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Alexandre Dumas Filho

by Lucas Gomes


Alexandre Dumas Filho, escritor francês, nascido em Paris, começou escrevendo
novelas e terminou por dedicar-se exclusivamente ao teatro, tendo apresentado
obras habilmente arquitetadas, que têm freqüentemente uma finalidade moralizadora,
como
A Dama das Camélias
, Meio Mundo e outras (1824-1895).

Dama das Camélias, esse livro que teve a virtude de fazer chorar várias
gerações, resiste aos embates do tempo porque se inspirou num fato real protagonizado
por seu autor.

Alexandre Dumas (filho) sofreu em vida por algo de que não era responsável.
Seu pai,o lido novelista dos Três
Mosqueteiros
e tantas obras que inundaram o mundo em edições sucessivas,
levou uma vida bastante livre e, fruto de uma de suas aventuras amorosas, nasceu
um filho a quem reconheceu, devendo ocultar, por causa do seu estado civil,
o nome da mãe.

A circunstância de ser filho natural do grande escritor, fez com que Alexandre
Dumas suportasse, durante a vida inteira, uma espécie de humilhação espiritual
que o impeliu a reagir contra os costumes e a ordem da burguesia.

Era orgulhoso, afoito, brilhante na conversa e com freqüência, violento. Em
plena juventude vivia dissipadamente sem ligar ao escândalo, exatamente o escândalo
de que provinha.

Aos 25 anos sentia-se meio dono do mundo ou pelo menos de Paris. Não era sem
motivo que o nome de seu avô, o general Dumas, estava inscrito no Arco do Triunfo.
Fizera algumas tentativas literárias que de tais não passaram, mas até o momento
era sua maior ocupação perseguir as mulheres cujo interesse não tardava em despertar,
pelo seu físico privilegiado e os olhos intensamente negros.

Era muito parecido com o pai, sobretudo na corpulência, diferençando-se pela
cor da pele. Com efeito, o autor de Vinte Anos Depois tinha tez escura,
ao passo que o filho ostentava um rosto suavemente pálido, de ligeira tonalidade
fosca.

Corria o ano de 1844. O teatro de “Variétés” oferecia seus números de pouca
seriedade, como sempre, aos que desejassem entrar no seu recinto, principalmente
depois de meia-noite.

Dumas chegou ao teatro em companhia de alguns amigos dispostos a festejar a
habilidade dos cômicos. No entanto, apenas entrou, o cenário se lhe tornou coisa
secundaria. Ficara extasiado na contemplação de uma mulher que ocupava um dos
camarotes do proscênio.

Aproximando-se de um dos seus companheiros, disse:

-“Pierre, sabes quem é aquela mulher?”

-“Qual?”


-“A do camarote. Aquela que ostenta uma camélia no peito.”


-“Como não conhecê-la, se toda Paris lhe sabe o nome!”


-“Então, falaremos depois; por enquanto continuarei a recrear meus olhos.”

A dama das camélias

Durante o tempo que faltava para concluir a sessão, Dumas não apartou os olhos
da jovem. Chamava-lhe a atenção o perfil gracioso, quase aéreo, que a dava a
impressão de extrema fragilidade. Dir-se-ia que para acariciá-lo seria necessário
possuir mãos de espuma. Alem disso, seus olhos, dramaticamente negros, brilhavam
com um toque febril anunciador da paixão.

O conjunto de delicadeza celestial e assomos de ardor teve o poder de cativar
Alexandre. E assim foi que, pouco tempo mais tarde, num desses cafés da madrugada,
tão propícios a confidencias, os noctâmbulos se ocupavam com a dama das camélias.

-“Chama-se Maria Duplessis” – indicou um deles.

-“Dizem que foi trazida a Paris por um irlandês, que evidentemente entendia
de mulheres.”


-“Mas que poderia fazer para vê-la” – perguntou Dumas, cada vez mais interessado
na pessoa de Maria.

Um homem jovem, de vasta cabeleira e suíças alentadas, pálido e de olheiras,
aproximou o rosto da mesa e disse:

-“Por cem francos, soma que preciso para comprar tela, pincéis e tintas,
eu lhe darei a chave.”

Todos riram. Dumas tirou a carteira, nutrida com generosidade pelo pai, e apresentou
a soma requerida. Depois, o pintor explanou:

-“Se às seis da tarde deres um passeio pelo “Bois de Boulogne”, poderás vê-la.
Seu coche é um dos mais formosos. E parece que ela teve um pequeno capricho.
Está forrado de cetim vermelho, cor de sangue.”

Alexandre não precisou de mais dados para tentar a conquista. Nem mais estrondoso
pôde ser o êxito que obteve. Pouco tempo depois, Maria Duplessis mudava de apartamento
e deixava os passeios de coche pelas douradas alamedas do bosque aristocrático.

Dumas a envolvera com sua paixão. Era cruel, ardente, contraditório, terno e
injusto. Maria ficara maravilhada em face daquele homem que tinha do amor uma
concepção absoluta e ardente. Assim é que, nos primeiros tempos da união, foi
imensamente feliz e, eis o mais estranho, se enamorou de Dumas.

Mãos de jardineira

Entretanto, algo lhe faltava em companhia de Dumas. Maria Duplessis provinha
dos obscuros ateliês de costura, das lojas de fruta, e das rudes labutas do
campo. Percorria na vida um caminho áspero, intransitado, estreito, em busca
de alguma coisa que lhe vivia misteriosamente no sangue: ânsia de luxo, jóias,
brilho, luzes deslumbrantes.

