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Anita Malfatti

by Lucas Gomes

Nasceu
em 1889, em São Paulo. Logo pequena teve contato com a arte, pois, sua mãe era
professora de pintura. Incentivada pela família foi, em 1910, para a Alemanha,
onde freqüentou, por três anos, a Academia Real de Berlim. Estudou gravura,
desenho e pintura, além de conhecer os principais mestres do expressionismo
alemão.

De volta ao Brasil, em 1914, realizou sua primeira exposição individual. Foi
a seguir para Nova York estudar na Independent School of Art, experiência marcante
em sua obra. Teve contato com artistas e intelectuais. Anita iniciou uma obra
de tendência claramente expressionista, longe dos padrões acadêmicos vigentes
até então no Brasil. Sua exposição em 1917, em São Paulo, recebeu crítica ferrenha
de Monteiro Lobato.

Anita é considerada precursora do modernismo nas artes plásticas brasileiras.
As obras A Boba e Torso fazem parte dos trabalhos expostos em 1917, considerados
o clímax de sua produção. Com bolsa do governo de São Paulo foi para Paris,
em 1923, onde conviveu com Brecheret, Di Cavalcanti, além de pintores europeus.
Ao retornar, em 1928, organizou várias mostras de arte e deu aulas de pintura.
Em 1937 integrou-se à Família Artística Paulista. Foi diretora do Sindicato
de Artistas Plásticos. Depois da Segunda Guerra, seu trabalho tornou-se mais
espontâneo do que intelectual, com uma carga maior de fantasia.

Participou das I e VII Bienais de São Paulo. Morreu em 1964, em São Paulo.

Anita Malfatti inicia, bem jovem, o aprendizado em artes com a mãe,
Bety Malfatti (1866 – 1952). Aos 20 anos, procura aperfeiçoar seus estudos
na Europa. Graças à ajuda financeira de seu tio o engenheiro-arquiteto
George Krug (1869 – 1919), consegue mudar-se para Alemanha e ingressar na Academia
Imperial de Belas Artes de Berlim. Nessa cidade a artista ganha familiaridade
com as coleções dos museus e das galerias. A Alemanha, em 1910,
vive uma efervescência do expressionismo, que mobiliza a produção
nacional e o debate em torno dela.

No primeiro ano, Anita toma contato com toda a agitação modernista,
visitando as exposições com grande curiosidade, mas seus estudos
são ainda bastante tradicionais. Na academia ela tem aulas de desenho,
perspectiva e história da arte. O interesse pelas novas linguagens se
amplia nas aulas particulares que tem com o professor Fritz Burger-Mühlfeld
(1867 – 1927). Este artista, ligado ao pós-impressionismo alemão,
lhe oferece possibilidades artísticas além das abordagens tradicionais.
A presença do modernismo em sua formação é acentuada
nos cursos com Lovis Corinth (1858 – 1925) e Ernst Bischoff-Culm. Em 1912, ao
visitar a grande retrospectiva de arte moderna Sonderbund em Colônia,
Anita já se familiarizara com a produção moderna. Nos retratos
pintados pela artista no período transparecem o aprendizado das novas
poéticas. O contorno clássico prevalece, mas as cores são
usadas de modo expressivo, demonstram uma movimentação maior e
mais contrastada que a do desenho. Embora não entrem em conflito com
as formas, é perceptível que os elementos operam em dinâmicas
distintas. Anita expõe esses quadros em sua primeira individual, em 1914,
depois de retornar a São Paulo.

Em 1915, a artista parte para mais um período de estudos, desta vez
nos Estados Unidos, onde tem aulas com Homer Boss (1882 – 1956) na Independent
School of Art. A convivência com este professor americano e com o clima
vanguardista da escola irá levar adiante o desenvolvimento da liberdade
moderna cultivada na Alemanha. É aí que ela realiza seus trabalhos
mais conhecidos, como O Farol (1915), Torso/Ritmo (1915/1916) e O Homem Amarelo
(1915/1916). Nesses quadros, o desenho perde o compromisso com a verossimilhança
clássica e ganha sentido mais interpretativo. Por vezes, o contorno grosso
e sinuoso apresenta as figuras como uma massa pesada e volumosa. Em outros trabalhos,
com o traço mais fechado, a cor é aplainada e compõe retratos
e paisagens livres, pela articulação de superfícies em
cores contrastantes.

No Brasil, em 1917, a artista associa essa liberdade de compor com formas à
crítica nacionalista aos modelos importados de representação.
Pinturas como Tropical (1917), originalmente intitulada Negra Baiana, e Caboclinha
(1907) fazem parte desse esforço. Todas essas pinturas são reunidas
em sua segunda individual: Exposição de Arte Moderna, em dezembro
de 1917. A mostra tem repercussões decisivas para o seu trabalho. As
reações são diversas. Se por um lado a exposição
anima uma aproximação dos artistas e intelectuais que, mais tarde,
realizariam em São Paulo a Semana de Arte Moderna de 1922, por outro
ela vira alvo de uma reação violenta às linguagens modernas.
As posições contrárias às vanguardas de origem européia,
que têm como maior expoente Monteiro Lobato (1882 – 1948), consideram
a exposição um desperdício do talento de Anita, que se
entregava a estrangeirismos deslumbrados e mistificadores.

Tal reação, para alguns, irá abalar a confiança
da artista, causando impacto violento em sua carreira; para outros, Anita já
vinha oscilando esquemas formais mais realistas e soluções mais
próximas do modernismo internacional. Depois da exposição
de 1917, ela se aproxima da linguagem tradicional e faz aulas com o acadêmico
Pedro Alexandrino (1856 – 1942). Seus trabalhos também se tornam mais
realistas. Encorajada pelo grupo que iria realizar a Semana de Arte Moderna,
como Menotti Del Pichia (1892 – 1988), Oswald de Andrade (1890 – 1954) e Mário
de Andrade (1893 – 1945), Anita, por volta de 1921, interessa-se novamente pelas
linguagens de vanguarda. Na Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922,
a artista expõe novamente as telas mostradas em 1917 junto com novos
trabalhos modernistas, sendo considerada por Sérgio Milliet (1898 – 1966)
a maior artista da exposição.

Em 1923, Anita conquista finalmente a bolsa do Pensionato Artístico
do Estado – que não havia conseguido com a exposição de
1914 – e segue para Paris, onde permanece por cinco anos. Em sua estada, ela
toma distância de posições polêmicas da vanguarda.
Pinta cenas de interiores como Interior de Mônaco e La Rentrée,
e se aproxima do fauvismo e da simplicidade da pintura primitiva. A artista
não nega o modernismo, mas evita o que ele tem de ruptura. Ao voltar
para o Brasil, em 1928, interessa-se por temas regionalistas e se volta às
formas tradicionais, como a pintura renascentista e a arte naïf.

O interesse por uma pintura mais fluente e descompromissada aproxima Anita
do grupo de pintores da Família Artística Paulista – FAP. Ela
se identifica com a busca de uma pintura espontânea e bem-feita, não
presa a modelos consagrados nem perdida no desejo de inovação.
Dos anos 40 em diante, a artista passa a pintar, cada vez mais, cenas da vida
popular. Nos anos 50, o popular não é só tema, mas também
passa a ser incorporado nas formas, influenciado pela arte não culta.
Em 1963, um ano antes de falecer, realiza uma individual na Casa do Artista
Plástico e ganha uma retrospectiva de seu trabalho na 7ª Bienal
Internacional de São Paulo. É a última homenagem que recebe
em vida.

Fontes: USP | Enciclopédia Itaú Cultural

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as obras do artista

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