Home EstudosLivros Auto da Barca da Glória, de Gil Vicente

Auto da Barca da Glória, de Gil Vicente

by Lucas Gomes

O Auto da Barca da Glória, pertencente à Trilogia das Barcas juntamente
com Auto
da Barca do Inferno
e Auto da Barca do Purgatório. Foi escrito
por Gil Vicente em 1519, inspirado na Divina
comédia
, de Dante.

Da mesma forma que os outros dois autos, o Auto da Barca da Glória se debruça
sobre a temática do julgamento das almas após a morte, com a representação alegórica
de duas barcas que conduzem os mortos ao Paraíso ou ao Inferno, segundo os seus
comportamentos em vida.

O Auto da Barca da Glória teve a sua estréia no ano de 1519 em Almeirim
para D. Manuel I. Além dos Diabos e Anjos, este auto conta com a presença da Morte
que vai trazendo consigo os remadores celestiais por ordem hierárquica ascendente
de nobreza (o Conde, o Duque, o Rei e o Imperador) e eclesiástica (o Bispo, o
Arcebispo, o Cardeal e por fim o Papa). O diabo a todos faz acusações e estão
na eminência da condenação, mas Cristo a todos salva. Encontram-se referências
ao Livro de Jó, da Bíblia. Alguns autores admitem que a comédia moral de Lope
de Vega, Viagem da Alma tenha sido inspirada por este auto. Auto, como
os demais da Trilogia, mostra o clero, devasso e descuidado do cumprimento dos
seus deveres religiosos.

O texto seguinte é apenas um simples resumo do auto original.

Cena I – v. 1 a 147

O Diabo pergunta à Morte porque que é que esta só lhe traz gente humilde e simples,
“os ricos e honrados não aparecem!”. Entra, então, a primeira personagem, um conde
próspero. O Diabo acusa-o de ter gozado bem a vida. Apesar de denunciar todos
os vícios do Conde, este está predestinado a ser absolvido, como todas as outras
personagens, pois pertence à classe dos mais altos dignatários das instituições
civis e eclesiásticas.

Cena II – v. 148 a 240

A personagem seguinte é um Duque que foi severamente acusado pelo Diabo. Por muita
cortesia que esta personagem exija, ela terá que entrar na Barca do Diabo. A daymara
também.

Cena III – v. 241 a 328

Segue-se o Rei, que também irá prosseguir para o Inferno, uma vez que pecou, não
respeitando os humildes:

Porque fostes adorado

sem pensar que éreis da terra,
como os grandes mui irado,
dos pequenos descuidado.

Cena IV – v. 329 a 408

Entra o Imperador que, ao vangloriar-se dos seus feitos, nada heróicos, é conduzido
à Barca do Inferno. Em vida foi cruel e extravagante.

Cena V – v. 409 a 529

Começa a entrar a classe eclesiástica, sendo a primeira personagem o Bispo. Este
vem muito cansado e dirige-se à Barca do Inferno para descansar. Apesar de acreditar
em Cristo, levou uma vida de pecado.

Cena VI – v. 530 a 629
Entra o Arcebispo, que em vida tratara mal os pobres e desamparados, explorando-os
monetariamente. É, por isso, enviado para o Barca do Inferno.

Cena VII – v. 630 a 706

Entra o Cardeal, que não é perdoado pelo Diabo, que o chama de “Vossa Pertinência”.

Cena VIII – v. 707 a 816

A última personagem a entrar é o Papa, que pecou por usar da luxúria e da soberba.
Os remorsos de nada lhe servem para se salvar do seu destino: as chamas ardentes.

Posts Relacionados