há momentos de severidade em meio à
brandura: Eu sou Jesus Cristo. Não lamentai por mim, antes chorais
por vós mesmas…
(fala de Jesus no final da peça).

Entende-se que o maior ator da peça é o próprio Jesus,
que a tudo assiste e lamenta a ignorância humana da vida espiritual. O
esforço dele para lapidar os atrasados e estúpidos para uma vida
sublime e suprema com ele, é o bem maior da sua passagem rápida
e amarga.

Jesus, O Esperado, assume dureza em gestos e palavras, quando da rápida
fase da maturidade para a morte: “Víboras! Carniceiros! As
aves de rapina escondem-se do sol. Os colibris despertam com as auroras. Hipócritas!
Não pode o corujar dos abutres acompanhar o madrigal dos canários,
nem o choco chocalhar da cascavel afinar com o cantar matinal das cotovias!”

(IV Seqüência, quando do encontro com o rico fariseu).

A fala de Caifás é, além de agressiva, ideológica.
Afinal, Jesus é uma ameaça à classe mais privilegiada do
poder religioso: “Ele é um bruxo. Além do mais subverte
os costumes e ilude as criaturas ingênuas, para corrompê-las […]

. É o melhor momento em que a linguagem assume o veículo ideológico
do choque de poderes: de um lado Caifás defendendo sua classe e a serviços
dos romanos, de outro o poder sublime de Jesus Cristo.

O medo do rei-governante, Antipas (encolhido no trono, acovardado) é
convertido simbolicamente no sangue-vinho, quando da fala da personagem “um
vulto feminino” (que corta a cena em fundo sombrio): “Os deuses
têm fome de carne e têm sede de sangue!” .
Antipas responde:
“ Sangue? Não!!! Trazei-me vinho!“.

Todos têm muito medo da figura revolucionária e majestosa de
Jesus Cristo. O maior acontecimento da Terra foi a passagem dele: mudanças
lentas, mas radicais para algo melhor e diferente foram percebidas pelas inteligências
de um Caifás, um Anás, um Antipas, um Pilatos, e todos que têm
comportamento semelhante.

O poder não é de armas e soldados, mas de palavras que provocam
o medo e mudanças. A sentença “Passarão o céu
e a terra, mas minhas palavras não passarão
” é
algo irrevogável para o tempo e contexto que foram proferidas. Assim,
a peça é feita de mensagens na construção da mensagem-núcleo:
a sabedoria contra a arrogância do ignorante e inconsciente.

O maior inimigo do homem é a ignorância (o mal) que, inexoravelmente,
é vencida pela sabedoria (o bem). O salmo da peça é um
cântico poético lírico-épico-trágico da vida,
morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele é o antídoto
contra todos os vícios e males.

Créditos: Prof. Jorge Alberto, Colégio Procampus

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