Não amava o dinheiro por si mesmo, e sim, nos seus efeitos, quando manejado
prodigamente. E sua beleza era tanta, que varias fortunas cambalearam entre
suas finas mãos de virgem ou floricultora.

Dumas, porem, não lhe podia dar o que procurava. Daí nasceram o drama e o conflito.
Certo dia, chegou o jovem ao apartamento de Maria mais cedo que de costume e
encontrou sobre o toucador um custoso anel de brilhantes que acabava de chegar
num estojo envolto em papel de luxo.

-“Quem te mandou esse presente?”

-“Ninguém.”


-“Era meu. Emprestei a uma amiga e é natural que mo devolvesse.”

Um dia foi o anel: noutro, um ramo de flores; noutra ocasião, uma entrada de
camarote para a Opera…

Alexandre se revolvia, furiosamente, num mundo de suspeitas. Ah! Se soubesse
com certeza que Maria o enganava!

Começaram as discussões, que geralmente se resolviam com beijos apaixonados,
juramentos, ameaças e caricias. Os dois entraram a viver neste clima instável
dos ciúmes: ela, procurando manter seu amor e sua vida de esplendor, mesmo à
custa de infidelidades, e Dumas tentando afogar aquela paixão que o humilhava.

A tempestade durou um ano, tempestade de amor em que o respeito sucumbiu esmigalhado
ante a ânsia de posse absoluta que animava Alexandre.

Por outra parte, Maria, em sua insaciável sede de luxo, prodigalizava-se de
maneira perigosa demais para a saúde. Nervosa, sem dormir, as entrevistas com
os amigos, as rixas, as efusões amorosas a que se entregava, acabaram por lhe
minar o organismo.

O manancial da dor

Nesse ínterim, as coisas tinham chegado ao extremo. E, certa noite, a mais triste
e dolorosa de todas, Alexandre Dumas foi visitá-la com uma decisão tomada:

-“Vim me despedir, Maria!”

Ela o encarou como se não pudesse acreditar, como se o fio de ouro que os ligava
não se pudesse romper jamais. Naquele ano de tempestades, tinha-se acostumado
a considerá-lo como seu, como essência de sua vida.

-“Não poderás dizer que me retirei ignobilmente. Faz tempo que venho lutando
contra tuas leviandades e resolvi partir para a Espanha, a fim de não te ver
mais.”


-“Não, Alexandre! Não deves partir, e muito menos agora!”


-“Inúteis, choros e suplicas. Antes, pudeste prever as conseqüências de tua
infidelidade.”


-“Amo-te Alexandre e, alem disso, estou doente. Se me abandonares morrei.”

Ele não lhe quis prestar ouvidos. Cego pelo ciúmes, as palavras de Maria Duplessis
não conseguiram comovê-lo. Partiu para a Espanha em procura do esquecimento
e ela ficou desolada, desesperada, tentando afogar na dissipação e no desenfreamento
sua recordação inconsolável.

Por varias vezes foi ver amigos à procura de um endereço. Suas cartas, porem,
não obtiveram resposta. Chegou a pensar numa viagem à Espanha, de que teve de
desistir em virtude do progresso continuo de sua enfermidade.

Todos os caminhos começaram a fechar-se diante dela. Tinha, então, 22 anos apenas.
Nessas circunstancias, aquiesceu em casar-se com o conde de Perragaux, cedendo
ao deslumbramento do titulo nobiliário. Mas, de Alexandre, nem a menor noticia.
E, dentro do coração, aumentada pela distancia e o tempo, a angustia minava
sem cessar a ponto de lhe tornar amargos os lábios outrora apetecíveis.

Na decadência, perdeu tudo. E assim, aquela que nos tempos de esplendor havia
brincado com a honra e fortuna dos homens, encontrou-se isolada, abandonada
pelo próprio esposo, estragada pela tísica e sem nem sequer ter noticias do
homem que se achava alem dos Pirineus.

As ultimas jóias foram examinadas com desconfiança num monte socorro e com o
pouco que decidiram dar-lhe, Maria Duplessis conseguiu o necessário para comprar
os últimos remédios.

Desenlace

E o pior de tudo era que aquela criatura débil, indefesa, se sentia aterrorizada
ante a idéia da morte e se aferrava às recordações de sua vida fácil, como se
não passassem de trágica mentira os indícios de seu desaparecimento.

O ultimo que lhe conseguiu arrebatar a morte foi sua beleza, aquela beleza irreal,
transparente.

Dizem que o seu féretro percorreu o ultimo caminho escoltado por um cortejo
de homens notáveis. O ataúde estava coberto de camélias, a flor que lhe foi
como um símbolo na agitada existência.

Dumas não chegou em tempo de despedir-se dela, e os que a assistiram nos últimos
instantes afirmaram que Maria se extinguiu com o nome de Dumas nos lábios.

Quando o jovem chegou apressadamente a Paris, já era tarde. Só por terceiros
conseguiu inteirar-se da vida que Maria tinha levado em sua ausência. Teve testemunhas
de seu carinho inquebrantável até o momento derradeiro e então, dominado pelo
remorso, Pôs-se a escrever, febrilmente, o seu livro: “A Dama das Camélias”,
em que reivindica a memória de Maria Duplessis sob o nome de Margarida Gauthier.

O êxito desta obra, que abrangeu a novela, o teatro e mais tarde o cinema; o
êxito desta obra que as gerações têm lido enternecidas, funda-se justamente
no fato de que, por trás do nome fictício de Margarida Gauthier, vive o espírito
de Maria Duplessis, a cortesã devorada pela áurea sede do luxo e que, no fundo,
não passava de uma criatura desprevenida, débil e carinhosa.

Conheça
a história do Teatro

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